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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Concretismo nas artes visuais

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 07.02.2024
Reprodução fotográfica Isabella Matheus

Idéia Visível, 1957
Waldemar Cordeiro
Esmalte sobre hardboard
100,00 cm x 100,00 cm
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil

A arte concreta deve ser compreendida como parte do movimento abstracionista moderno, com raízes em experiências como a do grupo De Stijl [O Estilo], criado em 1917, na Holanda por Piet Mondrian (1872-1944), Theo van Doesburg (1883-1931), Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964), entre outros. A abstração geométrica testada pelo grupo holandês ecoa, c...

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Definição

A arte concreta deve ser compreendida como parte do movimento abstracionista moderno, com raízes em experiências como a do grupo De Stijl [O Estilo], criado em 1917, na Holanda por Piet Mondrian (1872-1944), Theo van Doesburg (1883-1931), Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964), entre outros. A abstração geométrica testada pelo grupo holandês ecoa, com novos matizes, no manifesto Arte Concreta, redigido por Van Doesburg, em 1930, em oposição a outras tendências abstratas, por exemplo, as professadas pelo grupo Cercle et Carré, fundado em 1929 pelo crítico Michel Seuphor (1901-1999) e o pintor Joaquín Torres-García (1874-1949), em Paris. O termo arte concreta é retomado por outros artistas, como Wassily Kandinsky (1866-1944) por exemplo, popularizando-se com Max Bill (1908-1994), ex-aluno da Bauhaus.

Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ele próprio. A pintura concreta é "não abstrata", afirma Van Doesburg em seu manifesto, "pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma cor, uma superfície". Max Bill explora essa concepção de arte concreta defendendo a incorporação de processos matemáticos à composição artística e a autonomia da arte em relação ao mundo natural. A obra de arte não representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos relacionados, que falam por si mesmos.

Menos que alardear um novo movimento, a noção de arte concreta visa rediscutir a linguagem plástica moderna. Os suíços, especialmente Max Bill, Richard Paul Lohse (1902), Verena Loewensberg (1912-1986), recolocam o problema da bidimensionalidade do espaço pictórico introduzido pelo cubismo ao definir o quadro como suporte sobre o qual a realidade é reconstruída, e passível de ser apreendida de múltiplos ângulos. Assim, com os concretos, a pintura se aproxima de modo cada vez mais radical da escultura, da arquitetura e dos relevos. Da pauta do grupo fazem parte também pesquisas sobre percepção visual, informadas pela teoria da gestalt, e a defesa da integração da arte na sociedade pela participação do artista nos vários setores da vida urbana, ênfases da Hochschule für Gestaltung (HfG) [Escola Superior da Forma], fundada por Max Bill, em Ulm, Alemanha, em 1951, e que dá prosseguimento ao projeto Bauhaus.

Bill é o principal responsável pela entrada desse ideário plástico na América Latina, sobretudo na Argentina e no Brasil, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A exposição do artista em 1951 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e a presença da delegação suíça na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no mesmo ano, abrem as portas do país para as novas tendências construtivas, que são amplamente exploradas a partir de então. Os prêmios concedidos à escultura Unidade Tripartida de Max Bill, e à tela Formas, de Ivan Serpa (1923-1973) na 1ª Bienal, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), são sintomas da atenção despertada pelas novas linguagens pictóricas.

O impacto das representações estrangeiras na bienal se relaciona de perto às modificações verificadas no meio social e cultural brasileiro. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo iniciam processos de metropolização, alimentados pelo surto industrial e pela pauta desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana. Do ângulo das artes visuais, a criação dos museus de arte e de galerias criam condições para a experimentação concreta nos anos 1950, com o anúncio das novas tendências não figurativas. É importante lembrar nessa direção as exposições 19 Pintores (1947), na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, semente do grupo concreto paulista; Do Figurativismo ao Abstracionismo (1949), no MAM/SP; Alexander Calder (1949), no Masp; e Fotoformas, de Geraldo de Barros (1950), no Masp. O ano de 1952 e a exposição do Grupo Ruptura marcam o início oficial do movimento concreto em São Paulo. Criado por Anatol Wladyslaw (1913-2004), Lothar Charoux (1912-1987), Féjer (1923-1989), Geraldo de Barros (1923-1998), Leopold Haar (1910-1954), Luiz Sacilotto (1924-2003), liderado pelo artista e crítico Waldemar Cordeiro (1925-1973), o grupo propõe em seu manifesto a "renovação dos valores essenciais das artes visuais", por meio das pesquisas geométricas, pela proximidade entre trabalho artístico e produção industrial, e pelo corte com certa tradição abstracionista anterior.

Os desdobramentos da arte concreta na poesia se evidenciam em São Paulo pelo lançamento da revista Noigandres, em 1952, editada pelos irmãos Haroldo de Campos (1929-2003) e Augusto de Campos (1931) e Décio Pignatari (1927 - 2012). No Rio de Janeiro, alunos do curso de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), tendo como teóricos os críticos Mário Pedrosa (1900-1981) e Ferreira Gullar (1930-2016), formam o Grupo Frente, em 1954. Fundado por Aluísio Carvão (1920-2001), Carlos Val (1937), Décio Vieira (1922-1988), Ivan Serpa (1923-1973), João José da Silva Costa (1931), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004) e Vicent Ibberson (19--), e ao qual aderem em seguida Hélio Oiticica (1937-1980) e César Oiticica (1939), Elisa Martins da Silveira (1912-2001), Emil Baruch (1920), Franz Weissmann (1911-2005), Abraham Palatnik (1928) e Rubem Ludolf (1932-2010), o grupo concreto carioca prega a experimentação de todas as linguagens, ainda que no âmbito não figurativo geométrico. À investigação paulista centrada no conceito de pura visualidade da forma o grupo carioca opõe uma articulação forte entre arte e vida - que afasta a consideração da obra como "máquina" ou "objeto" -, e maior ênfase na intuição como requisito fundamental do trabalho artístico. As divergências entre Rio e São Paulo se explicitam na Exposição Nacional de Arte Concreta, São Paulo, 1956, e Rio de Janeiro, 1957, início da ruptura neoconcreta, efetivada em 1959.

Obras 22

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

303

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Concreção

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Concreto

Esmalte sobre eucatex

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 3

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  • AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na arte (1950-1962). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1977.
  • BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo: vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. 2. ed. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. (Espaço da arte brasileira).
  • PEDROSA, Mário. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975. (Debates, 106).

Como citar

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