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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Paulo Emilio Salles Gomes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.07.2024
17.12.1916 Brasil / São Paulo / São Paulo
09.09.1977 Brasil / São Paulo / São Paulo
Paulo Emílio Salles Gomes (São Paulo, São Paulo, 1916 - Idem, 1977).  Ensaísta, crítico de cinema, professor, escritor, roteirista. Tem importante papel na construção de uma historiografia do cinema nacional, além de ser um dos pioneiros na busca pela preservação e difusão da memória do cinema, seja através de suas produções escritas, seja pela ...

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Paulo Emílio Salles Gomes (São Paulo, São Paulo, 1916 - Idem, 1977).  Ensaísta, crítico de cinema, professor, escritor, roteirista. Tem importante papel na construção de uma historiografia do cinema nacional, além de ser um dos pioneiros na busca pela preservação e difusão da memória do cinema, seja através de suas produções escritas, seja pela institucionalização de acervos e sua preservação.

Em 1935, em parceria com Décio de Almeida Prado (1917-2000), publica a única edição da revista Movimento, de inspiração modernista. É militante de esquerda e em dezembro de 1935, é preso pelo governo Getúlio Vargas. Em 1937, escapa do presídio Maria Zélia e parte para a França, onde fica até eclodir a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Lá, conhece Plínio Sussekind Rocha (1911-1972), antigo membro do Chaplin-Club (1929-1931), responsável pelo seu interesse em cinema.

Volta ao Brasil e ingressa no curso de filosofia, da Universidade de São Paulo (USP), em 1940. No mesmo ano, com intelectuais como Antonio Candido (1918-2017), funda o Clube de Cinema de São Paulo, fechado em 1941 pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), e a revista de cultura Clima (1941), nal qual é responsável pela seção de cinema.

Na revista, o autor desenvolve o trabalho como crítico de cinema e ensaísta. Debruça-se para além do tema e do conteúdo e escreve sobre a linguagem do cinema. Nessa fase, escreve apenas sobre filmes estrangeiros. Em 1946, volta à França, quando se engaja na preservação cinematográfica e pesquisa o cineasta francês Jean Vigo (1905-1934) e seu pai, o militante anarquista Miguel Almereyda (1883-1917). A pesquisa resulta no livro Jean Vigo (1957). Publicada no Brasil em 1984 e que busca desvendar as inspirações, características e o estilo de sua obra, que, segundo Paulo Emílio, fundamenta-se na compreensão do legado do pai.

Transitando por diferentes formas de pensar o cinema, destacam-se em sua obra as vertentes de crítico e ensaísta, que se complementam buscando a reflexão e a pesquisa histórica e a de educador e preservador, que acredita no debate e na difusão dos filmes.

Retorna ao Brasil em 1954, para realizar o 1º Festival internacional de Cinema de São Paulo e projeta outra forma de pensar o cinema: uma cinemateca fortalecida e uma crítica atualizada, centradas na produção local, não tratada por ele anteriormente. Assim, dedica-se à consolidação das atividades de preservação de filmes sendo um dos fundadores da Fundação Cinemateca Brasileira, em 1956, que dirige e implementa atividades como exibição de vídeos e debates. A instituição teve como origem a Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que havia sido criada dentro do espírito do antigo Cine-Clube criado na USP por ele e seus amigos. 

Na sua atividade crítica, introduz análises dos entraves encontrados pela produção de filmes no Brasil. Colabora no “Suplemento Literário”, do jornal O Estado de S. Paulo entre 1956 e 1965, quando escreve “Uma Situação Colonial?”. O ensaio transcreve a comunicação proferida na Primeira Convenção Nacional da Crítica Cinematográfica, base para os estudos e a militância de Paulo Emílio pelo cinema. 

A partir de meados dos anos 1960, dedica-se à formação, participando em 1964 da criação do curso de cinema na Universidade de Brasília. Também é o criador da 1ª Semana do Cinema Brasileiro, em 1965, que dá origem ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O ensaio “Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento”, publicado na edição nº 1 da revista Argumento, em 1973, aprofunda o texto do “Suplemento” e renova sua interpretação historiográfica. Segundo o autor, pelo subdesenvolvimento do país, o cinema nacional não pode ser protagonista em sua terra de origem. A começar pela condição de colônia, sem identidade própria, no que ele chama de “a dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro”. O cinema, assim, vem ao Brasil como mercadoria importada, que exerce o domínio sobre a população. 

No ensaio, Paulo Emílio expande a ideia de que os filmes nacionais, apesar de simularem uma narrativa estética e estilística de Hollywood, trazem na precariedade da realização marcos distintivos de nossa cultura uma falsa assimilação. Para o autor, só com o cinema novo que a produção brasileira rompe com tal tendência, ao inferir, divulgar e refletir sobre a condição subdesenvolvida, mas sem respaldo de um público massivo.

Em parceria com Lygia Fagundes Telles (1923), faz o roteiro do filme Capitu (1968), de Paulo César Saraceni (1933-2012) e, com David Neves (1938-1994), o de Memória de Helena (1969), de Neves. Integra o corpo docente da Escola de Comunicações Culturais da USP1, em 1967.

A formulação de uma historiografia é evidente na sua tese de doutorado (1972) sobre Humberto Mauro (1897-1983). A pesquisa traça a origem do cineasta, sua formação e afins. Delimita as influências de Mauro, como a conjuntura histórica de sua cidade natal, a mineira Cataguases, ou o respaldo e diálogo com a revista Cinearte (1926-1944). Como resultado da tese, publica o livro Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte (1974), onde o  autor alterna crônica, descrição, perfil biográfico e análise dos filmes para apresentar a obra do cineasta antes de se profissionalizar no Rio de Janeiro a partir de 1930. Publica, em 1977, seu único trabalho na literatura com a série de novelas Três Mulheres de Três Pppês, vencedora do Prêmio Jabuti.

Apesar de demonstrar predileção pelo cinema novo e pelo cinema marginal, Paulo Emilio evidencia a necessidade de estudo e difusão de todo o cinema brasileiro, desde os “maus” filmes até os “bons”, contrariando a crítica do período. Segundo o crítico, o filme considerado de má qualidade, indica um exercício criativo mesmo sob as poucas condições para se fazer filmes no país. 

Além do texto escrito, Paulo Emílio acredita no poder da exibição e da discussão dos filmes. Resgata, assim, uma atitude política com ênfase ao cinema brasileiro além de dar continuidade ao seu sistemático empenho pela consolidação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna (MAM/SP) e da Cinemateca Brasileira, para preservação e difusão da produção cinematográfica nacional.

Nota

1. Fundada em 1966 com o nome de Escola de Comunicações Culturais, tem seu nome alterado, três nos depois, para Escola de Comunicações e Artes (ECA), em 1966.

Fontes de pesquisa 11

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  • CAETANO, Maria do Rosário (Org.). Paulo Emílio Salles Gomes: o homem que amava o cinema e nós que o amávamos tanto. Brasília: Secretaria de Cultura do Distrito Federal, 2012.
  • CALIL, Carlos Augusto; MACHADO, Maria Teresa (Org.). Paulo Emilio: um intelectual na linha de frente. São Paulo: Brasiliense; Rio de Janeiro: Embrafilme, 1986.
  • GOMES, Paulo Emilio Salles. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. Crítica de cinema no Suplemento Literário. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. v.2.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. Crítica de cinema no Suplemento Literário. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1981. v.1.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Perspectiva: Edusp, 1974.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. Jean Vigo. São Paulo: Cosac Naify: Edições SESC-SP, 2009.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. O cinema no século. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
  • GOMES, Paulo Emílio Salles. Vigo, Vulgo Almereyda. São Paulo: Cosac Naify: Edições SESC-SP, 2009.
  • MENDES, Adilson. Trajetória de Paulo Emilio. Cotia: Ateliê Editorial, 2013.
  • SOUZA, José Inácio de Melo. Paulo Emilio no paraíso. Rio de Janeiro: Record, 2002.

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