Yolanda Cardoso
Texto
Yolanda Brunetti Cardoso (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1923 - idem 2007). Atriz. Dotada de personalidade irreverente, que utiliza com êxito para compor suas personagens, em especial aquela com a qual alcança maior projeção, a Alzira Power, Yolanda tem ao mesmo tempo desenvoltura para transitar por diversos registros interpretativos, construindo extensa carreira em teatro, cinema e televisão.
Aos 32 anos, em 1955, dá o primeiro passo de sua trajetória artística, e, por sugestão de Paschoal Carlos Magno (1906-1980), inicia sua formação teatral na Fundação Brasileira de Teatro (FBT), escola criada no Rio de Janeiro por Dulcina de Moraes (1908-1996). E estreia, nesse ano, em pequeno papel no espetáculo Diálogo das Carmelitas, dos Artistas Unidos. Em 1956, é dirigida por Henriette Morineau (1908-1990), também sua professora na Fundação, na montagem de Os Elegantes, de Aurimar Rocha (9134-1979).
Nos anos seguintes, integra uma série de espetáculos profissionais. Em 1958, viaja a São Paulo para trabalhar com o Teatro Moderno de Comédia, grupo criado por Danilo Bastos e Dercy Gonçalves (1907-2008), e ainda atua nos espetáculos Society em Baby Doll, de Henrique Pongetti (1898-1979), A Valsa dos Toreadores, de Jean Anouilh (1910-1987), e Juventude Sem Dono, de Michael Vincent Gazzo (1923-1995). Volta ao Rio de Janeiro, e participa da primeira montagem de Os Sete Gatinhos, de Nelson Rodrigues (1912-1980), dirigida por Willy Keller (1900-1979) no Teatro Carlos Gomes.
Apresenta-se na abertura do Teatro dos Sete, em 1959, com o espetáculo O Mambembe, de Artur Azevedo dirigido por Gianni Ratto. No ano seguinte, com a mesma companhia, integra a peça Com a Pulga atrás da Orelha, de Georges Feydeau. Em 1961, viaja pelo Brasil com o repertório do Teatro Nacional de Comédia - TNC, atua em Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, e Pedro Mico, de Antônio Callado, ambas com direção de José Renato. Trabalha no ano seguinte com o Teatro Cacilda Becker - TCB, na temporada carioca do espetáculo Em Moeda Corrente do País, de Abílio Pereira de Almeida. Atua novamente com o TBC em A Noite do Iguana, de Tennessee Williams, dirigida por Walmor Chagas, 1964. E participa da peça Mirandolina, de Carlo Goldoni, montada pelo Teatro dos Sete com direção de Ratto.
Em 1965, sob a direção de Sérgio Viotti, atua nas peças As Inocentes do Leblon, de Barillet e Grédy, e As Viúvas do Machado, coletânea de textos de Machado de Assis, esta última para a companhia de Eva Todor. Participa da adaptação de Martim Gonçalves para Salomé, peça de Oscar Wilde, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1968. Nesse ano, muda-se para São Paulo, e é convidada por Fauzi Arap a integrar o espetáculo Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã, de Antônio Bivar, para o Teatro Maria Della Costa - TMDC. Nessa companhia, atua também em As Alegres Comadres de Windsor, direção de Benedito Corsi para o texto de Shakespeare. Ainda em 1968, trabalha com José Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina, substituindo a atriz Etty Fraser na antológica encenação de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade.
Yolanda integra nova montagem da peça Os Sete Gatinhos, dirigida por Jô Soares para a companhia de Ruth Escobar, reintitulada A Última Virgem e, além disso, divide cena com Antonio Fagundes na primeira versão de O Cão Siamês, texto de Antônio Bivar dirigido por Emílio Di Biasi.
Impressionado com o trabalho da atriz e confiando no potencial de comunicação com o grande público, que essa montagem não havia concretizado, Antônio Abujamra propõe, no ano seguinte, nova encenação para a mesma peça, desta vez utilizando como título apenas o nome da explosiva protagonista: Alzira Power. A montagem faz muito sucesso, e consagra Yolanda como uma das grandes atrizes brasileiras. Contracenando com Marcelo Picchi, ela percorre o país com o espetáculo. Sobre seu desempenho, Yan Michalski comenta: "Yolanda Cardoso encontra em Alzira o papel de sua vida. Há aqui um desses raros casos de identidade íntima entre personagem e intérprete que deixam a impressão de que o autor concebeu o papel especialmente para a atriz que o desempenha. A garra, o brilho, o acerto das bruscas mudanças de tom dão ao trabalho da atriz um colorido que transcende amplamente o seu relativamente limitado repertório de recursos técnicos, só percebido na parte final, quando o próprio personagem cai na monotonia|".1
Até o fim da década de 1970, Yolanda trabalha em São Paulo. Em 1972, representa personagens cômicos em Liberdade para as Borboletas, de Leonard Gershe, produzida e dirigida por Victor Berbara, e em Pequenos Assassinatos, de Jules Feiffer, dirigida por Osmar Rodrigues Cruz. Participa de A Dama de Copas e o Rei de Cuba, de Timochenco Wehbi, dirigida por Odavlas Petti, em 1973, da montagem paulista de Viva o Cordão Encarnado, do pernambucano Luiz Marinho, em 1975, e do musical debochado Adiós, Geralda, de Mah Luly, em 1977. Um ano depois, integra o sucesso Caixa de Sombras, de Michael Cristofer, dirigido por Emílio Di Biasi e remontado no início dos anos 1980, com o qual viaja pelo Brasil.
Volta para o Rio de Janeiro em 1980, quando participa da comédia A Filha..., de Chico Anísio. Em 1981, atua no drama Assunto de Família, de Domingos Oliveira, dirigido por Paulo José. Trabalha nos espetáculos Brasil Dourado, de Aguinaldo Silva, e Evita-me... que Assim Não Dá, de Angela Leal e Wilson Cunha, em 1982. Atua na peça Filumena Marturano, do italiano Eduardo de Filippo, com direção de Paulo Mamede, pelo Teatro dos Quatro, em 1988. Em 1996, Mauro Rasi encena seu As Tias do Mauro Rasi, com Yolanda, Dirce Migliaccio, Berta Loran e Carmem Verônica. Yolanda participa de As Três Irmãs, montagem de Enrique Diaz para o texto de Anton Tchekhov.
Seu trabalho na televisão inicia-se na década de 1950, nos programas da TV Tupi do Rio de Janeiro, entre eles O Grande Teatro Tupi. A primeira telenovela na qual atua é Anastácia, a Mulher sem Destino, em 1967, na Rede Globo. A partir de então, alterna ininterruptamente trabalhos no teatro e na televisão. Ingressa na TV Record de São Paulo em 1969, e, no início dos anos 1970, integra o elenco de telenovelas da TV Tupi. Contratada pela TV Globo em 1980, atua na emissora até a década de 1990.
Sua contribuição para o cinema nacional é também numerosa. Estreia em Uma Certa Lucrécia, de Fernando de Barros, em 1957. Interpreta seu último papel no cinema três décadas depois, em 1987, no filme Um Trem para as Estrelas, de Carlos Diegues.
Nota
1. MICHALSKI, Yan. Alzira e seus poderes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 jan. 1971.
Espetáculos 52
Fontes de pesquisa 13
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996.
- CARDOSO, Yolanda. Dossiê Personalidades Artes Cênicas. Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011.
- MICHALSKI, Yan. Alzira e seus poderes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 jan. 1971.
- O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1967]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- Pepa & Dola, com Extremos em Curta Temporada. Palco e Platéia, São Paulo, ano 0, julho de 1985.
- Programa do Espetáculo - Agnes de Deus - 1982.
- Programa do Espetáculo - Armadilha - 1979.
- Programa do Espetáculo - Boca Molhada de Paixão Calada - 1984.
- Programa do Espetáculo - Caixa de Sombras - 1978.
- Programa do Espetáculo - Extremos - 1985.
- Programa do Espetáculo - Pequenos Assassinatos - 1972.
- YOLANDA Cardoso morre no Rio, aos 78 anos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 de jul. 2007. Caderno 2, p. 5.
Como citar
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YOLANDA Cardoso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa400420/yolanda-cardoso. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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