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Cinema

Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.05.2024
1965 Brasil / Distrito Federal / Brasília
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) é o festival de cinema mais antigo do país. Trata-se de um evento fundamental para a consolidação da importância do cinema nacional e a ampliação de seu público. 

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O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) é o festival de cinema mais antigo do país. Trata-se de um evento fundamental para a consolidação da importância do cinema nacional e a ampliação de seu público. 

A primeira edição do evento acontece em 1965, sob o nome de 1ª Semana do Cinema Brasileiro. A iniciativa é um desdobramento das discussões realizadas no curso de cinema da Universidade Federal de Brasília (UNB), criado no ano anterior. O seu principal articulador é o crítico e professor universitário paulista Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977), celebrado como figura significativa da memória do festival. A relevância adquirida pelo movimento conhecido como cinema novo, cujo expoente é o diretor baiano Glauber Rocha (1939-1981), é decisiva para impulsionar a criação do evento, que conta com críticos e cineastas ligados ao movimento desde o início, como Jean-Claude Bernardet (1936) e Nelson Pereira do Santos (1928-2018). Filmes considerados como fundamentais para a historiografia do cinema brasileiro são exibidos já nesta edição, como o documentário Viramundo (1964-1965), do cineasta baiano Geraldo Sarno (1938-2022), e o longa-metragem de ficção A falecida (1965), do realizador cinemanovista Leon Hirszman (1937-1987)

Paulo Emílio preside a comissão coordenadora da 1ª Semana do Cinema Brasileiro com diretrizes que apontam para a popularização do cinema nacional. Para compor o júri de premiação dos filmes, o professor estrategicamente seleciona não só especialistas em cinema, mas também deputados, esportistas e diplomatas famosos. Trata-se de uma tentativa de angariar um público que extrapole os especialistas. Em frase suscinta, o professor argumenta: “O cinema é interessante demais para ficar a mercê de seus críticos”1. Apenas em 1967, o evento assume o título de Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. 

Desde o primeiro ano, o festival lida com a censura exercida pela ditadura militar (1964-1985)2. O filme O desafio (1964), do diretor Paulo César Saraceni (1933-2012), por exemplo, é retido pelos censores por seis meses e liberado logo antes do festival. O entrave gera expectativa e leva três mil pessoas ao Cine Brasília, que contava com apenas mil e quinhentos lugares. Com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), promulgado em 1968, a censura aumenta e mesmo filmes autorizados, muitas vezes, passam por cortes prévios. No ano de 1971, o documentário O país de São Saruê, do cineasta Vladimir Carvalho (1935), que denuncia a exploração de lavradores e garimpeiros do sertão nordestino, é censurado. A sessão que seria dedicada ao longa é substituída pelo filme Brasil bom de bola (1970), do produtor Carlos Niemeyer (1920-1999), que apresenta imagens do então presidente da república Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) recebendo a seleção brasileira de futebol no Palácio do Planalto. A exibição se dá com vaias intensas. Essa tensão com a ditadura militar faz com que o festival fique impossibilitado de acontecer nos três anos seguintes. 

Em 1978, cineastas ligados ao movimento conhecido como cinema marginal (1968-1973)3, realizam uma mostra paralela às principais competições do festival e chamam a atenção do público mais jovem, além dos críticos mais consagrados. A mostra Filme Brasileiro de Horror conta com filmes como Sem essa, Aranha (1970), de Rogério Sganzerla (1946-2004), O anjo nasceu (1969), de Júlio Bressane (1946), e Delírios de um anormal (1978), de José Mojica Marins (1936-2020). Os debates entre os realizadores e o fundador do festival são documentados no filme Horror Palace Hotel (1978), do crítico e realizador Jairo Ferreira (1945-2003). A conclusão das discussões do grupo é “o horror não está no horror”, referindo-se à realidade política brasileira como locus do verdadeiro horror. 

Em 2011, o FBCB sofre uma interpelação política de Adirley Queirós (1970), um dos realizadores mais premiados na história do festival, junto ao coletivo Ceicine, de realizadores periféricos da cidade satélite Ceilândia. Com uma carta aberta4, o grupo anuncia a retirada de A cidade é uma só? (2011) da seleção oficial do evento. Denuncia-se a ausência de ações contundentes de democratização do acesso à programação do festival para o público periférico. Esse acontecimento mostra como, a partir da década de 2010, abrem-se novas perspectivas acerca do cinema brasileiro. Isso é fruto das gestões de Gilberto Gil (1942) e Juca Ferreira (1949) no Ministério da Cultura (2003-2011) que, com a criação de políticas públicas, propiciam a produção de filmes fora do eixo Rio-São Paulo e ampliam a presença de pessoas não brancas, negras e indígenas na produção audiovisual, que passam a participar com mais frequência do festival. 

Na edição de 2017 do FBCB, a diretora baiana Glenda Nicácio (1992) recebe o Prêmio Petrobrás de Cinema por Café com canela (2016), codirigido por cineasta Ary Rosa (1987). A premiação permite que, pela segunda vez na história, um longa-metragem dirigido por uma mulher negra chegue às salas comerciais do Brasil. No ano de 2018, o festival cria o Prêmio Leila Diniz que, além de homenagear a atriz, dedica-se a memorar mulheres que se destacam nos diferentes setores da produção cinematográfica. A primeira premiada é a montadora Cristina Amaral (1954), então com 40 anos de carreira, tendo colaborado com importantes cineastas como Andrea Tonacci (1944-2016) e Carlos Reichenbach (1945-2012)

Por ser o festival de cinema mais antigo do país, com um público participativo e curadorias sensíveis às transformações históricas, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro se torna um espaço crucial para compreender as inovações da linguagem cinematográfica nacional, bem como se revela como fonte importante para perceber as mudanças sociais que marcam a história do país.

Notas

1. GOMES, Paulo Emílio Salles. Uma situação colonial? [e-book]. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

2. Assim denominada por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

3. A terminologia “cinema marginal” e o recorte histórico apresentado são extraídos das pesquisas do professor Fernão Ramos. Ver mais no livro: RAMOS, Fernão. Cinema Marginal (1968-1973): a representação em seu limite. São Paulo: Brasiliense, 1987.

4. Carta disponível no site da Revista Zagaia, onde foi publicada originalmente. CEICINE. Carta de esclarecimento do Ceicine sobre a retirada do filme A cidade é uma só do Festival de Brasília (Agosto de 2011) – Por um Festival de Brasília digno de sua história, por uma política pública digna de Ceilândia. Revista Zagaia, 28 abr. 2012. Disponível em: https://zagaiaemrevista.com.br/article/carta-de-esclarecimento-do-ceicine-sobre-a-retirada-do-filme-a-cidade-e-uma-so-do-festival-de-brasilia-agosto-de-2011/. Acesso em: 5 ago. 2022. 

Fontes de pesquisa 8

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