Itamar Assumpção
Texto
Francisco José Itamar de Assumpção (Tietê, São Paulo, 1949 – São Paulo, São Paulo, 2003). Compositor, cantor, violonista e baixista. A relação de Itamar Assumpção com as tradições afro-brasileiras e com o movimento da vanguarda paulista permitiram uma trajetória baseada na mistura de gêneros e nas experimentações de ritmo e da fala cantada, além disso, suas interpretações nas gravações e nas apresentações ao vivo se encontram com a performance.
Itamar é criado pelos avós em um ambiente ligado à música, já que seu avô é músico de banda e organiza batuques em casa. Aos 12 anos passa a morar com os pais na cidade de Arapongas, Paraná. O pai, Januário Assumpção, é pai de santo e Itamar toca atabaque nas reuniões religiosas. Começa a estudar contabilidade, mas não se forma, e aprende a tocar sozinho violão e baixo. Começa a atuar em peças de teatro e espetáculos musicais, conhecendo Arrigo Barnabé. Decide se dedicar exclusivamente à música e muda para São Paulo em 1973.
Em 1975, vence um festival de música em Campinas com a canção campeã Luzia. No mesmo ano apresenta com sucesso "Nego Dito" no festival da Feira da Vila Madalena, São Paulo. Inicia contato com músicos e artistas que formam a vanguarda paulistana (ou vanguarda paulista), que caracteriza-se como um movimento cultural cujo pólo agregador se encontra no Teatro Lira Paulistana, espaço marginal e alternativo de produção. Embora houvesse um caráter de trabalho conjunto e solidário nas ideias e práticas entre seus membros, na realidade o que se concentra e denomina sob esse nome reúne interesses heterogêneos e experiências musicais as mais diversas, como as de Arrigo Barnabé (1951), Premeditando o Breque e Itamar Assumpção.
A obra e a trajetória artística de Itamar devem ser compreendidas na dinâmica cultural mais ampla que se enuncia entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980. Neste momento ecoa entre os jovens o discurso marginal da contracultura, uma prática voltada para uma produção artística “independente”, desvinculada dos mecanismos e sistemas da indústria cultural, que geralmente foca em dois opostos: o mercado e a grande arte. A cidade de São Paulo concentra e revela boa parte das insatisfações com as formas de expressão vigentes, recorrentemente são submetidas à censura devido à ditadura militar no período.
Em 1979, participa com a banda Sabor de Veneno e Arrigo Barnabé do festival de música da TV Cultura de São Paulo com a canção "Diversões Eletrônicas", composta por Arrigo, que vence o festival. Nele são revelados ao grande público os artistas da vanguarda paulistana, entre eles Itamar. Esses jovens músicos fazem do Teatro Lira Paulistana ponto de encontro de todos aqueles que procuram produzir e difundir uma “música independente”. Além dos espetáculos, os donos do teatro criam o selo Lira Paulistana para produzir discos. Nele Itamar grava seus três primeiros discos: Beleléu, Leléu e Eu (1980), com a banda Isca de Polícia, o ao vivo Às Próprias Custas S/A (1983) e Sampa Midnight (1986).
No universo musical esse movimento se desdobra de diversas maneiras: na organização de espetáculos em “espaços alternativos”; na criação de selos, gravadoras e gravações independentes, sem ligação com grandes gravadoras e seus modelos de produção e distribuição; e também na busca de novas linguagens, discursos e narrativas musicais.
Em 1988, grava pelo acordo Continental-Lira Paulistana o disco Intercontinental! Quem Diria! Era Só o que Faltava!, título que alude à participação da gravadora Continental na produção do trabalho. No início da década de 1990, lança pela gravadora independente Baratos Afins a trilogia Bicho de Sete Cabeças acompanhado pela banda Orquídeas do Brasil, formada só por mulheres. Em 1995, ganha o prêmio de melhor cantor do ano concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
Seus poemas com frases curtas, ritmo e rimas inusitadas, associados a inúmeras misturas musicais, fazem brotar a fala cantada e são sinais de sua rebeldia e ruptura. Ao mesmo tempo, eles contrastam com as longas histórias que são contadas nas composições. Por isso muitas vezes a fala predomina e aproxima-se do samba de breque ou do rap. Do ponto de vista musical associado aos gêneros, sua obra pode ser identificada pela fusão entre vários deles sem que necessariamente nenhum prevaleça.
Itamar se considerava herdeiro das tradições afro-brasileiras, experimentadas desde a infância nos cultos religiosos, representadas em sua obra pelo samba, mas as outras escutas e dicções se revelam de maneira explícita em suas canções, no uso dos instrumentos, nos arranjos ou ambientação, como a do reggae, do funk, do rock e também do rap. Itamar arrisca também certas experiências nos limites das dissonâncias, dos ruídos e da fala cantada, certamente produto de suas relações atentas e trocas com outros participantes da vanguarda paulistana. É preciso observar também que suas canções mantém relações diretas e evidentes com a performance, tanto a do intérprete nos discos como nas apresentações ao vivo.
Nos anos 1990 seu trabalho composicional alcança maturidade e ocupa lugar próprio no cenário musical brasileiro. Suas canções são gravadas por intérpretes como Ná Ozzetti (1958), Ney Matogrosso (1941) e Cássia Eller (1961-2001), primeira artista do pop-rock a gravá-lo.
Em 2004 é lançado o disco póstumo Isso vai Dar Repercussão, fruto de sua parceria com o percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016) e em 2012 é lançado, numa coedição entre Itaú Cultural e editora Terceiro Nome, Itamar Assumpção - Cadernos Inéditos, coletânea de textos retirados dos 60 cadernos de anotações do músico, com letras, desenhos e poemas.
A relação de Itamar Assumpção com as tradições afro-brasileiras e com o movimento da vanguarda paulista permitiram uma trajetória baseada na mistura de gêneros e nas experimentações de ritmo e da fala cantada, além disso, suas interpretações nas gravações e nas apresentações ao vivo se encontram com a performance.
Itamar Assumpção trabalha com a mistura e experimentação de gêneros além de colocar a música de encontro com a perfomance em suas apresentações e nas gravações das canções. Suas heranças musicais e o uso da fala cantada o aproximam de diferentes manifestações musicais afro-brasileiras.
Obras 9
Espetáculos 1
Exposições 1
-
4/7/2006 - 16/7/2006
Fontes de pesquisa 7
- CERQUEIRA, Beatriz Lopes Jardim de. “Você já viu aquela menina que tem um balanço diferente?”: a vanguarda musical paulista dos anos 1980. Dissertação de mestrado em História, FFLCH/USP, 2005.
- CHAGAS, Luiz; TARANTINO, Monica. Pretobrás: por que que eu não pensei nisso antes? O livro de canções e histórias de Itamar Assumpção. São Paulo: Ediouro, 2006.
- FALBO, Conrado Vito Rodrigues. Beleléu e Pretobrás: palavra, performance e personagens nas canções de Itamar Assumpção. Dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras, UFPE, 2009.
- FENERICK, José A. Façanhas às próprias custas: a produção musical da vanguarda paulista (1979-2000). São Paulo: Annablume: Fapesp, 2007.
- GUIMARÃES, Antonio Carlos Machado. A “nova música” popular de São Paulo. Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Unicamp, 1985.
- OLIVEIRA, Laerte Fernandes de. Em um porão em São Paulo: o Lira Paulistana e a produção alternativa. São Paulo: Annablume, 2002.
- PALUMBO, Patricia. Vozes do Brasil. Vol. 1, São Paulo: DBA, 2002.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ITAMAR Assumpção.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12536/itamar-assumpcao. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7