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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

João Batista de Andrade

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.03.2022
01.12.1939 Brasil / Minas Gerais / Ituiutaba
João Batista de Andrade (Ituiutaba, Minas Gerais, 1939). Cineasta, jornalista e escritor. Em sua carreira, conjuga militância política, direção de filmes sobre questões político-sociais do Brasil e participação ativa na política cultural do país. Nos documentários, desenvolve uma linguagem que dialoga de modo crítico com os acontecimentos da atu...

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João Batista de Andrade (Ituiutaba, Minas Gerais, 1939). Cineasta, jornalista e escritor. Em sua carreira, conjuga militância política, direção de filmes sobre questões político-sociais do Brasil e participação ativa na política cultural do país. Nos documentários, desenvolve uma linguagem que dialoga de modo crítico com os acontecimentos da atualidade e, nas ficções, desafia as fronteiras entre realidade e invenção.

Nascido em Minas Gerais, muda-se para São Paulo em 1959 e ingressa na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), mas não chega a concluir o curso de engenharia. Entre 1960 e 1961, presta serviço militar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo. Retorna à faculdade e produz na república onde reside o Jornal da Casa do Politécnico, jornal literário para o qual escreve contos.

Em 1963, inicia a carreira cinematográfica no Grupo Kuatro, ao lado dos cineastas Francisco Ramalho Jr. (1940), José Américo Vianna e Clóvis Bueno (1940-2015). O grupo filma, sem finalizar, os documentários Catadores de Lixo e TPN: Teatro Popular Nacional. Depois do golpe militar de 1964, recebe convite do escritor e cineasta Rudá de Andrade (1930-2009) para trabalhar na Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade apoiadora da Cinemateca Brasileira, onde passa a exercer a função de programador.

Em 1967, dirige o curta-metragem Liberdade de Imprensa, patrocinado pelo jornal Amanhã, ligado ao movimento universitário. O filme evidencia os interesses por trás da Lei de Imprensa instituída no Brasil em 1967. Por mostrar a equipe de filmagem em ação, o crítico Jean-Claude Bernardet (1936) classifica o filme como exemplo de documentário “de intervenção”, que capta a realidade não como fetiche, mas como resultado da presença e, portanto, da mediação do cineasta diante do real. Apenas duas exibições fechadas do filme são realizadas antes de sua proibição pela censura.

Gamal, o Delírio do Sexo (1968), filme de baixo orçamento, rende ao diretor a identificação – por ele recusada – com o Cinema Marginal. Embora seja uma obra de ficção, estão presentes no filme a interação com a cidade, seus habitantes e o período vivido pelo país. Em meio à narrativa anárquica e desorganizada, discute-se de forma alegórica a repressão política imposta pela ditadura militar (1964-1985)1.

Entre 1972 e 1974, trabalha no telejornal Hora da Notícia, da TV Cultura, criado pelos jornalistas Fernando Pacheco Jordão (1937-2017) e Vladimir Herzog (1937-1975). O programa retrata de modo crítico o drama social brasileiro, destacando-se da adesão de outros telejornais ao discurso oficial.

Entre 1975 e 1979, João Batista trabalha no programa Globo Repórter. Na emissora, dirige, em 1978, o documentário Wilsinho Galiléia. No filme, o diretor conta a história de vida do criminoso Wilsinho Galiléia até sua execução pela polícia aos 18 anos, mesclando imagens reais e dramatizações. O documentário é censurado antes de ser exibido.

Nos anos seguintes, realiza os premiados longas-metragens Doramundo (1977), O Homem que Virou Suco (1981) e A Próxima Vítima (1983). Os três filmes abordam histórias de violência envolvendo personagens das classes trabalhadoras e consolidam a linguagem própria do cineasta ao transitar entre as fronteiras da ficção e do documentário, com forte referência às reportagens jornalísticas.

Em Doramundo, a história ficcional é inspirada em fatos reais ocorridos durante o Estado Novo (1937-1945), com uma narração em voz off que confere ao filme o contorno de um programa televisivo para aproximar-se do espectador. Em O Homem que Virou Suco, os personagens se parecem com atores sociais na São Paulo da década de 1980. Em A Próxima Vítima, conta a história do assassinato de prostitutas no bairro paulistano do Brás, mesclando linguagem cinematográfica e reportagens televisivas. Nesse filme, o diretor documenta a cidade, seus personagens e dramatiza o clima das eleições para governador de São Paulo em 1982.

Em 1999, seu filme O Tronco conquista o prêmio de melhor filme oferecido pela comissão das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil no Festival de Brasília. No mesmo ano, obtém o título de doutor em cinema pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP com a tese O Povo Fala: Um Cineasta na Área de Jornalismo da TV Brasileira. Em 2002, esse trabalho é publicado pela Editora Senac. 

Em 2005, lança o documentário Vlado: 30 Anos Depois. O filme, confessional, de baixo custo e grande circulação, serve de base para inúmeras reportagens televisivas sobre o caso do assassinato do repórter Vladimir Herzog pelo governo militar. Por meio de testemunhos, o documentário recupera a memória de companheiros e familiares do jornalista e os traumas que lhes restaram depois de sua morte. João Batista narra a história com o recurso de voz off  e aparece em cena como uma das testemunhas. Os depoimentos são quase sempre filmados com a câmera na mão, que, trêmula, registra de baixo para cima, em close-up, o rosto dos personagens, potencializando sua fala.

Nos anos 2000, o diretor participa ativamente da política cultural e ocupa cargos na gestão pública. Como secretário estadual da cultura de São Paulo (2005-2006), cria o Programa de Apoio à Cultura (Proac). O projeto publica editais de incentivo à produção artística no estado de São Paulo, por meio do orçamento governamental e da renúncia fiscal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em 2017, João Batista atua por apenas dois meses como ministro da cultura, durante a gestão de Michel Temer (1940).

Como cineasta, escritor ou gestor da área cultural, João Batista de Andrade expressa, ao longo de sua carreira, o desejo de transformação social e política que move a geração dos anos 1960 no Brasil e no mundo.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 33

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