Roberto Carlos
Texto
Roberto Carlos Braga (Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, 1941). Cantor e compositor. Carregando a alcunha de “Rei”, Roberto Carlos é autor de canções de grande alcance popular. É responsável pela difusão do rock no Brasil, nos anos 1960, influenciado por bandas como Os Beatles, e contribui para a divulgação da música brasileira pelo mundo.
Inicia os estudos de violão com sua mãe, mas prossegue como autodidata. Tem aulas de piano e violino no conservatório em sua cidade, e, em 1950, começa a se apresentar na rádio local como cantor-mirim. Em 1956, muda-se para a casa de uma tia em Niterói, seguindo para o subúrbio do Rio de Janeiro para iniciar a carreira musical. Na época, faz cover do cantor americano Elvis Presley (1935-1977) num programa da TV Tupi. Com Arlênio Lívio (1942-2003) e Tim Maia (1942-1998), forma a banda The Sputniks, e, em 1957, o grupo se apresenta no Clube do Rock, primeiro programa de TV do gênero.
Em 1958, a música “Chega de Saudade”, de João Gilberto (1931-2019), causa impacto no cantor, que passa a imitá-lo. Com voz pequena e entonação quase falada, grava, em 1959, seu primeiro 78 rpm. A carreira de Roberto Carlos pode ser dividida em várias fases. Na primeira (1959-1963), o cantor se aproxima da bossa nova, com gravações que mesclam signos modernos a valores conservadores. Em “Ser Bem'', do seu primeiro LP, Louco por Você (1961), as melodias de notas dissonantes recebem letra bem comportada.
Na fase iê-iê-iê1 (1963-1968), lança-se como compositor. Além da canção-título “Splish Splash”, o disco de mesmo nome, de 1963, revela a criação de um repertório próprio de música jovem, de influência inglesa e americana, e o início de longa parceria com o cantor e compositor Erasmo Carlos (1941), em trabalhos como “Parei na Contramão”. Outros sucessos da dupla, como “É Proibido Fumar” (1964), “Quero que Vá Tudo pro Inferno” (1965) e “Namoradinha de um Amigo Meu” (1966), preservam a conciliação entre modernidade e conservadorismo da fase bossa nova. As letras ousam falar abertamente do desejo e da transgressão a certas proibições, ao mesmo tempo que revelam um comportamento constrangido pelas regras de uma sociedade tradicional.
Entre 1965 e 1968, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa (1946), apresenta na TV Record de São Paulo o programa Jovem Guarda, que dá nome ao movimento protagonizado pelo trio. Ainda nessa fase, o cantor revela tino empresarial e é um dos detentores da marca Calhambeque, criada pelo publicitário Carlito Maia (1924-2002) para financiar o programa.
Protagoniza o filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968), dirigido por Roberto Farias (1932-2018)2, embalado pelo disco homônimo e inspirado nos filmes A Hard Day’s Night (1964) e Help! (1965), dos Beatles. No mesmo ano, é o primeiro estrangeiro a vencer o festival de música de San Remo, na Itália, lançando-se no mercado internacional. Grava o álbum O Inimitável, em que flerta com o soul e a black-music, e inicia a terceira fase de sua carreira, com canções como “Não Vou Ficar” (1969)3. Mesmo sem se engajar politicamente e com letras de um romantismo autocentrado, em um momento de forte repressão política no Brasil4, Roberto revela o fim da ingenuidade diante de um mundo em transformação, como em “As Canções que Você Fez pra Mim”, “Se Você Pensa”, ambas de 1968, e “As Curvas da Estrada de Santos” (1969).
Ainda no fim dos anos 1960, inicia a última e mais longeva fase de sua carreira, dedicada à música romântica. A temática amorosa marca as parcerias com Erasmo, como em “Como É Grande o Meu Amor por Você” (1967) e “As Flores do Jardim de Nossa Casa” (1969). O romantismo deixa de se restringir à letra e aparece também em arranjos dominados por cordas e piano. Nesse estilo, a dupla compõe seu maior sucesso, “Detalhes” (1971), uma balada sobre uma revanche amorosa, em que o abandonado tem certeza de que será lembrado.
Aproxima-se da música popular brasileira (MPB) quando grava “Como Dois e Dois” (1971), de Caetano Veloso (1942), para quem, no mesmo ano, Roberto compõe “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, em parceria com Erasmo. Outra recorrência são as letras descritivas ou narrativas, como em “Rotina” (1973), que narra os pensamentos eróticos dos amantes separados pela rotina de trabalho.
O cristianismo também é recorrente e surge em sua obra ainda na década de 1970, quando grava o soul “Jesus Cristo” e “Todos Estão Surdos”, ambas de 1971, e reaparece em “Fé” (1978). Torna-se mais devoto e compõe canções angelicais acompanhadas de órgão como “Luz Divina” (1991) e “Jesus Salvador” (1994), regravadas no álbum Mensagens (1999).
A temática ecológica aparece em “As Baleias” (1981) e no rock “Amazônia” (1989). Explora também o sertanejo, em canções como “Caminhoneiro” (1984) e “Todas as Manhãs” (1991). Procurando se identificar com seu público, que abrange diversas classes e idades, grava “O Taxista” (1994) e canta elogios às mulheres fora do padrão de beleza, como em “Mulher Pequena” (1992) e “Mulher de 40” (1996). A partir da segunda metade dos anos 1990, as regravações superam as inéditas, até a estagnação autoral quase completa, quebrada em 2012 pelo sucesso “Esse Cara Sou Eu”.
Em 2001, busca atrair os jovens com o álbum Acústico MTV, que o transforma em artista cult. Um dos cantores brasileiros mais ouvidos no Brasil e no exterior, Roberto é eleito personalidade do ano pelo prêmio Grammy Latino em 2015.
Um dos principais nomes da música brasileira, Roberto Carlos, em sua longeva carreira, conquista ouvintes em diferentes fases de suas vidas, difundido o iê-iê-iê e marcando a canção romântica no Brasil.
Notas
1. Abrasileiramento do grito yeah, yeah, yeah!, entoado pelos Beatles no hit “She Loves You”.
2. O cantor também protagoniza os filmes Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa (1970) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971), também sob direção de Roberto Farias.
3. O desgaste do rock'n'roll e a tendência de artistas brasileiros se aproximarem da música negra levam à influência do soul e da black-music.
4. Em 1968, é promulgado o Ato Inconstitucional nº 5 (AI-5), dando início à fase mais violenta da ditadura militar brasileira (1964-1985).
Obras 1
Espetáculos 2
Fontes de pesquisa 8
- ARAÚJO, Paulo César de. Roberto Carlos Em Detalhes. Editora Planeta, 2006.
- FRÓES, Marcelo. Jovem Guarda: em ritmo de aventura. São Paulo: Editora 34, 2000.
- MICELI, Sérgio. Força estranha do rei. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 31 dez. 2006. Caderno Cultura, p. D10.
- PILAGALLO, Oscar. Roberto Carlos. São Paulo: Publifolha, 2008 (Coleção Folha Explica, vol.79).
- SANCHEZ, Pedro Alexandre. Como Dois e Dois São Cinco. Editoria Boitempo, 2004.
- SANCHEZ, Pedro Alexandre. Roberto Carlos: Na Corte do Rei. Billboard Brasil, nº 1, pp.42, out. 2009. Disponível em: < web.archive.org/web/20101018161332/http://billboard.br.com/noticias/na-corte-do-rei-roberto-carlos >. Acesso em: 20 out. 2016.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- SOBRAL, Eliane. As emoções empresariais de Roberto Carlos. Isto É Dinheiro, São Paulo, 02 mar. 2011. Disponível em: < www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20110302/emocoes-empresariais-roberto-carlos/3625.shtml >. Acesso em: 20 out. 2016.
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ROBERTO Carlos.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa21480/roberto-carlos. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7