Jorge Ben Jor
Texto
Jorge Duílio Lima Menezes (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 19421). Cantor, compositor, violonista, guitarrista. Jorge Ben Jor surge em meio à bossa nova, à jovem guarda e à tropicália, não se vinculando originalmente a nenhum desses movimentos. Influencia e, ao mesmo tempo, se deixa influenciar por artistas associados a estas três importantes correntes da Música Popular Brasileira (MPB). É o principal nome do samba-rock, subgênero derivado do samba que surge nos anos 1970.
O motor principal de sua musicalidade complexa é a batida no violão, que combina principalmente samba com referências do rock and roll. No entanto, traz elementos também de ritmos ancestrais brasileiros, como maracatu e jongo, e um estilo percussivo que remete às raízes africanas (presentes em sua família por meio de sua mãe, filha de etíopes). No universo lírico, há alguns temas principais e recorrentes: negritude, mulheres, alquimia e futebol. É, ainda, uma inspiração para a geração da música brasileira dos anos 1990: tanto o rap nacional como o mangue beat o reverenciam como influência.
Os pais se conhecem dançando em uma gafieira e o artista cresce ouvindo samba, música africana e artistas nordestinos, como o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) e o paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982). A família costuma frequentar a quadra da escola de samba Salgueiro. Estuda em um seminário na pré-adolescência, onde aprende latim e canto gregoriano. Nos anos 1950, se interessa pelo rock and roll estadunidense e se torna fã dos cantores Chuck Berry (1926- 2017) e Little Richard (1932-2020).
Aprende a tocar pandeiro, presenteado pelo pai, aos 13 anos. Aos 18 anos, ganha um violão da mãe, violonista amadora. É impactado pelo estouro do álbum Chega de saudade, que João Gilberto (1931-2019) lança em 1958. Desenvolve seu estilo como violonista a partir da tentativa de imitar João Gilberto, com a influência de Chuck Berry, somada aos estudos de um método de tocar de um livro que encontra em casa.
Em 1961, começa a tocar pandeiro com o Copa Trio na boate Little Club, no notório Beco das Garrafas, Rio de Janeiro, reduto de fãs e músicos da bossa nova e do samba-jazz. No mesmo período, interpreta clássicos do rock estadunidense na boate Plaza e começa a cantar as próprias músicas no Bottle’s, outra casa famosa do Beco das Garrafas.
Em 1963, tem duas músicas gravadas no disco Tudo azul, do organista Zé Maria (1930), com quem toca percussão: “Mas que nada” e “Por causa de você, menina”. As mesmas faixas são lançadas pelo próprio artista em um disco de 78 rotações.
O sucesso garante a gravação de seu primeiro LP, Samba esquema novo, em 1963, pela Philips. Tanto no título do álbum como nos versos de “Mas que nada” e “Rosa, menina Rosa”, ajuda o ouvinte a decifrar os segredos de sua invenção. Na primeira, ele diz que seu samba é misto de maracatu. Na outra, diz que seu samba tem mistério.
O novo esquema do samba de Ben, misto de maracatu, com balanço e mistério, é também de “preto velho”, uma referência à entidade do candomblé e da umbanda, apontando para o ritmo dos orixás como mais um elemento da amálgama de sua batida.
O artista, então, enfileira uma discografia inspirada com 14 discos lançados em um período de 14 anos, até 1976. O bidú – silêncio no Brooklin, de 1967, marca a aproximação com a estética da jovem guarda e registra a primeira experiência do artista com a guitarra elétrica. Tem a participação do The Fevers como banda de apoio e uma parceria com Erasmo Carlos (1941) na música “Menina gata Augusta”. O álbum Jorge Ben, de 1969, é considerado seu “disco tropicalista”, com alguns arranjos do maestro Rogério Duprat (1932-2006) e o clássico “Charles, anjo 45”, regravado por Caetano Veloso (1942). Em 1974, grava A tábua de esmeralda, em que flerta com a psicodelia, dedicando várias letras à alquimia (ciência que ele estuda desde pequeno), e expande sua sonoridade com uma nova afinação de violão. Gil & Jorge: Oxum, Xangô, de 1975, em parceria com Gilberto Gil (1942), registra o encontro e o improviso entre dois dos violões mais inventivos da MPB. Em África Brasil, de 1976, troca definitivamente o violão pela guitarra e incorpora a influência do funk estadunidense.
A batida de violão de Jorge Ben é a principal característica do samba-rock, nomenclatura criada nos anos 1970 para classificar um estilo de dança que surge nos bailes de periferia e mistura movimentos do samba e do rock. A forma como trata a negritude em suas letras (sem explorar os sofrimentos da escravidão, mas exaltando africanos e negros como heróis) é uma das características marcantes de sua poesia. Em faixas como "Zumbi" (1974) e "Xica da Silva" (1976), enaltece as virtudes de personagens reais. Em "Crioula" (1969), enfatiza a nobreza de uma musa, descrita como "filha de nobres africanos".
Nos anos 1980, sua produção é menos intensa, com seis álbuns lançados. Muda o nome artístico para Jorge Ben Jor, em 1989. Em 1992, o disco ao vivo Jorge Ben Jor live in Rio faz grande sucesso, impulsionado pela inédita “W Brasil”, em que o artista homenageia o publicitário Washington Olivetto (1951) e o amigo Tim Maia (1942-1998) com uma letra que relaciona aleatoriamente assuntos desconexos (de surf rodoviário ao jornal estadunidense The New York Times) e uma levada funk. Em 2002, ele se reencontra com o violão e com o repertório cultuado nos anos 1960 e 1970 no disco Acústico MTV.
A reinvenção de um instrumento tradicional na linha evolutiva da música brasileira combinada à lírica original que potencializa a autoestima do povo afrodescendente torna o artista um dos mais influentes da MPB.
Nota
1. O ano exato do nascimento de Jorge Ben Jor é motivo de controvérsia. Os meios de comunicação em geral divulgam 1942 como ano de nascimento do artista. Porém, o terceiro volume da coleção Discos da música brasileira, organizada por Lauro Lisboa Garcia e lançada pelas Edições Sesc, apresenta um perfil biográfico de Jorge Ben Jor, indicando, após exame da certidão de nascimento, que o ano correto seria supostamente 1939. O artista, por sua vez, afirma que o ano correto é 1945.
Obras 2
Exposições 1
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27/8/2023 - 15/1/2022
Fontes de pesquisa 6
- IMBATÍVEL ao extremo: assim é Jorge Ben Jor! [Locução de] Paulo da Costa e Silva. Rádio Batuta [podcast]. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 4 out. 2012. Disponível em: https://radiobatuta.ims.com.br/documentarios/imbativel-ao-extremo-assim-e-jorge-ben-jor/. Acesso em: 2 set. 2022.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
- PINHEIRO, Marcelo. Saiubá, saiubá, saiubá. Brasileiros, São Paulo, dez. 2013.
- PRETO, Marcus. Homem Patropi. Trip, São Paulo, 23 nov. 2009.
- PRETO, Marcus. Mas que tudo. Rolling Stone Brasil, São Paulo, jun. 2007.
- VIOLA, Kamille. África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver. São Paulo: Edições Sesc, 2020.
Como citar
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JORGE Ben Jor.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa13998/jorge-ben-jor. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7