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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Fafá de Belém

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.06.2022
1956 Brasil / Pará / Belém
Maria de Fátima Palha de Figueiredo (Belém, Pará, 1956). Cantora, compositora. Fafá de Belém explora variados ritmos, promovendo releituras de gêneros como MPB e fado enquanto dialoga com estilos musicais da região Norte do país.

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Maria de Fátima Palha de Figueiredo (Belém, Pará, 1956). Cantora, compositora. Fafá de Belém explora variados ritmos, promovendo releituras de gêneros como MPB e fado enquanto dialoga com estilos musicais da região Norte do país.

Descendente de portugueses e caboclos, a cantora constitui seu repertório a partir de diversas matrizes culturais. A diversidade está presente em seus primeiros trabalhos, transitando entre as referências paraenses e de outras regiões. Ao lado de Fagner (1949), Milton Nascimento (1942) e outros artistas, participa da descentralização da produção musical do eixo Rio-São Paulo nos anos 1970.

Estreia no espetáculo teatral Tem muita goma no meu tacacá (1973). Em 1974, muda-se para o Rio de Janeiro e  participa de espetáculo com Zé Rodrix (1947-2009), na boate Pujol e nos teatros da Lagoa e Casa Grande. Apresenta-se com Sérgio Ricardo (1932-2020), em Belém, em 1974,  e no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1975, mesmo ano em que chega às paradas de sucesso com a música “Filho da Bahia”, de Walter Queiroz (1944), incluída na trilha da novela Gabriela, da TV Globo. No mesmo ano, lança compacto com as canções “Naturalmente” e “Emoriô”.

Enquanto não se restringe ao rótulo de cantora regional e explora ritmos diversos, como rock, bolero, afoxés, lambadas, sambas-canções, forró e MPB, divulga o carimbó nos anos de 1970, quando o gênero ainda é desconhecido no Sudeste. A versatilidade estilística é favorecida por sua voz de mezzo-soprano que possibilita o canto em múltiplas tessituras. Nessa década lança o primeiro LP Tamba-Tajá (1976), sucedido por Água (1977), Banho de cheiro (1978) e Estrela radiante (1979). 
 
Em 1980, lança Crença e, em 1982, Essencial, no qual suprime “de Belém” de seu nome, assinatura que volta no trabalho subsequente, Salinas (1983). A multiplicidade de gêneros e estilos também documenta mudanças nos padrões de instrumentação e arranjo dessa década, quando teclados e sintetizadores se tornam mais frequentes nos trabalhos da artista. A cantora desempenha papel importante ao abrir caminhos para outras tendências dentro da música popular. Em 1986, com o álbum Atrevida, alcança um público amplo que não se limita aos ouvintes de MPB. 
 
Em 1984,  no comício da Candelária parte do movimento “Diretas Já”, interpreta o “Menestrel das Alagoas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant (1946-2015), em homenagem ao senador Teotônio Vilela (1917-1983), e canta o “Hino Nacional Brasileiro” ao presidente eleito Tancredo Neves (1910-1985). Embora tenha participado de momentos políticos, em sua obra destacam-se os temas românticos, com espaço também para a música religiosa (“Ave-Maria”) e as manifestações populares, como o Boi de Parintins. Sua voz consagra a toada “Vermelho” [Chico da Silva (1945)], que se torna uma espécie de hino do Boi Garantido1. Meu Fado (1992), reunião de clássicos portugueses e interpretações de canções brasileiras adaptadas para o gênero, recebe disco de platina em Portugal. “Memórias” com arranjo de fado ultrapassa dez regravações no país. Fafá fica tão prestigiada em terras portuguesas que a torcida do Benfica, de Lisboa, substitui o hino oficial do clube pela toada amazônica “Vermelho”.  

Em Do fundo do meu coração (1993), seleciona músicas do rock brasileiro, como a que dá título ao álbum, composta por Erasmo Carlos (1941) e Roberto Carlos (1941), e clássicos do cancioneiro popular e da MPB, como “O Quereres” (Caetano Veloso [1942]), transformada em samba-reggae. Já em Pássaro sonhador (1996) registra, além de canções românticas, toadas e carimbós da região amazônica. Com João Rebouças (1957) ao piano e sonoridade próxima ao jazz, realiza Piano e voz (2002), álbum gravado ao vivo no Teatro Rival, Rio de Janeiro. Ainda em 2002, resgata suas raízes paraenses em Canto das águas. 

Apesar da resistência do público que entende a MPB como sigla de identificação político-cultural2, a trajetória de Fafá de Belém é marcada pela versatilidade. Nesse sentido, passa por gêneros populares de viés romântico e por artistas canônicos da música popular brasileira, como Chico Buarque (1944), homenageado pela cantora em Tanto mar (2004), apenas com composições do artista, que participa da faixa título. 

Lança o CD e DVD Ao vivo (2006), gravado no Theatro da Paz, em Belém. Participa da primeira temporada da série de shows Terruá Pará (2006-2011), no Auditório Ibirapuera, São Paulo, ao lado de Dona Onete (1938), Gaby Amarantos (1978), entre outros artistas. Seus três primeiros discos são reunidos na caixa três Tons de Fafá de Belém, pela gravadora Universal, em 2012.  

Em comemoração aos quarenta anos de carreira, registra o álbum Do tamanho certo para o meu sorriso (2015), que reaproxima a cantora de compositores conterrâneos e gravando canções assumidamente "bregas". Com voz mais grave e vigorosa, desenvolve interpretações que vão do dramático ao sutil. Sintetiza melhor o padrão de seus primeiros LPs, levado pelo suingue da guitarra em diálogo com clássicos da Jovem Guarda, boleros e MPB.

Fafá de Belém promove fusões rítmicas de diferentes estilos musicais. Capaz de transitar entre canções românticas e gêneros tradicionais, a cantora tem uma trajetória versátil que retrata a variedade da cultura brasileira. 

Notas
1. Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, conhecida como Boi Garantido, é um dos dois grupos folclóricos que competem anualmente no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas.

2. SANDRONI, Carlos. Adeus à MPB. In: CAVALCANTE, Berenice; STARLING, Heloisa; e EISENBERG, José (Orgs.). Decantando a República: inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira – v. 1. Rio de Janeiro; São Paulo: Fundação Perseu Abramo; Nova Fronteira, 2004, p. 29.

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