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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Angelino de Oliveira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.03.2017
17.07.1889 Brasil / São Paulo / Itaporanga
24.04.1964 Brasil / São Paulo / São Paulo
Angelino de Oliveira (Itaporanga SP 1889 - São Paulo SP 1964). Compositor e instrumentista. Seus pais, Joaquim Cassimiro e Mariquinha de Oliveira, são lavradores e mudam-se para Botucatu, São Paulo, em 1894. Autodidata, Angelino de Oliveira aprende a tocar violão, viola, violino e trombone e ainda garoto integra a Orquestra do Gabinete Literário...

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Biografia

Angelino de Oliveira (Itaporanga SP 1889 - São Paulo SP 1964). Compositor e instrumentista. Seus pais, Joaquim Cassimiro e Mariquinha de Oliveira, são lavradores e mudam-se para Botucatu, São Paulo, em 1894. Autodidata, Angelino de Oliveira aprende a tocar violão, viola, violino e trombone e ainda garoto integra a Orquestra do Gabinete Literário e Recreativo de Botucatu e a Banda de Música São Benedito. Em 1908 conhece José Maria Perez, com quem forma o Duo Vigui, no qual toca o violão e o parceiro, a guitarra portuguesa. Incorporam Luís Batista Carvalho de Cardoso no piano, em 1917, tornando-se o Trio Viguipi, integrado pouco depois também pelo ator Viterbo de Azevedo. Cria espetáculos com música e humor, que percorrem cidades do interior do estado, sul de Minas Gerais, Santos e São Paulo. Apresenta pela primeira vez sua maior composição, Tristeza do Jeca, no Clube 24 de Maio de Botucatu, em 1918. Editada em 1922, a primeira gravação, de 1924, é apenas instrumental, realizada pela Orquestra Brasil-América. Em 1926, Patrício Teixeira interpreta a primeira versão cantada, depois consagrada em 1937 em gravação de Paraguassu.

Muda-se para Ribeirão Preto, São Paulo, em 1924, faz curso de odontologia, trabalha como escrivão de polícia e compõe Saudade de Botucatu. Casa-se com Maria Malleus, com quem tem três filhos, retorna a Botucatu e abre uma loja de instrumentos musicais, que não resiste por muito tempo. Compõe modas e canções como Encruzilhada, Sabiá, Prece e Caboclo Velho, gravado pela dupla Cobrinha e Capitão, em 1942. Torna-se diretor artístico da Rádio Emissora de Botucatu, e atua divulgando a música regional.

Mazzaropi usa o título Tristeza do Jeca em um filme, de 1961, sem notificar Oliveira. Mas, logo em seguida, cobrado pelos amigos em comum, paga os direitos autorais ao compositor.

Análise

A obra musical de Angelino de Oliveira colabora para a formação do que se convenciona chamar de música caipira ou sertaneja. Na década de 1910 a cultura originária do interior de São Paulo, presente no cotidiano da cidade, começa a ser divulgada ainda que timidamente na capital e pode ser identificada, por exemplo, nos espetáculos de variedades, sobretudo nas revistas e burletas regionais. É nessa época também que Cornélio Pires divulga suas célebres "conferências", que nada mais são do que espetáculos que misturam música regional, danças, causos e piadas. Na passagem da década de 1920 a 1930 essa música ocupa lugar importante nos novos meios de difusão, como os discos, e principalmente nas emissoras de rádio, que tratam de divulgá-la com destaque.

Oliveira faz parte da primeira geração de compositores e intérpretes do início do século XX que vivem então entre as referências da vida do interior e da cultura caipira e o novo cenário dos meios de comunicação eletrônicos. Tanto é que as biografias destacam sua vida de boêmio do interior - e nessa condição compõe muitas de suas canções - e também a ingenuidade da vida artística amadora, despreocupada com a carreira profissional e a conservação de sua obra musical. Mas também enfatizam o sucesso fonográfico de Tristeza do Jeca, gravada e consagrada por intérpretes como Patrício Teixeira, Paraguassu, Raul Torres, Tonico e Tinoco, Chiquinho do Acordeon, André Penazzi, Renato Andrade, Trio Ortega, Passoca, Almir Sater, Sérgio Reis, pelas duplas Chitãozinho e Xororó, Zezé Camargo e Luciano, Christian e Ralf e por artistas como Maria Bethânia e Caetano Veloso na trilha do filme 2 Filhos de Francisco. Tristeza do Jeca também é utilizado como título de filme de Mazzaropi, artista importante na história do cinema brasileiro, que contribui para reforçar a imagem do caipira ingênuo, com quem o compositor tem certo conflito com relação aos direitos autorais. Além disso, durante quase uma década, Angelino de Oliveira trabalha como diretor da emissora de rádio em Botucatu, divulgando a música regional.

Sua obra colabora para consolidar as histórias e temas característicos da música caipira. Ele consegue traduzir os sentimentos e as temáticas rurais, provincianas, trágicas e ingênuas típicas da tradição caipira para uma nova poética cancionista e, principalmente, para o tempo da indústria fonográfica e radiofônica, tornando-se, assim, um autêntico intermediário entre essas culturas. Desse modo, aparecem em suas toadas e modas o cotidiano rural e simples do caboclo e da vida no sertão, como em Tristeza do Jeca, Prece e Caboclo Velho. A natureza mitificada com sua flora e animais também é tema recorrente, como se verifica em Sabiá e Prece. A saudade de um tempo perdido surge em Saudades de Botucatu e Caboclo Velho. O amor ingênuo é registrado em Encruzilhada, Prece e Meu Primeiro Amor. E a religião aparece em Prece. Sua principal composição é Tristeza do Jeca, que se torna uma espécie de "hino da música caipira".

Ainda que, infelizmente, uma boa parte de sua obra tenha se perdido, é possível indicar pelo menos o registro de aproximadamente 80 peças em seu nome ou em parcerias, como Cantando o Aboio, gravado pelo parceiro Cornelio Pires, em 1930,  Cabocla do Sertão, interpretada pelo Trio Ortega em 1930, Lua Cheia, por Paraguassu, em 1936, Moda de Botucatu, em parceria com Chico de Paula e gravado por Passoca em 1996, e Manhãs de Minha Terra, gravado por Nilmar e Netinho, em 1984.

Fontes de pesquisa 5

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  • CALDAS, Waldenyr, O que é música sertaneja. Coleção Primeiros Passos 186, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1987.
  • FREIRE, Paulo de Oliveira, Eu nasci naquela serra: A história de Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha. São Paulo: Paulicéia, 1996.
  • MUGNANI Jr., Ayrton, Enciclopédia das músicas sertanejas, SP, Letras e letras, 2001.
  • NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
  • TINHORÃO, José Ramos. Os gêneros rurais urbanizados. In: ______. Pequena história da música popular. São Paulo, Circulo do livro, s/d.

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