Timochenco Wehbi
Texto
Biografia
Timochenco Wehbi (Presidente Prudente SP 1943 - São Paulo SP 1986). Autor. Desponta nos primeiros anos 1970 através de uma dramaturgia construída sobre personagens densas, surpreendidas em momentos de solidão, memórias e lembranças, nas obscuras zonas que interligam o real e o imaginário.
Formado em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Timochenco acompanha vivamente o desenvolvimento do teatro na região do ABC paulista, sendo um dos fundadores do Grupo Teatro da Cidade, em Santo André, 1968. Sua estréia como dramaturgo ocorre em 1970, com a montagem de Emílio Di Biasi para A Vinda do Messias, um comovente monólogo que adquire, com o expressivo desempenho de Bertha Zemmel, uma generosa dimensão. Em dois tempos, a peça enfoca a ambigüidade dos sonhos da pobre costureira que almeja Messias, um homem e também, metaforicamente, a divindade. Na análise da professora Liana Salvia Trindade, a peça enfoca uma costureira cujos "anseios e aspirações restringem-se a exercer sua profissão, ter uma família, realizar-se afetivamente através da figura protetora de um marido. [...] Rosa constrói as imagens de seu amante através de fragmentos extraídos de ídolos dos meios de comunicação de massa. Nesta impossibilidade efetiva de realização humana faz com que o universo profano, constituído pelos produtos de consumo, adquira a dimensão sagrada da espera messiânica".1
A Dama de Copas e o Rei de Cuba explora o ambiente dos cortiços e das situações imaginárias. Uma operária divide um quarto com uma colega um pouco suspeita, visitadas por um viajante igualmente pouco convencional, compondo os vértices de um triângulo em que os enganos, as aparências e as dissimulações armam-se a todo momento. O universo kitsch suburbano, a cultura cafona das periferias, mais uma vez ganha o centro do palco. A peça, estreada em São Paulo em 1973, conhece montagens em diversas cidades brasileiras e também em Lisboa, Portugal.
O universo absurdo volta com ênfase na criação seguinte, de 1974, A Perseguição ou O Longo Caminho que Vai de Zero a Ene, onde duas figuras engalfinham-se numa ininterrupta corrida uma atrás da outra sem, contudo, se encontrarem. O diálogo entre elas é apenas aparente, sugerindo uma esfera absurda e fora da realidade.
Ainda em 1974 é a vez de Palhaços, um duelo travado nos bastidores de um decadente circo, que opõe um palhaço profissional a um "palhaço da vida". Situações que tocam o absurdo da existência humana são aqui desenhadas em diálogos ríspidos.
Através da parceria estabelecida com Mah Luly, surge Bye Bye Pororoca, que sobe à cena em 1975, em São Paulo, numa situação curiosa: a montagem seria de Abajur Lilás, de Plínio Marcos mas esta, proibida dias antes da estréia, obriga a produção a rapidamente mudar de peça. A encenação de Antônio Abujamra aproveita o mesmo elenco e parte do cenário da peça anterior. Num momento difícil para a expressão, Pororoca trata de uma aula extravagante, onde uma atriz decadente e autoritária, especializada em montar presépios vivos nos bairros distantes da periferia, ensina sua receita de sucesso, tudo destilado em tom mordaz, ferino e grotesco.
Em 1977, Timochenco alcança uma menção honrosa do Prêmio Anchieta, com o texto As Vozes da Agonia, ou Santa Joana d'Arc ou Santa Joaninha e Sua Cruel Peleja Contra os Homens de Guerra, Contra os Homens d'Igreja, deslocando para o ambiente nordestino de cordel a saga de Joana d'Arc. Utilizando amplamente os recursos sociológicos, mistura datas e acontecimentos, fatos e lugares, ilusão e história, para criar um texto poético e embebido de uma teatralidade verdadeiramente popular. A criação permanece inédita em montagem profissional.
Em 1980, escreve uma curta cena para a Revista do Bexiga nº Zero, espetáculo de diversos autores que se serviram de notícias de jornal para estruturar suas criações, num projeto de dramaturgia da Secretaria de Cultura. Permanece inacabado o texto Erro de Cálculo, outro psicodrama. Em 1985, é a vez de Morango com Chantilly, em que reminiscências autobiográficas podem ser surpreendidas, ao flagrar a vida de uma família interiorana discutindo, nos planos do passado e do presente, o futuro dos filhos.
Timochenco elabora seu último texto, Curto Circuito, em 1986, um psicodrama engendrado pelas experiências do autor quando trabalha junto a psicodramatistas, é um roteiro que situa um jovem estudante frente a um aprendizado ultrapassado e reacionário. Ao ser encenado, no ano seguinte, conta com desdobramentos propiciados pelo elenco para suprir as informações apenas indicadas.
A morte colhe o autor aos 43 anos de vida. A socióloga Dilma de Melo, comentando a produção de Timochenco, afirma: "Há nestas peças o predomínio de personagens constituídas por caracteres similares em sua relação com a realidade, em sua busca incessante de sobrevivência emocional. Figuras patéticas, tragicômicas, desarmadas e impotentes ante o mundo real, que para poderem existir, projetam sobre este mundo, seu próprio mundo, filtrado pelas fantasias, devaneios, aspirações. O confronto entre estes dois mundos leva, inevitavelmente, ao dilaceramento de suas individualidades, pois estes personagens sucumbem por estarem empreendendo uma luta individual".2
Notas
1. TRINDADE, Liana Salvia. A Vinda do Messias. In: O teatro de Timochenco Wehbi. São Paulo: Polis, 1980, p. 17.
2. MELO, Dilma de. Contracapa. In: O teatro de Timochenco Wehbi. São Paulo: Polis, 1980.
Espetáculos 14
Fontes de pesquisa 2
- Programa do Espetáculo - Classe Média Televisão Quebrada - 1978. Não catalogado
- WEHBI, Timochenco. O teatro de Timochenco Wehbi. São Paulo: Polis, 1980.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TIMOCHENCO Wehbi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359454/timochenco-wehbi. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7