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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Tim Maia

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.11.2016
28.09.1942 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
15.03.1998 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
Sebastião Rodrigues Maia (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1942 – Niterói, Rio de Janeiro, 1998). Cantor e compositor. Começa a compor aos 8 anos. Aos 14, forma o primeiro grupo musical, Os Tijucanos do Ritmo. Em 1957, monta a banda Os Sputniks com Roberto Carlos (1941), também frequentador do bar Divino, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de...

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Biografia
Sebastião Rodrigues Maia (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1942 – Niterói, Rio de Janeiro, 1998). Cantor e compositor. Começa a compor aos 8 anos. Aos 14, forma o primeiro grupo musical, Os Tijucanos do Ritmo. Em 1957, monta a banda Os Sputniks com Roberto Carlos (1941), também frequentador do bar Divino, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Aproximam-se por causa da paixão pela música dos norte-americanos Elvis Presley (1935-1997) e Little Richard (1932).

Em 1959, viaja aos Estados Unidos, faz cursos de inglês, inicia carreira de vocalista no conjunto The Ideals e toma contato com a música da gravadora Motown. É um período conturbado que interfere em sua identidade musical. Quatro anos mais tarde, é preso por porte de maconha e deportado para o Brasil.

Em 1968, lança seu primeiro disco, um compacto pela CBS, com as faixas “Meu País” e “Sentimento (Feeling)”, em parceria com Genival Cassiano (1943). A carreira se fortalece a partir de 1969, quando grava um compacto com “These Are The Songs” e “What You Want to Bet”.

A consagração vem em 1970 com Tim Maia, seu primeiro LP, lançado pela Polydor. Entre as faixas de sucesso estão “Azul da Cor do Mar” (Tim Maia), “Coroné Antônio Bento” [Luiz Wanderley (1931-1993) e João do Vale (1933-1996)] e “Primavera” (Cassiano). No ano seguinte, grava “Chocolate”, originalmente um jingle para a Associação Brasileira dos Produtores de Cacau. Lança, ainda, os discos Tim Maia (1971), com a canção “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, Tim Maia (1972) e Tim Maia (1973), com a faixa “Gostava Tanto de Você” (Edson Trindade).

Na mesma década, conhece Manoel Jacintho Coelho (1903-1991), líder da seita espiritual Cultura Racional. A partir daí, muda seu estilo de vida, livrando-se do álcool e das drogas. Sob influência da seita, lança dois álbuns: Tim Maia Racional vol. 1 (1975) e Tim Maia Racional v. 2 (1976). Ambos saem por seu próprio selo, Seroma, sigla com as sílabas iniciais de seu nome. Pouco depois, o artista decepciona-se com a Cultura Racional e retira os discos de circulação.

Em 1978, Tim Maia lança, pela Warner, Tim Maia Disco Club, com a faixa “Sossego”, um de seus maiores sucessos. O álbum tem participação da Banda Black Rio, Hyldon (1951) e Pepeu Gomes (1952).

A década de 1980 é marcada por uma sucessão de hits: “Vale Tudo” (1982), dueto com Sandra de Sá (1955), “Descobridor dos Sete Mares” e “Me Dê Motivo” (ambas de 1983) e “Um Dia de Domingo” (1985), gravada em dueto com Gal Costa (1945).

Em 1990, o artista, lança Tim Maia Interpreta Clássicos da Bossa Nova. Em 1997, outros três CDs totalizam 32 discos em 28 anos de carreira. Nos anos 2000, são descobertas novas faixas do “período Racional”, que dão origem ao disco Tim Maia Racional v. 3 (2011).

Em 2012, o selo Luaka Bop, lança nos Estados Unidos a coletânea Nobody Can Live Forever: The Existencial Soul of Tim Maia, em comemoração aos 70 anos do artista, e contribui para a consagração do culto à obra do brasileiro mundo afora. Em 2014, é lançado o filme Tim Maia, de Mauro Lima (1967), inspirado na biografia escrita por Nelson Motta. Em 2015, a intérprete Ivete Sangalo (1972) e o rapper Criolo (1975) fazem a turnê Viva Tim Maia, que resulta em disco com a obra do compositor.

Análise
Compondo desde os oito anos, Tim Maia é influenciado principalmente pela música brasileira  de Ângela Maria (1929) e Cauby Peixoto (1931-2016) e pelo rock americano de Little Richard e Elvis Presley. Durante a adolescência, no final dos anos 1950, influência a música de Erasmo Carlos (1941) e de Roberto Carlos. Os três são frequentadores do bar Divino, ponto de encontro de diversos músicos no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Nos anos 1960, Tim Maia é um dos principais responsáveis por apresentar a sonoridade da soul music para artistas da jovem guarda. O ponto crucial é quando Roberto Carlos, já consagrado, grava uma canção de autoria de Tim Maia, “Não Vou Ficar”, no álbum Roberto Carlos (1969). A canção é incluída na trilha sonora do filme Roberto Carlos e o Diamante Côr de Rosa (1970), de Roberto Farias (1932) e torna-se sucesso, abrindo caminho para que Tim grave seu primeiro LP solo. Em 1969, Tim Maia produz o disco A Onda é o Boogaloo, estreia de Eduardo Araújo (1945) em LP, com versões em português feitas por Tim Maia de clássicos da soul music, parcerias de Araújo com Chil Deberto e a canção “Você”, futuro hit do produtor. Mais tarde, Eduardo Araújo fica conhecido pelo sucesso da jovem guarda “O Bom”. Apesar dessa contribuição nas carreiras de Roberto Carlos e Eduardo Araújo, Tim Maia não é aceito como um artista da jovem guarda e fica à margem do movimento.

Consolidando uma cena de soul e funk no Brasil influenciado por músicos norte-americanos, Tim Maia consegue dar um toque brasileiro em fusões originais ao longo da carreira: “Coroné Antonio Bento” e “Salve Nossa Senhora” (1971), por exemplo, destacam-se por misturar a soul music com elementos do baião. Já “Réu Confesso” e “Gostava Tanto de Você”, ambas de 1973, são duas das melhores amostras da típica mistura de samba com soul.

Na esteira de seu sucesso, surgem outros artistas da cena funk e soul: os parceiros Cassiano e Hyldon, Carlos Dafé (1947) e Banda Black Rio são alguns exemplos.

As referências colhidas pelo artista na temporada nos Estados Unidos, em alguns casos, despertam suspeitas de plágio. “Sossego” (1978), por exemplo, tem melodia semelhante à da faixa “Boot-Leg”, gravada pelo soulman Booker T (1944) em 1956. O inverso também ocorre e Tim Maia recorrentemente é copiado, inclusive, por músicos norte-americanos. É o cado do cantor Aloe Blacc (1979) que usa melodia semelhante à de “O Caminho do Bem” (1976), parceria de Tim Maia com Paulinho Guitarra (1954), Serginho Trombone (1949) e Beto Cajueiro, de  em sua composição “Soldier in the City” (2013). A faixa “O Caminho do Bem” faz parte da trilha sonora de Cidade de Deus (2002), filme de sucesso mundial do diretor Fernando Meirelles (1955).

Tim Maia tem um timbre particular e é reconhecido como um dos melhores cantores do país. A influência de cantores norte-americanos como Sam Cooke (1931-1964) e Otis Redding (1941-1967) e a larga extensão vocal são duas marcas de seu estilo. Também fica conhecido pelo pela qualidade do som em suas apresentações – muitas gravações mostram o artista exigindo um melhor desempenho dos técnicos de som. Esse comportamento rende a ele fama de exigente e briguento. É, ainda, um dos precursores da disco music no Brasil ao gravar o álbum Tim Maia Disco Club. Capta, como poucos, a atmosfera dançante da época em canções como “Sossego”, “Acenda o Farol” e “A fim de Voltar”.

Tim Maia faz parcerias ou tem músicas suas gravadas por artistas consagrados da música popular brasileira. Entre eles, Elis Regina, que grava “These Are The Songs” em dueto com Tim, no disco Em Pleno Verão (1970); Gal Costa, “Um Dia de Domingo” e Chico Buarque e Edu Lobo (1943), cantando “A Bela e A Fera”, no disco O Grande Circo Místico (1983), concebido pela dupla. Grava um disco junto com Os Cariocas, Amigos do Rei – Tim Maia e Os Cariocas (1997). O artista também tem o nome citado em muitas composições, a exemplo de “Eclipse Oculto” (1983), de Caetano Veloso (1942), “W/Brasil” (1993), de Jorge Ben Jor (1942), “Tim” (2004), de Erasmo Carlos, e “Ir para Berlim”, lançada no disco póstumo Pretobrás II – Maldito Vírgula (2010), de Itamar Assumpção (1949-2003).

Ao lado de Jorge Ben Jor, Tim Maia é cultuado pelo rap nacional. Os Racionais MC’s escolhem esse nome inspirados na fase Racional do compositor e usam a base de “Ela Partiu” (gravada em 1977 no disco Tim Maia e Convidados) na música “O Homem na Estrada”.

A fase Racional é um capítulo à parte. Os discos Tim Maia Racional v. 1 e v. 2 são reverenciados como obras-primas da música brasileira pela qualidade das composições, fortemente inspiradas pelo funk e pela soul music. Os discos revelam um cantor em plena forma, já que Tim Maia para de beber e de usar drogas nesta fase. Focado e com a voz mais potente, demonstra talento ímpar nos arranjos das canções. Isso já bastaria para tornar os LPs itens de colecionador, mas o fato de Tim Maia renegar as obras logo em seguida faz com que elas se tornem ainda mais valiosas. Os dois LPs estão entre os mais raros da música brasileira e cobiçados por colecionadores do mundo inteiro.

Fontes de pesquisa 7

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  • ARAÚJO, Paulo Cesar de. Roberto Carlos em detalhes. São Paulo: Editora Planeta, 2006.
  • CARLOS, Erasmo. Minha fama de mau. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MOTTA, Nelson. Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
  • MOTTA, Nelson. Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
  • ROLLING Stone. As 100 Maiores Vozes da Música Brasileira. Revista Rolling Stone, n. 73, out. 2012.
  • TIM MAIA. Site oficial do artista. Disponível em:. Acesso em: 15 ago. 2015.

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