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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Marisa Monte

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
01.07.1967 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Marisa de Azevedo Monte (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Cantora, compositora e produtora musical. Aos 6 anos, estuda piano e, aos 9, bateria. Frequenta a Portela desde a infância com seu pai, Carlos Monte, diretor cultural da escola de samba. Aos 14, estuda de canto e teoria musical. No colégio, participa do musical Rocky Horror Show, di...

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Biografia

Marisa de Azevedo Monte (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Cantora, compositora e produtora musical. Aos 6 anos, estuda piano e, aos 9, bateria. Frequenta a Portela desde a infância com seu pai, Carlos Monte, diretor cultural da escola de samba. Aos 14, estuda de canto e teoria musical. No colégio, participa do musical Rocky Horror Show, dirigido por Miguel Falabella (1956). Em 1985, viaja para a Itália e estuda canto lírico. Nesse ano, estreia em disco na faixa “Sábado à Noite”, de Sérgio Sá, da trilha do filme Tropclip (1985), ao lado dos grupos Barão Vermelho e Roupa Nova.

Em 1987, estreia o espetáculo Tudo Veludo, com direção de Nelson Motta (1944). Em 1989, faz especial para a TV Manchete, cujo repertório origina o primeiro álbum, Marisa Monte. Sua voz torna-se conhecida com a canção “Bem Que Se Quis” - versão de Nelson Motta para “E Po’ Che Fa” [Pino Daniele (1955-2015)] -, trilha da novela O Salvador da Pátria (Rede Globo). Estreia como compositora no álbum Mais (1991), com as canções “Eu Sei (Na Mira)”; “Beija Eu”, parceria com Arto Lindsay (1953) e Arnaldo Antunes (1960), e “Ainda Lembro”, com Nando Reis (1963), em que faz dueto com Ed Motta (1971). Produzido por Arto Lindsay, o disco ganha projeção internacional.

Em Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994), atua como coprodutora. A faixa “Segue o Seco” [Carlinhos Brown (1962)] ganha repercussão, e o videoclipe é premiado na edição de 1995 do MTV Video Music Brasil. A turnê é registrada em Barulhinho Bom: Uma Viagem Musical (1996), álbum duplo com outro disco com músicas inéditas, gravadas em estúdio. O CD é lançado com um vídeo, do qual participam Os Novos Baianos, as Pastoras da Velha Guarda da Portela, Paulinho da Viola (1942) e Raphael Rabello (1962-1995).

Produz os discos Omelete Man (1998), de Carlinhos Brown; Tudo Azul (2000), da Velha Guarda da Portela; e Argemiro Patrocínio (2002), do compositor e cavaquinista Argemiro Patrocínio (1923-2003), lançados por selo próprio, Phonomotor Records. Na mesma época, inicia a pesquisa de sambas da tradição oral da Portela. O trabalho serve de base para o documentário O Mistério do Samba, concluído em 2008, do qual é coroteirista e coprodutora.

Em 2000, lança Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, contemplado pelo Prêmio Multishow de Música Brasileira 2001 nas categorias Melhor CD e Melhor Cantora. Com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, grava o CD e o DVD Tribalistas (2002), vencedor do Grammy Latino 2003 de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro.

Em 2006, lança dois álbuns: Infinito Particular, com composições suas e de parceiros, e Universo Ao Meu Redor, explorando repertório de sambistas cariocas. No mesmo ano, inicia a turnê mundial Universo Particular. Entre 2008 e 2014, lança os CDs e DVDs Infinito Ao Meu Redor (2008), O Que Você Quer Saber De Verdade (2011) e Verdade Uma Ilusão (2014). Em Coleção (2016), reúne músicas que não figuram em sua discografia oficial, além de participações em discos de outros artistas e trilhas de filmes.

Análise

A obra de Marisa Monte transita por múltiplas vertentes musicais, presentes desde as primeiras apresentações em público. Nelas, inclui algumas de suas referências: a canção romântica, o pós-tropicalismo, o BRock, o rock internacional, o soul, o reggae e o jazz. O samba, cuja afinidade surge na infância, figura em seu repertório desde a estreia como cantora, com a gravação de “Preciso me Encontrar” [Candeia (1935-1978)], e “Lenda das Sereias” (Vicente Matos, Dinoel e Arlindo Velloso).

O período em que estuda canto lírico na Itália é importante para o domínio da técnica e para a definição de suas preferências musicais. Apesar de não seguir esse estilo, inclui trecho da ópera La Sonnambula - composta pelo italiano Vicenzo Bellini (1801-1835) -, em suas apresentações iniciais, e considera o gênero uma referência para compor. A escuta plural reflete um novo momento da música popular brasileira, no qual a concepção de MPB é alargada, absorvendo diferentes gêneros antes entendidos como exógenos à cultura musical nacional.

Mezzo-soprano eclética, a cantora é capaz de atingir de graves rascantes a agudos operísticos à Maria Callas. Em seus primeiros concertos, nota-se a tendência de procurar sonoridade semelhante às das divas do jazz. Exemplo disso é a interpretação ao vivo de “Speak Low” [Kurt Weill (1900-1950) e Ogden Nash (1902-1971)], em que as referências são as vocalizações guturais da cantora estadunidense Billie Holiday (1915-1959). Já na versão registrada em estúdio, com o andamento mais lento e uso de scats, a tessitura aproxima-se das gravações das cantoras estadunidenses Sarah Vaughan (1924-1990) e Peggy Lee (1920-2002). A experimentação prossegue na versão de “Negro Gato” [Getúlio Cortes (1938)], clássico da jovem guarda transformado em blues, com vocal rasgado. No samba “South American Way” - dos norte-americanos Al Dubin (1981-1945) e Jimmy McHugh (1894-1969), composta sob medida para a intérprete Carmen Miranda (1909-1955) -, faz uma homenagem às rainhas do rádio, reproduzindo as vibrações da letra “r”, características da dicção na música popular na época.

A colagem de canções incidentais demonstra erudição e filiações estéticas e é procedimento comum nos arranjos de início de carreira. Nas versões, “Chocolate” [Tim Maia (1942-1998)], cita “É Proibido Fumar” [Roberto Carlos (1941) e Erasmo Carlos (1941)]; em “Xote das Meninas” [Luiz Gonzaga (1912-1989) e Zé Dantas (1921-1962)], recebe como música incidental “Severina Xique-Xique” [João Gonçalves (1936) e Genival Lacerda (1931)], com rápida menção a “My Heart Belongs to Daddy”, do estadunidense Cole Porter (1891-1964). A canção “Ensaboa” [Cartola (1908-1980)], é reconstruída com trechos de “Lamento da Lavadeira” [Monsueto (1924-1973), Nilo Chagas (1917- 1973) e João Violão], acrescida de um medley de “Marinheiro Só” (canção folclórica), “A Felicidade” [Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980)], “Eu Sou Negão” (Gerônimo) e “Sorrow, Tears and Blood”, da nigeriana Fela Kuti (1938-1997). O arranjo instrumental híbrido mistura ritmos que remetem à música tradicional brasileira (como o lundu) e contemporânea internacional (como o afrobeat), conciliando pandeiro e guitarra, metais do soul e coro das pastoras da Portela.

Se, no início da carreira, a cantora recorre a obras de outros compositores, o traço autoral encontra-se na escolha do repertório e na expressividade das interpretações. Da mesma forma, parcerias com compositores, arranjadores e produtores são escolhidas de acordo com a proposta de cada trabalho: com Arto Lindsay, alcança o circuito internacional; no acompanhamento musical, Paulo Moura, Naná Vasconcelos (1944-2016) e o conjunto Época de Ouro imprimem diferentes texturas às músicas. Construindo uma trajetória baseada nos palcos, a cantora escolhe o momento de gravar cada disco, o que explica o volume pequeno - 11 em quase 30 anos de atuação.

A partir da atividade como compositora, seu trabalho passa a ser assimilado por um público mais amplo. Aos poucos, abandona a aura de diva, assume gestual mais suave e um repertório mais popular, com acenos ao estilo romântico brega, combinado com a performance como instrumentista. Embora faça harmonias e letras, tem mais facilidade para compor melodias. Nesse momento, busca aproximar-se de músicos brasileiros, estabelecendo parcerias com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

Seu trabalho desenvolve-se concomitante à produção de videoclipes no Brasil, com a inauguração da filial da emissora MTV no país, em 1990. Desde o início, a cantora cerca-se de profissionais ligados ao cinema, às artes plásticas e visuais, que colaboram com um projeto artístico que transcende a dimensão musical. A criação audiovisual complementar aos CDs e as capas assinadas por artistas plásticos são frequentes em suas produções. É o caso da direção de arte do cenógrafo Gringo Cardia (1957), para o CD Barulhinho Bom: capa e encarte trazem reproduções de desenhos de Carlos Zéfiro (1921-1992).

A cantora exerce protagonismo frente à gestão de seus projetos, à produção musical e à própria imagem. Em Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, lançado também como songbook, a artista assume o posto de fotógrafa, fazendo registros caseiros e amadores, organizados para de compor uma narrativa pessoal, afetiva e não linear.

Aliando tradição e modernidade, Marisa Monte constrói uma ponte entre gerações, levando a um público mais amplo canções inéditas e restritas à oralidade de seus circuitos de origem. Sobretudo com relação ao samba, dedicando-se à pesquisa e produção de compositores da Velha Guarda da Portela.

Obras 4

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Fontes de pesquisa 6

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  • AMARO, Rusvel Nantes D. Intimidade performada: a gestão da visibilidade em Memórias, crônicas e declarações de amor, de Marisa Monte. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
  • COELHO, Sergio Salvia. Marisa Monte. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). Música popular brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. (Folha Explica).
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
  • MARISA MONTE. Site oficial da artista. Disponível em: < http://www.marisamonte.com.br/ >. Acesso em: 3 out. de 2016.
  • VILLAÇA, Túlio C. De Cartola a Fela Cuti - cantos de trabalho e mentalidade colonial. In: VILLAÇA, Túlio C. Sobre a canção: e seu entorno e o que ela pode se tornar. Rio de Janeiro, 29 dez. 2011. Disponível em: < https://tuliovillaca.wordpress.com/2011/12/29/de-cartola-a-fela-cuti-cantos-de-trabalho-e-mentalidade-colonial/ >. Acesso em: 10 de out. 2016.
  • WEINSCHELBAUM, Violeta. Estação Brasil: conversas com músicos brasileiros. tradução Chico Mattoso. São Paulo, SP: 34, 2006.

Como citar

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