Arnaldo Antunes
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Cor, luz, mente
Arnaldo Antunes, Julio Plaza, Haroldo de Campos, Ricardo Araújo, Augusto Campos
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Coleção Anabela Plaza
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Biografia
Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho (São Paulo SP 1960). Compositor, poeta, cantor, artista visual e performer. Aos 15 anos, ingressa no Equipe, colégio paulistano conhecido pela ênfase na formação artística e humanística, e começa a compor em parceria com o colega de classe Paulo Miklos e a escrever poesia. Em 1978, ingressa no curso de letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), que não chega a concluir. No início dos anos 1980, ao lado de Miklos e dos artistas plásticos José Roberto Aguilar e Go (Regina de Bastos Carvalho, sua primeira esposa), integra o grupo músico-teatral Aguilar e Banda Performática, com o qual grava um disco independente em 1982. Nesse mesmo ano, com ex-colegas do colégio, funda a banda Titãs do Iê-Iê, da qual participa como compositor e vocalista. Rebatizado apenas como Titãs, o grupo lança em 1984 o primeiro disco, com grande sucesso. Devido à popularidade do conjunto, Antunes torna-se conhecido nacionalmente. Tem canções gravadas por inúmeros artistas, como Belchior, Marisa Monte, e bandas, como Barão Vermelho, além de compor com diversas parcerias. Ainda nos anos 1980, edita revistas literárias, participa de mostras de caligrafia e publica seus primeiros livros de poesia, inicialmente em edição artesanal - Ou E, de 1983 -, depois pela editora Iluminuras.
Em 1992, deixa os Titãs, mas continua compondo com o grupo. Inicia então carreira solo, lançando em média um disco a cada dois anos: Nome (1993), o primeiro deles, é também livro e vídeo. Seguem-se Ninguém (1995), O Silêncio (1996), Um Som (1998) e Paradeiro (2001). Em parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown, lança em 2002 o CD-DVD Tribalistas, que vende 1,5 milhão de cópias por causa do hit Já Sei Namorar. Cria seu próprio selo, Rosa Celeste, em 2004, pelo qual lança Saiba (2004), Qualquer (2006), Ao Vivo no Estúdio (2007) e IêIêIê (2009). Em 2010, lança o DVD Ao Vivo Lá em Casa, dirigido por Andrucha Waddington, e conta com aparticipação de Betão Aguiar, Chico Salem, Curumin, Edgard Scandurra, Marcelo Jeneci, Demônios da Garoa, Erasmo Carlos, Fernando Catatau e Jorge Benjor.
Tem canções utilizadas em diversos filmes e compõe trilha sonora para o espetáculo O Corpo, 2000, do Grupo Corpo. Paralelamente à carreira de músico e poeta, Antunes participa de diversas mostras de artes visuais e performáticas, no Brasil e no exterior, atuando como expositor, performer e curador. Trabalha em parceria com grandes nomes da música brasileira, como Jorge Ben Jor (Cabelo), Alice Ruiz (Socorro), Pepeu Gomes (Alma), Gilberto Gil (As Coisas), Péricles Cavalcanti (Eva e Eu), Marina Lima (Grávida) e Roberto Frejat (Lente).
Comentário Crítico
No início dos anos 1980, muito antes de o termo "artista multimídia" se popularizar, Arnaldo Antunes pode ser assim classificado. Em apresentações com o grupo Aguilar e Banda Performática, ele canta, expõe sua arte caligráfica, recita trechos da lista telefônica mesclados a passagens da Bíblia, "toca" extintor de incêndio e pratica atitudes nonsense, como pentear um disco. Tamanha irreverência e capacidade de subverter o lugar e o sentido das coisas transparecem também em suas canções.
Criado no fim da ditadura militar, numa época em que os discursos de esquerda soam desgastados, Antunes se interessa menos pela revolução idealizada nas palavras de ordem do que por aquela gerada na desordem das palavras - não por acaso, o título de um de seus livros de poemas é, justamente, Palavra Desordem, 2000. Daí jogar constantemente com a linguagem, em canções como O que, 1986, cujos versos ("O que não é o que não pode ser que/ Não é o que não pode/ Ser que não é") brincam com o sentido e a sonoridade de expressões banais, como "é", "não é" e "pode ser". Antunes tem uma poética desdramatizada que, em vez de lamentar a realidade, age sobre ela por meio da linguagem, quebrando regras formais, subvertendo a sintaxe e criando associações inusitadas. Influenciado pelas vanguardas modernas, em especial o concretismo paulista dos anos 1950,¹ ele procura transformar o óbvio no inesperado.
O olhar virgem que as poesias e letras de Antunes lançam sobre o mundo remete, muitas vezes, ao universo infantil. Os versos de Pavimentação, gravada no segundo disco dos Titãs - Televisão, 1985 -, são constatações adultas de questionamentos infantis: "Ninguém sabe como o plástico é feito,/ Ninguém sabe./ Como o leite é feito ninguém sabe,/ Não se sabe". Ao mesmo tempo, a canção parece denunciar o fetiche das coisas prontas, ao lembrar que tudo é feito por alguém ("Mas do que é feito o chão?/ É feito de pedra,/ É feito de pixe./ É feito de pedra e pixe./ Pá pá pá pavimentação, pavimenta,/ Menta, mentalização!"), a repetição da sílaba "pá" mimetizando o som emitido pelos operários que pavimentam a rua, enquanto a palavra "menta" opõe a materialidade do chão a sua ideia ou representação mental. Outras vezes, a alusão ao universo infantil é mais direta, com o uso da sintaxe e da lógica próprias das crianças. Beija Eu, gravada por Marisa Monte no disco Mais (1991), faz referência ao modo de falar da filha do compositor, então com 2 anos; Cultura (1993) propõe definições que bem poderiam ter sido formuladas pela petizada ("O girino é o peixinho do sapo/ o silêncio é o começo do papo/ o bigode é a antena do gato/ o cavalo é pasto do carrapato"). Resultando o sucesso de suas canções voltadas para a criançada, boa parte delas feita em parceria com Paulo Tatit, do grupo Palavra Cantada. Em 2009, grava para esse mesmo público o CD Pequeno Cidadão, em parceria com Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto.
As letras de Antunes revelam ainda um sentimento de nãopertencimento, explícito nos versos de Lugar Nenhum, 1987: "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro/ Não sou de nenhum lugar, sou de lugar nenhum, sou de lugar nenhum". Em reação, talvez, ao nacional-popular das décadas de 1960 e 1970, sua obra aponta para a fusão e a antropofagia cultural, uma clara herança tropicalista. Esta se reflete na diversidade de estilos do músico, que inicia a carreira no rock, aventura-se pelo pop, pelo samba e chega até a flertar com o brega ao lado dos tribalistas. Com isso, propõe uma quebra de fronteiras, não só entre os gêneros, mas também entre os repertórios (erudito x popular; sofisticado x de massa), desejoso de fazer uma música elaborada que obtenha a maior repercussão possível.
Muitas das canções que compõe com os Titãs, como Bichos Escrotos, Cabeça Dinossauro, Comida, Televisão, Miséria e Pulso, transcendem a banda e integram a memória coletiva. Versos como "miséria é miséria em qualquer canto", "a gente não quer só comida" ou "o pulso ainda pulsa" tornam-se slogans de uma geração.
Nota
1 Movimento poético surgido em São Paulo, em torno da revista Noigrandes, lançada em 1952 pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. As poesias do movimento distinguem-se pelo forte caráter gráfico e metalinguístico.
Obras 9
Cor, luz, mente
Desenvolve
Pé
Espetáculos de dança 1
Exposições 63
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10/1987 - 11/1987
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23/9/1993 - 2/10/1993
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24/4/1994 - 29/5/1994
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 4
- ANTUNES, Arnaldo. Como é que chama o nome disso: antologia. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 39.
- MARMO, Hérica e ALZER, Luiz André. A vida parece uma festa: toda a história dos Titãs. Rio de Janeiro: Record, 2003.
- PALUMBO, Patricia. Vozes do Brasil. Apresentação Patricia Palumbo. São Paulo: DBA, 2002.
- WEINSCHELBAUM, Violeta. Estação Brasil: conversa com músicos brasileiros. São Paulo, Ed. 34, 2007. p. 47-61.
Como citar
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ARNALDO Antunes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2878/arnaldo-antunes. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7