Rolando Boldrin (São Joaquim da Barra, São Paulo, 1936 - São Paulo, São Paulo, 2022). Compositor, cantor, instrumentista, apresentador, ator, escritor. Rolando Boldrin transita entre diferentes suportes e papéis, tendo a divulgação da cultura caipira como frente de grande importância em sua atuação.

Aprende a tocar viola aos 7 anos. Cinco anos depois, forma com seu irmão a dupla Boy e Formiga e se apresenta em um programa de auditório numa rádio local. Ainda em São Joaquim, atua em palcos como o do Cine Teatro Santana. Incentivado pelo pai, aos 16 anos, muda-se para São Paulo e exerce várias ocupações, como sapateiro, frentista, carregador e garçom, até ingressar na TV Tupi, em 1958, onde atua, declama, compõe e escreve. Estreia como cantor em disco com o bolero "Um Cantinho pra Dois" (1963), em parceria com sua esposa, a cantora Lurdinha Pereira, que grava as composições de Boldrin "Papéis Velhos", em parceria com Geraldo Vietri (1927-1996), em 1961, e o bolero "Meu Coração É Meu Juiz", com Léo Romano, no ano seguinte. Sai da TV Tupi, em 1966 e estreia como ator no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), na peça Os Inimigos (1966), com direção de Zé Celso Martinez Corrêa (1937). 

No Teatro de Arena, integra o elenco da peça Roda Cor de Roda, de 1975, dirigido por Antonio Abujamra (1932-2015). Pelo filme Doramundo (1978), de João Batista de Andrade (1939), recebe o prêmio de melhor ator da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1978. Ao longo dos anos 1980, além de cantar músicas de inspiração rural e contar causos caipiras nos palcos de teatro, grava uma série de LPs e CDs com toadas, cateretês e modas de viola. A facilidade com que Boldrin canta, declama, conta casos com sotaque característico do interior paulista está ligada à sua carreira versátil, inaugurada na TV Tupi, neste sentido, a pesquisadora Rosa Nepomuceno credita essa versatilidade aos cordelistas do interior paulista e a Cornélio Pires (1884-1958), a quem Boldrin assiste e ouve quando criança em sua cidade natal e se influencia pela militância na causa caipira.

Os programas que ele apresenta à partir de 1981 são a síntese de sua carreira. Eles têm um papel importante na preservação e divulgação de músicas de caráter interiorano, no contexto do aumento da influência de gêneros internacionais no Brasil e da divulgação do pop-sertanejo. Além disso, são responsáveis pelo reaparecimento de músicos veteranos, como Alvarenga (1912-1978), esquecido pelo mercado musical nos anos 1980. O programa Som Brasil, da Tv Globo, que apresenta entre 1981 e 1984, surge como uma alternativa à música estrangeira e revela à TV Globo uma fatia do mercado musical que é intensamente explorada nas décadas seguintes. 

Enquanto compositor, estabelece parcerias com colegas de música e de cena, como Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) com "Bola na Rede" (1974), que ambos gravam com a participação da atriz Eva Wilma (1933-2021); e Tom Zé (1936) e Svaniek, com "Moda do Fim do Mundo" (1993). Como intérprete consta em sua discografia músicas de importantes compositores de música caipira como Raul Torres (1906-1970) e João Pacífico (1909-1998), de quem grava "Chico Mulato", Laureano, com sua famosa Moda da Pinga, imortalizada na voz de Inezita Barroso (1925-2015) e Jararaca e Ratinho, autores de "O Sapo no Saco".

O seu baião “Vide Vida Marvada” (1981), música-tema de seus programas, é sua principal marca na memória brasileira. Além dessa música, outras composições demonstram a simplicidade da canção regional com violas e duo de vozes, como “Amor de Violeiro” gravado pela dupla Pena Branca e Xavantinho, em 1990.

Em 1993, recebe o Prêmio Sharp pelo LP Disco da Moda. No final da mesma década, No final da mesma década, recebe o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília de 1999, pelo filme O Tronco, de João Batista de Andrade.

Entre outras experiências como apresentador, Rolando Boldrin transita por diferentes emissoras como em Empório Brasileiro (TV Bandeirantes), Empório Brasil (SBT) e Estação Brasil (CNT/PR). Em 2005, passa a apresentar o programa Sr. Brasil, da TV Cultura, que repete a fórmula de sua experiência anterior na TV Globo, reunindo artistas que primam mais pelo caráter tradicional e regional do que pelas novidades do mercado. Apesar da marca caipira, Sr. Brasil recebe material gravado de todo o país e, portanto, de gêneros variados e convida os artistas a participar do programa, creditando devidamente sua cidade de origem e o nome do autor da música apresentada. com o programa, recebe o Prêmio APCA de melhor programa de televisão em 2005. 

Segue como compositor, sendo gravado por cantores de diferentes gerações como Renato Teixeira (1945), que grava “Tempo das Aves” (2005) e Zeca Baleiro (1966), com “Onde Anda Iolanda”, em seu disco Lado Z, em 2007.

Artista versátil, Rolando Boldrin dedica-se durante a vida à arte em diferentes atuações como o cinema e o teatro, mas é na televisão e na música, que ele ganha visibilidade como um grande incentivador e divulgador da cultura caipira, especialmente paulista.