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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Rogério Sganzerla

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.08.2024
1946 Brasil / Santa Catarina / Joaçaba
09.01.2004 Brasil / São Paulo / São Paulo
Rogério Sganzerla (Joaçaba, Santa Catarina, 1946 – São Paulo, São Paulo, 2004). Cineasta, crítico de cinema. É nome referencial do cinema autoral, independente, produzido a partir dos anos 1960. Seus filmes de baixo orçamento utilizam o tom paródico, irreverente e verborrágico como síntese das angústias, da energia criativa e da resistência artí...

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Rogério Sganzerla (Joaçaba, Santa Catarina, 1946 – São Paulo, São Paulo, 2004). Cineasta, crítico de cinema. É nome referencial do cinema autoral, independente, produzido a partir dos anos 1960. Seus filmes de baixo orçamento utilizam o tom paródico, irreverente e verborrágico como síntese das angústias, da energia criativa e da resistência artística no Brasil.

Em 1959, com apenas 13 anos, frequenta o cineclube do colégio onde estuda, em Florianópolis. Dois anos depois, em São Paulo, acompanha os ciclos da Cinemateca Brasileira. Interessa-se pelo cinema novo e descobre os filmes do norte-americano Orson Welles (1915-1985), futuro tema de sua produção. Ingressa, em 1963, no curso de direito da Universidade Mackenzie, que não conclui. Passa a escrever sobre cinema no suplemento literário do jornal O Estado de S. Paulo. Segue o ofício nos periódicos Jornal da Tarde e Folha da Tarde, entre 1966 e 1968.

Ainda em 1966, dirige em 16 mm seu primeiro curta-metragem, o ficcional Documentário. A reflexão sobre o ver e o fazer cinema se esboça nas andanças de dois jovens em busca de um filme para assistir, mas, exigentes, não conseguem. Sua câmera, em registro direto e naturalista das personagens, associa o filme ao chamado cinema-verdade francês e à produção independente norte-americana. É considerado um dos projetos precursores do chamado cinema marginal.

Em 1968, estreia no longa-metragem em 35 mm com O bandido da luz vermelha, no qual dramatiza em tom de paródia a história do lendário criminoso João Acácio Pereira da Costa (1942-1998). Condenado no ano anterior por assalto e assassinato, Acácio morre em uma briga de bar. No filme, ele se suicida. Único sucesso de público do cineasta, é recebido pela crítica como inovador e radical em seu jogo de metalinguagem, a partir de referências de conotação popular, televisiva e musical. A proposta é avacalhar, como diz o protagonista.

O universo dos quadrinhos, explorado em dois curtas, serve ao longa seguinte, A mulher de todos (1969). Helena Ignez (1939), casada com o cineasta e presente em O bandido da luz vermelha no papel de uma pistoleira, agora protagoniza uma mulher insaciável no sexo. O clima é de pastelão, em uma homenagem do realizador à chanchada.

Muda-se para o Rio de Janeiro e, com Ignez e o diretor carioca Julio Bressane (1946), inicia a produtora Belair, dedicada a projetos de baixo custo. Graças a esse modelo, dirige três longas ficcionais, todos em 1970. Carnaval na lama, como os demais projetos, quase não circula ao ser censurado pela ditadura militar1. Os negativos originais se perdem em 1992 e a única cópia depositada na Cinemateca Brasileira permanece em péssimo estado. Restam as palavras do diretor sobre a obra: uma reclusão neurótica diante do totalitarismo.

Sem essa aranha (1970), nova direção na Belair, renova o preceito desabusado e alegórico de A mulher de todos. Um capitalista envolvido com três mulheres delira e se crê em exílio no Paraguai. Em piscadela irônica, o cineasta estabelece a personagem nos morros cariocas do jogo do bicho e dos botecos. De novo o realismo em montagem imperceptível, conferindo espontaneidade aos tipos.

Com Copacabana, Mon Amour (1970), sua câmera se volta a um bairro de classe média no qual os dois mundos convivem. Uma jovem que sonha em cantar na Rádio Nacional se prostitui, enquanto seu irmão homossexual é um doméstico apaixonado pelo patrão, sem saber estar enfeitiçado por práticas do candomblé. Representam o ideal inalcançável, a exploração inerente ao subdesenvolvimento. É um retrato do Brasil em crise, mas que alude à riqueza de significados da miséria.

A perseguição pelo regime civil-militar obriga o trio ao exílio. Em 1977, retorna ao Brasil e ao seu modo de fazer cinema sem convenções no longa Abismu (1977). Em clima de film noir, alia ocultismo, filosofia e mediunidade, na trama de assassinato testemunhado por um fotógrafo e egiptólogo, então perseguido por uma misteriosa mulher fatal.

Na segunda metade dos anos 1980, inicia a fase dedicada ao cineasta de paixão, Orson Welles. Nem tudo é verdade (1985) abre a trilogia no formato documental e de ficção ao reconstituir a vinda do diretor ao país, em 1942, para um projeto por fim malogrado. A crítica identifica a complexa tarefa de constituir um modelo cinematográfico nacional frente à pressão de uma indústria cultural potente.

Em 1997, Tudo é Brasil vai aos bastidores de It’s all true, o longa abortado de Welles, em trato semi-documental. O olhar estrangeiro à criatividade local, no cotidiano dos subúrbios cariocas, inclui os jangadeiros de Fortaleza, maiores personagens da epopeia não filmada. Para especialistas, é um filme político, de caráter antropológico e dos mais perfeitos na realização. Em 2001, lança o livro Por um cinema sem limite, uma compilação de seus artigos e críticas.

Filme testamento, O signo do caos (2003) encerra a relação intensa do diretor com seu gênio do cinema. Dá-se em chave autorreferente, ao confrontar a repressão sofrida pelo diretor com aquela empreendida pela personagem, Dr. Amnésio, um censor do Estado Novo. Este quer a todo custo queimar os negativos existentes de It’s all true. Sganzerla filma em 35 mm e 16 mm, em preto e branco e colorido. O longa é tido como ato de resistência, crítica sarcástica e corrosiva sobre o esforço de filmar no país que despreza a cultura.

A personalidade inquieta, inconformada com o estado de coisas que tolhe a liberdade criativa de um cinema em busca de identidade está impressa na obra de Sganzerla. Seus filmes de variado repertório de apropriações denotam o autor cultivado, mas igualmente empenhado em ser popular.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 5

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Exposições 7

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Fontes de pesquisa 11

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