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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlo Tamagni

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
08.05.1900
1966 Brasil / São Paulo / São Paulo
Carlo Alessandro Tamagni (Viaduna, Itália 1900 - São Paulo SP 1966). Empresário e colecionador. Desde jovem, interessa-se por questões políticas e envolve-se com os camponeses que trabalham na propriedade de seu pai. Ainda na Itália, aproxima-se do radicalismo de esquerda, o que o obriga a deixar o país na década de 1930, devido à ascensão do fa...

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Biografia
Carlo Alessandro Tamagni (Viaduna, Itália 1900 - São Paulo SP 1966). Empresário e colecionador. Desde jovem, interessa-se por questões políticas e envolve-se com os camponeses que trabalham na propriedade de seu pai. Ainda na Itália, aproxima-se do radicalismo de esquerda, o que o obriga a deixar o país na década de 1930, devido à ascensão do fascismo.

Vem para o Brasil e, no Rio de Janeiro, seu envolvimento com a política prossegue. Em 1942, liga-se ao movimento Italianos Livres, dedicado a combater o fascismo, e convive com outros anarquistas, trotskistas e antifascistas residentes no país, como Pasquale Petraccone, editor do jornal antifascista Italia Libera. Com a perseguição aos movimentos de esquerda durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), Tamagni é preso no Rio de Janeiro. Após um ano na cadeia, transfere-se para São Paulo, e funda uma indústria gráfica voltada para a publicação de autores clássicos. A atuação no setor gráfico e editorial proporciona-lhe prosperidade financeira.

Graças a seu papel como incentivador do meio editorial, aproxima-se de intelectuais e artistas da cena paulistana do período. Possivelmente por suas inclinações políticas e por afinidade cultural, estreita relações com artistas da Família Artística Paulista - FAP, de origem proletária e italiana. No fim dos anos 1940, envolve-se no projeto de criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP.

Na primeira metade dos anos 1950, integra, com outros intelectuais e militantes comunistas como Caio Prado Júnior, David Rosemberg, Elias Chaves Neto, Paulo Alves Pinto e Salomão Schattan, um grupo de discussões que dá origem à Revista Brasiliense, publicada pela editora de mesmo nome.

Nos anos 1960, após a tumultuada assembleia geral do MAM/SP, da qual resulta a dissolução do museu e a doação do acervo por Ciccillo Matarazzo à Universidade de São Paulo - USP, une-se a outros associados na tentativa de reaver o acervo, o que não se efetiva. Em seguida, toma providências para preservar o nome Museu de Arte Moderna de São Paulo e reestruturá-lo. Torna-se tesoureiro da instituição entre 1964 e 1965, durante a presidência do jurista Oscar Pedroso Horta. Desde então, expressa reiteradas vezes a intenção de doar sua coleção ao MAM/SP, o que ocorre um ano após seu falecimento. Embora não tenha deixado testamento, seus herdeiros concretizam seu desejo e, em 1967, o conjunto de 81 obras de sua coleção particular passa a integrar o acervo do museu.

Sua coleção é constituída por artistas que gravitam no ambiente artístico paulistano nas décadas de 1930 e 1940, a maior parte deles próximas a Tamagni, que, segundo afirma Paulo Mendes de Almeida em texto de apresentação da exposição da coleção realizada pelo MAM/SP em 1968, guia-se por critérios afetivos para comprar suas obras, escolhendo-as de modo similar ao que escolhe as amizades. Alguns dos nomes que integram a coleção, como Tarsila do Amaral, Clóvis Graciano, Gerda Brentani e Sérgio Milliet, assinam com ele a ata da assembleia que traça os rumos do novo museu.

As obras da coleção são na maioria pinturas, há também diversos desenhos e algumas gravuras. Parte das aquisições é feita num momento em que os artistas são pouco conhecidos, como os participantes do Grupo Santa Helena. Estão entre as obras cinco pinturas de Alfredo Volpi - um retrato de mulata, marinhas e paisagens produzidas entre o fim dos anos 1920 e 1940 - e diversas paisagens italianas ou interioranas paulistas de artistas como Bonadei, Hugo Adami , Clóvis Graciano, Mário Zanini, Rossi Osir, Vittorio Gobbis e Francisco Rebolo, artista cuja produção Tamagni acompanha até os anos 1960. A tônica social também é marcante nas gravuras de Lívio Abramo adquiridas por Tamagni, que incluem a série Espanha, de 1937. Artistas refugiados da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como o belga Van Rogger e outros estrangeiros, como Karl Plattner, Flexor e Fernando Lemos, também atraem o interesse do colecionador.

Artistas ligados à primeira e segunda fase do modernismo estão contemplados na coleção, que tem Vaso de Flores, 1929, de Di Cavalcanti, e uma Paisagem, 1948, de Tarsila do Amaral, realizada após a efervescência da Semana de 22, além de retratos de José Pancetti produzidos no fim dos anos 1940. Integram ainda a coleção Marcelo Grassmann, Mário Gruber, Aldemir Martins, Arnaldo Pedroso D'Horta, Emídio de Souza e José Antônio da Silva, entre outros. Fazem parte do conjunto quatro retratos do colecionador, pintados por Flexor, Sérgio Milliet, Rossi Osir e Guiliana Giorgi, e uma obra atribuída ao próprio Tamagni.

Esse acervo, que constitui a coleção-base do novo MAM/SP da década de 1960, tem como características a sobriedade, a preferência por artistas cuja produção tenha caráter figurativo, as soluções plásticas que não dialogam diretamente com as vanguardas plásticas do período, mas partem de um enfrentamento constante com a tradição, a escolha de obras em consonância com o debate cultural do período, centrado no papel da arte no projeto de formação de uma identidade nacional brasileira .

Em 1968, a coleção é exposta no Banco Nacional de Minas Gerais, pois o museu não tem ainda uma nova sede. Outra exposição da coleção Tamagni ocorre no Museu Guido Viaro, em Curitiba, em 1983. Na atual sede do MAM/SP, em São Paulo, a coleção é exibida em sua totalidade em 1987, em reconhecimento à importância das obras reunidas por Tamagni no decorrer dos anos, um conjunto significativo de obras modernas do acervo do museu.

Exposições 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • ALMEIDA, Paulo Mendes da. Coleção Carlo Tamagni. Folheto de exposição no Banco Nacional de Minas Gerais. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1968.
  • BARROS, Regina Teixeira de. Revisão de uma história: A criação do Museus de Arte Moderna de São Paulo 1946-1949. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA/USP, 2002.
  • BERTONHA, João Fábio. Políticas em tempos de guerra: a tentativa de reconstrução do antifascismo italiano em São Paulo. Revista de História, São Paulo, n. 137, 2º semestre de 1997.
  • HORTA, Vera. d'. MAM: Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo: DBA Gráficas,1995.
  • LIMA, Heitor Ferreira. Revista Brasiliense: sua época, seu programa, seus colaboradores, suas campanhas. In MORAES, Reginaldo; FERRANTE, Vera & ANTUNES, Ricardo (orgs.). Inteligência Brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1986.
  • O MUSEU de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo: Banco Safra, 1998.
  • SANT'ANNA, Margarida. Coleção Carlo Tamagni. In: Revista do MAM, n. 1:37-40. São Paulo: Lemos Editorial e Gráficos, 1998.

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