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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Vladimir Herzog

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
27.06.1937 Croácia / Osječko-Baranjska Županija / Osijek
25.10.1975 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Acervo Instituto Vladimir Herzog

Vladimir Herzog, 1964

Vlado Herzog1 (Osijek, Reino da Iugoslávia, atual Croácia, 1937 - São Paulo, São Paulo, 1975). Jornalista, crítico de cinema, roteirista e diretor. Entusiasta do cinema como ferramenta para retrato, divulgação e transformação da realidade social, tem importante papel na constituição do documentário crítico no Brasil, além de ter contribuído para...

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Vlado Herzog1 (Osijek, Reino da Iugoslávia, atual Croácia, 1937 - São Paulo, São Paulo, 1975). Jornalista, crítico de cinema, roteirista e diretor. Entusiasta do cinema como ferramenta para retrato, divulgação e transformação da realidade social, tem importante papel na constituição do documentário crítico no Brasil, além de ter contribuído para o debate geral sobre arte e cultura em importantes veículos de comunicação.

Depois de viver com a família um período de perseguição nazista na Europa, chega ao Brasil com os pais em 1946, em condições financeiras críticas. Com a ajuda de entidades judaicas, a família obtém moradia em São Paulo, e ele consegue uma vaga temporária na escola.

Quando se estabelecem na cidade, Herzog busca melhores oportunidades para os estudos e, aos 11 anos, passa em primeiro lugar no exame de admissão do Colégio Estadual Presidente Roosevelt, uma das escolas públicas de maior prestígio da época.

Desde o período escolar, manifesta interesse por expressões artísticas, como cinema, literatura, música e teatro. Durante a educação básica, assiste a óperas no Teatro Municipal e faz cursos no Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro. Nesta instituição, as aulas com o professor Edoardo Bizzarri o estimulam a escrever uma comédia inspirada no teatro do absurdo, intitulada O Rei Berra. Nela, Herzog exercita uma incipiente habilidade dramatúrgico-literária, explorando o paradoxo criado entre os nomes das personagens e suas reais atitudes (o Rei Berra sussurra enquanto a Rainha Sussurra berra).

Ao longo da vida, valoriza as práticas artísticas e culturais que levam em conta os problemas sociais e políticos. Sua sensibilidade para essas questões se intensifica com as escolhas de formação: ele opta pelo estudo Clássico no estágio final da escola, depois de abandonar o curso Científico, e ingressa no curso de filosofia da Universidade de São Paulo (USP), em 1959.

No mesmo ano em que inicia a faculdade, começa a trabalhar no jornal O Estado de S. Paulo. Como enviado especial ao Uruguai, participa de um festival de cinema e conhece o cineasta argentino Fernando Birri (1925-2017), que se torna uma de suas principais influências no modo de produzir e refletir sobre o cinema.

O documentário Marimbás (1963), primeiro filme de Herzog, segue o estilo do cinema direto, explorado nas obras de Birri. Em 12 minutos, exibe o cotidiano de trabalhadores que atuam na praia como intermediários entre o produto principal da pesca e as sobras. O filme registra o modo de vida precário desses trabalhadores, que vivem em meio a canoas no Posto 6 da praia de Copacabana, onde preparam comida, tomam banho e aguardam o trabalho.

Considerado um filme experimental, o curta-metragem é por vezes criticado pela baixa qualidade técnica do som direto, que não é sincronizado com a imagem. Mesmo assim, ressalta-se da produção a ousadia estética do diretor, que se revela pela casualidade e objetividade com que a câmera registra os trabalhadores, seus testemunhos e as cenas, deixando transparecer o princípio central do cinema direto, que é mostrar a realidade tão fiel quanto possível, dando voz a suas personagens.

Também se ressalta do filme sua relevância para a historiografia da produção documentarista no Brasil: Marimbás resulta de um curso de documentário ministrado pelo cineasta sueco Arne Sucksdorff (1917-2001), de 1962 a 1963, no Rio de Janeiro. Promovido pela Unesco e pelo Departamento Cultural do Itamaraty, o curso criou condições para que se realizassem no Brasil as primeiras produções de cinema direto, entre as quais está Marimbás e Garrincha, Alegria do Povo (1962), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).

O filme de Herzog faz parte de um movimento documentarista social emergente no país. Nesse processo, ele não é apenas um personagem produtor, mas também um dos que conceituam tal movimento, fazendo previsões e defesas. Exemplo disso é sua participação, em 1966, no XII Colóquio Internacional do Filme Etnográfico e Sociológico, na Itália. Lá, com o documentarista Sérgio Muniz, apresenta uma conferência sobre as origens e as tendências do documentário social brasileiro. Em sua exposição e argumentação, defende a ideia de um cinema direto que retrate a realidade social de forma crítica e analítica, tornando o filme um agente no processo de transformação social do país.

Alguns princípios do cinema direto são colocados em prática por Herzog na TV Cultura, quando faz experiências telejornalísticas como diretor do programa “A hora da notícia”. Lá, valoriza o retrato da realidade política e social do país e o testemunho direto.

Herzog entende que a vivência da arte e a reflexão sobre ela devem se articular com uma consciência crítica da vida social. Exercita essa crença ao publicar textos que tratam de cinema e cultura, tanto para fins de divulgação quanto de reflexão. Essas experiências ocorrem quando escreve para o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo e quando atua na editoria da revista Visão.

Embora tenha dirigido apenas um filme, participa da produção de outras obras cinematográficas, como Viramundo (1965), de Geraldo Sarno (1938), em que produz o som direto; e Doramundo (1978), dirigido por João Batista de Andrade (1939), para o qual produz parte do roteiro.

No cinema, na TV ou na escrita, Herzog encara a produção de conteúdo (artístico ou informativo) como uma oportunidade de transmitir e obter conhecimentos e de estimular o espírito crítico em relação à realidade histórica e social retratada.

 

Notas

1. Ao chegar ao Brasil, Herzog altera seu nome de Vlado para Vladimir por acreditar que soaria mais familiar aos brasileiros.

Exposições 1

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Fontes de pesquisa 4

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  • ESCOREL, Eduardo. Vladimir Herzog: uma decisão consciente. In: ITAÚ CULTURAL. Ocupação Vladimir Herzog. São Paulo, 2019, p. 36-39.
  • HERZOG, Vladimir; MUNIZ, Sérgio. O documentário social brasileiro: suas origens e tendências. In: ITAÚ CULTURAL. Ocupação Vladimir Herzog. São Paulo, 2019, p. 31-35.
  • INSTITUTO VLADIMIR HERZOG. Site da instituição. Disponível em: https://vladimirherzog.org/. Acesso em: 12 ago. 2019
  • MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: A história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. 2.ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

Como citar

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