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Música

Música Popular Brasileira (MPB)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 12.10.2022
Música popular brasileira (MPB) refere-se a um conjunto bastante variado de músicas, em que se destacam o interesse no papel social da canção, o resgate de sonoridades tradicionais e regionais do Brasil e sua mistura com elementos da música contemporânea internacional.

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Música popular brasileira (MPB) refere-se a um conjunto bastante variado de músicas, em que se destacam o interesse no papel social da canção, o resgate de sonoridades tradicionais e regionais do Brasil e sua mistura com elementos da música contemporânea internacional.

O período de surgimento da MPB ocorre a partir do declínio da bossa nova, movimento precursor que também promove a renovação do cenário musical brasileiro. Ambos são marcados por ideais de constituição de uma identidade nacional, oriundos do modernismo brasileiro e intensificados em 1932. 

Simultaneamente, outros países na América Latina, como Chile, Argentina e Cuba, dão lugar a manifestações culturais que compartilham entre si o resgate de músicas populares, o lugar de destaque da canção como meio de crítica social, e a atualização musical mediante a interseção com ritmos atuais da música mundial – movimento conhecido como Nueva Canción Latinoamericana, do qual se aproxima a MPB.

O gênero se difunde pelo país por meio dos Festivais de Música Popular Brasileira, televisionados por emissoras como a TV Record e a extinta TV Excelsior. Esses festivais promovem competições entre artistas e premiam tanto a composição quanto a interpretação das músicas apresentadas. Passam por eles artistas como Elis Regina (1945-1982), Geraldo Vandré (1935), Chico Buarque (1944), Caetano Veloso (1942), que se consagram no cenário musical brasileiro.

Em 1965, a cantora Elis Regina vence o 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, com a interpretação de “Arrastão”, composição de Edu Lobo (1943) e Vinicius de Moraes (1913-1980), que se torna um marco para o novo movimento musical, a princípio chamado de MPM (música popular moderna). Na virada de 1960 para 1970, o grupo vocal Quarteto do CPC modifica seu nome para MPB-4, marcando a nova nomenclatura, assim como a proximidade do movimento musical com o meio universitário e crítico.

A época dos festivais coincide com os períodos de intensificação da repressão da ditadura militar (1964-1985)1 e com os processos de abertura política, permitindo que a MPB se institucionalize como um espaço de renovação artística e de crítica social do país, mas voltada, desde a produção até a divulgação, para setores da classe média e elites intelectuais. Ganha visibilidade também no cinema, particularmente com as produções do chamado cinema novo – movimento de renovação estética do cinema brasileiro, que provém do meio universitário e cineclubista.

Entre 1968 e 1969, a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) acentua a censura e a repressão do regime aos artistas considerados subversivos, o que impulsiona a MPB a ocupar um espaço ainda mais radical de resistência cultural ante a ditadura militar no Brasil. Neste período, surge a Tropicália, uma vertente mais experimental da MPB, que se aproxima da música de vanguarda e cuja crítica social se dá de maneira mais explícita, tanto verbal quanto formalmente, com composições de sonoridades dissonantes e, muitas vezes, caóticas. 

A MPB é um “complexo cultural”, e não apenas um gênero musical específico, em razão de sua duração e diversidade estética. Como complexo cultural, a MPB se institucionaliza durante o período de ditadura militar como um importante movimento de renovação estética de ritmos populares brasileiros, assim como serve também de porta-voz – por meio da centralidade da canção –, da classe média crítica e de elites intelectuais. Por causa dessa vertente, próxima da música de protesto, muitos artistas da MPB são perseguidos e reprimidos ao longo da década de 1970. 

Com o passar dos anos, entende-se MPB como um vasto leque de produções musicais brasileiras, que mescla samba, reggae, maracatu, rock, bossa nova, choro, jovem guarda e outros ritmos brasileiros com influência internacional. Existe ainda uma discussão em voga a respeito de certo elitismo na concepção daquilo que se entende como MPB, uma vez que a produção musical popular abrange outros gêneros e artistas consumidos pelas camadas sociais mais baixas, que não estão incluídos neste complexo cultural, como o forró, o sertanejo e o funk

Desde a década de 2010, observa-se o surgimento de artistas considerados parte da MPB, que reverberam os mesmos ideais de atualização da música popular brasileira por meio da mistura com outros gêneros, mas cujas novas sonoridades apontam para uma renovação do movimento, chamada pelos críticos de nova ou novíssima MPB.

Os aspectos marcantes da MPB, como a crítica social realizada pela classe média, especialmente aquela do meio universitário, o resgate de sonoridades tradicionais e regionais do Brasil e a interseção com gêneros e elementos sonoros da música internacional, concedem lugar privilegiado à canção como meio condutor de cultura, crítica social, valores e identidade nacional. A visibilidade alcançada graças aos festivais de música televisionados permite a consolidação da MPB no cenário musical do país e a atualização contínua de sua estética.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Fontes de pesquisa 4

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  • ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB: a história de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.
  • MELLO, Zuza Homem de. A era dos festivais: uma parábola. São Paulo: Editora 34, 2003.
  • NAPOLITANO, Marcos. A música popular brasileira (MPB) dos anos 70: resistência política e consumo cultural. In: ACTAS DEL V CONGRESSO LATINOAMERICANO IASPM, 2002. [S.l.]: IASPM, 2002.
  • VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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