Teatro dos Quatro
Texto
Histórico
Com um repertório predominantemente de peças inéditas da dramaturgia contemporânea, produção e direção cuidadas e atores reconhecidos, o Teatro dos Quatro traz a iniciativa privada para o financiamento sistemático de uma companhia e se torna, nos anos 1980, a principal referência carioca do teatro empresarial de qualidade artística e a única a manter a continuidade de produções.
Formado pelos produtores Paulo Mamede, Mimina Roveda e Sergio Britto, o Teatro dos Quatro é um empreendimento que envolve a aquisição, a administração e a direção artística de uma sala de espetáculos dentro do Shopping da Gávea. O teatro é comprado por meio de um empréstimo, e a ocupação do espaço, com horários alternativos, cursos e atividades diurnas ajudam a aliviar as dívidas. É no horário alternativo que se realizam projetos como a primeira montagem de um texto de Fassbinder, na época inédito e desconhecido, com a exibição paralela de filmes do autor.
A iniciativa é inaugurada em 1978 com Os Veranistas, de Máximo Gorki. O espetáculo, dirigido por Sergio Britto, é uma realização grandiosa - com cenário de Hélio Eichbauer, que cria e interpreta o ambiente ao mesmo tempo aberto e melancólico de um lugar de veraneio onde acontecerão rupturas pessoais, e um elenco de 12 atores consagrados. Segundo o crítico Macksen Luiz, a seriedade da iniciativa, a riqueza do material dramático e o alcance da empreitada caracterizam "um espetáculo polêmico, contraditório e atuante que procura se fazer presente no debate que começa a ser reaberto nos palcos cariocas".1 Yan Michalski, embora fazendo restrições ao espetáculo inaugural reconhece que a empresa (...) já se caracterizava pela exigência na escolha do texto e por um impecável acabamento da produção e por um alto nível de interpretação - trunfos de que o Teatro dos Quatro nunca mais abriria mão. Estava desde já claro que a cidade ganhava um importante centro de cultura".2
Simultaneamente, a equipe produz a A Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que estréia no Teatro Ginástico. Em 1979, o teatro abriga Ato Cultural, de José Ignácio Cabrujas, com o Grupo Engenho do Teatro, Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho, e um desempenho premiado de Renata Sorrah em Afinal uma Mulher de Negócios, de Fassbinder, todos textos inéditos no Brasil. Em 1980, o Teatro dos Quatro apresenta Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, e A Morte Acidental de um Anarquista, de Dario Fo, também inéditos. Em 1982, estréia um dos maiores sucessos do teatro, As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, primeira encenação brasileira do texto de Fassbinder, com direção de Celso Nunes, trazendo uma interpretação antológica de Juliana Carneiro da Cunha, em um papel sem nenhuma fala, e constituindo-se no maior triunfo da carreira de Fernanda Montenegro, no papel título.
A partir da montagem Rei Lear, de William Shakespeare, 1983, o Teatro dos Quatro passa a ter o financiamento sistemático da Shell, que resulta em 16 espetáculos e um total de 36 prêmios. Em 1985, estréia no teatro um diretor novo, descoberto por Tônia Carrero em Nova York, Gerald Thomas. Ele dirige Ítalo Rossi, Rubens Corrêa e Sergio Britto em Quatro Vezes Beckett. No ano seguinte, acontece o maior sucesso do grupo: Sábado, Domingo e Segunda, de Eduardo De Filippo, que permanece um ano e meio em cartaz. Segundo o crítico Macksen Luiz, "A qualidade do elenco, a segurança do diretor e a empatia que se cria fazem com que o espetáculo carioca se mantenha fiel ao popular, reinventado e cultivado por Eduardo De Filippo".3 Em 1987, estréia Mauro Rasi, em sua nova fase de autor depois dos anos de "besteirol", com A Cerimônia do Adeus, primeira de uma série de peças autobiográficas. Filumena Marturano, de Eduardo De Filippo, 1988, protagonizada por Yara Amaral, tem sua carreira interrompida quando a atriz morre no naufrágio de um barco superlotado na festa de Ano Novo. O espetáculo retorna ao palco com Nathália Timberg que, segundo o crítico Macksen Luiz, reverencia a colega e o teatro, "nesse ato de solidariedade e profissionalismo".4 Segue-se O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov, 1989. Fora os intérpretes e diretores já citados, marcam também a trajetória do Teatro dos Quatro: Paulo Betti, Jacqueline Laurence, José Wilker e Ary Fontoura, entre outros.
No início dos anos 1990, com o fim do patrocínio e as crescentes dificuldades de produção, a equipe desfaz a sociedade.
Notas
1. LUIZ, Macksen. A consciência difusa dos veranistas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, jul. 1978.
2. MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão: uma frente de resistência. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
3. LUIZ, Macksen. Cheiro doméstico. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 maio 1986.
4. ______. A emoção da solidariedade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 jan. 1989.
Espetáculos 26
Fontes de pesquisa 4
- ALBUQUERQUE, Johana. Teatro dos Quatro. (ficha curricular) In: _________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- BRITTO, Sérgio. Fábrica de Ilusão: 50 anos de teatro. Rio de Janeiro: Funarte, 1996. 260 p.
- MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão: uma frente de resistência. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
- TEATRO dos Quatro. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Grupo Teatro Adulto.
Como citar
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TEATRO dos Quatro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo387695/teatro-dos-quatro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7