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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Funk

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.01.2021
Funk é um estilo de música eletrônica com influência de ritmos da música eletrônica mundial, principalmente afro-diaspórica, assim como de outros ritmos negros desenvolvidos no Brasil, que compartilham entre si a predominância de sons graves e marcados, favoráveis à dança. Produzido pela juventude moradora de favelas e bairros pobres dos centros...

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Funk é um estilo de música eletrônica com influência de ritmos da música eletrônica mundial, principalmente afro-diaspórica, assim como de outros ritmos negros desenvolvidos no Brasil, que compartilham entre si a predominância de sons graves e marcados, favoráveis à dança. Produzido pela juventude moradora de favelas e bairros pobres dos centros urbanos do Brasil, configura-se como gênero musical brasileiro entre as décadas de 1980 e 1990 e, a partir de 2000, passa a ser difundido nacionalmente, e alcança grande visibilidade internacional. 

O funk surge da experiência do baile funk, um estilo de festa em que ressoa o sound system jamaicano, no qual a aparelhagem sonora, o disc jockey (DJ), o Mestre de Cerimônia (MC) e o público são os pilares do evento. No baile funk, todos esses elementos interagem entre si e, mediados pela música, produzem um espaço no qual a regra é a diversão e o bem-estar coletivo. As interações entre os artistas e o público na experiência do baile resultam constantemente em atualizações da estética musical, o que torna impossível a definição do funk com base no ritmo ou tipo de letra e canto específicos. Além de um estilo musical bastante diverso, o funk é também um movimento cultural, por meio do qual muitos moradores de áreas negligenciadas pelo poder público e estigmatizadas pela sociedade encontram espaço para expressão e ascensão social.

Os primeiros bailes funks surgem na década de 1970 no Rio de Janeiro, especialmente nas zonas Norte e Oeste da cidade e na Baixada Fluminense. Na época, os bailes funks tocam o ritmo americano soul, mas ao longo dos anos 1980 aderem ao modern R&B1, chamado no Brasil de “charme”, e ao hip-hop, especialmente a vertente próxima do eletro, produzida em Miami e Los Angeles. 

Os bailes são eventos realizados em clubes, quadras de escola de samba ou desportivas, promovidos pelas Equipes de Som – coletivos de pequenos empresários donos da aparelhagem sonora e dos discos, responsáveis por toda a logística que esses eventos demandam, inclusive a transação de discos não comercializados no Brasil. 

Antes do surgimento dos MCs no funk, os DJs incitam o público dos bailes pelo microfone, cantando paródias em português das músicas americanas tocadas na festa. Essa brincadeira entre DJ e público origina as primeiras letras do funk em português, conhecidas como “Melôs”. Ao longo da década de 1990, surgem os Bailes de Corredor e os Concursos de Galera, eventos cuja dinâmica da festa gira em torno da competição entre galeras – grupos de jovens de uma mesma vizinhança – com outras galeras rivais. Os Bailes de Corredor, por meio das “montagens das galeras”, e os Concursos de Galera, com os “raps” apresentados, são responsáveis pelo surgimento e pela visibilidade dos primeiros MCs do funk. 

Também nos anos 1990, DJs passam a mixar as bases das músicas do Miami bass2 com discos de samba e MPB, introduzindo sons orgânicos de tambores e berimbau nas batidas metálicas desse estilo de hip-hop. Quando a bateria eletrônica torna-se acessível aos DJs de funk, no final da década, é produzida a primeira base rítmica “inteiramente” nacional, um loop de um trecho de samba-enredo que, devido à mistura de samples de tambores, recebe o nome de tamborzão. Por meio de programas de edição musical digitais, há infinitas possibilidades de bases rítmicas para o funk, como: atabacada, macumbinha, modinha, arrocha, brega funk, megatron, beat bolha. 

Ao mesmo tempo, a criminalização do funk é intensificada em meados de 1990, prejudicando diretamente os bailes organizados em favelas, chamados na época de Bailes de Comunidade, proibidos judicialmente em 1995. Os Bailes de Corredor e os bailes realizados em clubes, fora das favelas, sucumbem à pressão da mídia e do Estado. Anos mais tarde, a única forma de baile funk que existe é o Baile de Comunidade, chamado de Baile de Favela. São eventos que mobilizam a economia local e recebem centenas de milhares de pessoas todas as semanas.

Na década de 2000, o funk torna-se produto musical inserido no mercado fonográfico nacional, principalmente graças à atuação da Equipe de Som Furacão 2000, a maior na época, dona de programas de TV, rádio e outros meios de produção e divulgação do funk.

Embora seja consenso de que o funk tenha surgido no Rio de Janeiro, há diversas manifestações do estilo em outras capitais brasileiras, com destaque para as produções de São Paulo, Recife e Belo Horizonte, que ganham maior visibilidade a partir de 2012. Essas outras produções têm características estéticas próprias, que tornam sensíveis as diferenças locais e denotam a estreita relação do funk com o espaço onde seus produtores habitam.

Em razão da diversidade estética observada ao longo da história do funk, pode-se dizer que, com tipo de letra, base rítmica, montagem e voz variados, o funk é o estilo musical eletrônico que representa cotidianos de localidades específicas e marginalizadas, a partir da visão de seus moradores.

Notas:

1. Gênero musical que mescla elementos do rhythm and blues, pop, soul, funk, hip-hop e dance.

2. Subgênero do hip-hop popular nos Estados Unidos e na América Latina nas décadas de 1980 e 1990. Uma das origens do funk carioca.

Fontes de pesquisa 6

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  • CACERES, Guillermo; FERRARI, Lucas; PALOMBINI, Carlos. A Era Lula/Tamborzão: política e sonoridade. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 58, p. 157-207, jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0020-38742014000100009&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 22 jan. 2021.
  • FACINA, Adriana. Que batida é essa? Academia.edu, 2010. Disponível em: https://www.academia.edu/5280610/Que_batida_%C3%A9_essa. Acesso em: 7 fev. 2020.
  • HENRIQUES, Julian. Sonic Bodies – Reggae Sound Systems, Performance Techniques, and Ways of Knowing. Nova York: Continuum International Publishing Group, 2011.
  • HERSCHMANN, Micael. O Funk e o Hip-Hop invadem a cena. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000.
  • ROSA, Daniela. Funk 150 bpm: baile, mídia e ritmo. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020. p. 125.
  • VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

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