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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Walter Carvalho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.08.2024
1947 Brasil / Paraíba / João Pessoa
Walter Carvalho e Silva (João Pessoa, Paraíba, 1947). Diretor de fotografia, fotógrafo, diretor. Destaca-se por seus trabalhos em fotografia de cinema, nos quais manipula luz e movimento sem usar muitos equipamentos eletrônicos além da câmera. Para construir a atmosfera de seus filmes, inspira-se frequentemente em técnicas de movimento e ilumina...

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Walter Carvalho e Silva (João Pessoa, Paraíba, 1947). Diretor de fotografia, fotógrafo, diretor. Destaca-se por seus trabalhos em fotografia de cinema, nos quais manipula luz e movimento sem usar muitos equipamentos eletrônicos além da câmera. Para construir a atmosfera de seus filmes, inspira-se frequentemente em técnicas de movimento e iluminação usadas em documentários.

Os primeiros contatos de Walter com o cinema ocorrem quando trabalha na Paraíba como assistente de seu irmão, o documentarista Vladimir Carvalho (1935), em filmes como O país de São Saruê (1971). Depois de ter aulas com o fotógrafo de cinema Roberto Maia, é convidado por Vladimir para fotografar o filme Incelência para um trem de ferro (1972). Sente-se inseguro inicialmente, mas, incentivado por Roberto e pelo irmão, aceita o trabalho e acaba ganhando um prêmio pela fotografia do filme.

Além de ter aulas com Roberto Maia na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), onde se gradua em programação visual, trabalha com ele como assistente de fotografia, em Humor Amargo (1973), de Sérgio Silveira. Essa experiência, e as que tem com o irmão, abrem caminho para seus primeiros trabalhos de direção: no curta-metragem MAM- S.O.S (1978), atua como diretor do filme e de sua fotografia, registrando reações e manifestações públicas ao incêndio que atinge o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) em julho de 1978. Ainda nos anos 1970, dirige a fotografia do curta Jorge Amado no Cinema (1979), de Glauber Rocha (1939-1981).

Para além de influências cinematográficas, como os diretores Mário Peixoto (1908-1992) e Glauber Rocha, Walter busca referências nas artes visuais: ao pensar seu projeto de iluminação, volta-se para a história da arte e para estudos de perspectiva e efeito da luz sobre os objetos, especialmente em obras renascentistas. Suas técnicas de manipulação de luz e câmera têm forte influência do documentário, gênero no qual começou a trabalhar ao lado do irmão.

A fotografia de Walter ajuda a criar a atmosfera das narrativas, como em Terra Estrangeira (1995), em que o uso do preto e branco e a escolha dos ângulos de filmagem colaboram para a criação de um clima noir2, que percorre o filme de Walter Salles (1956) e Daniela Thomas (1959).

Walter atua como diretor de fotografia também na televisão, como nas novelas Renascer (1993) e Rei do Gado (1996), da Rede Globo. Leva para a TV sua experiência adquirida no cinema e propõe novos enquadramentos e manipulação de luz para o gênero televisivo.

O fotógrafo faz uso da câmera na mão para trabalhar intensamente o jogo de luz e sombra, sem recorrer a muitos equipamentos para controle e desenho da iluminação. Trabalha contrastes usando apenas luz natural ou em associação a luzes artificiais.

Em Central do Brasil (1998), a fotografia é monocromática. Na primeira parte do filme, que se passa no Rio de Janeiro, Walter apresenta cores avermelhadas e closes nos personagens, que se destacam de um fluxo intenso e contínuo de pessoas ao fundo. Cenas em vagões e chegadas à estação criam uma sensação de impessoalidade, rompida pelos planos fechados nos personagens e pela passagem de cena para o ambiente doméstico da casa de Dora [Fernanda Montenegro (1929)].

O filme ganha atmosfera de road movie2 em outro momento, e a jornada de Dora e Josué [Vinícius de Oliveira] é retratada em planos panorâmicos. Tons amarelados ganham espaço, e a fotografia do Cinema Novo, presente em Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, é a referência para pensar a paisagem do Nordeste.

A preferência por luzes naturais também é clara na cena que retrata uma procissão noturna. Walter usa mais de 700 velas para iluminar e ao mesmo tempo manter o mistério e misticismo do rito religioso registrado. O uso de luzes artificiais na cena é quase imperceptível.

Em 2001, diferentemente de Central do Brasil, Walter constrói uma fotografia colorida em Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho (1985). Na adaptação do livro de Raduan Nassar (1935), lançado em 1975, explora a luz natural de ambientes externos. Recorre, no entanto, à ausência quase completa de luz ao reconstruir as memórias de André [Selton Mello (1972)], personagem principal, que vive um romance com a irmã, Ana [Simone Spoladore (1979)]. 

No filme, enquanto Ana aparece rodeada por cores fortes e luz intensa, André e o ambiente opressor de sua casa estão constantemente sob a penumbra, rompida por uma fraca luz natural que ilumina pouco os personagens. A câmera ajuda a criar as nuances de emoção que os diferentes ambientes e pessoas causam em André: a lente acompanha os personagens e seus movimentos de perto. Cria também distorção de imagens e desfoques, que ampliam a atmosfera de memória.

Como diretor, Walter atua em filmes como Cazuza: o tempo não para (2004), drama biográfico que narra a trajetória do cantor Cazuza (1958-1990) – parceria com Sandra Werneck (1951). Voltando aos documentários, dirige Raul: o início, o fim e o meio (2012), que conta a vida e carreira do cantor Raul Seixas (1945-1989) através de depoimentos de pessoas que conviveram com ele, além de reunir imagens e registros de apresentações do cantor.

Filmando com a câmera na mão, e aproveitando a atmosfera que a luz em superexposição ou a penumbra criam, Walter Carvalho ajuda a construir a narrativa dos filmes por meio de contrastes de cores e sensações registradas. Evidencia em seus trabalhos a influência que os primeiros contatos com o cinema, em documentários dirigidos pelo irmão, tiveram sobre seu modo de produzir.

Notas

1. Film Noir: subgênero do filme policial que tem seu auge nos Estados Unidos, entre as décadas de 1930 e 1950. Caracteriza-se por recursos visuais como a cartela cromática exclusivamente em preto e branco, baixa iluminação e jogo entre luz e sombra, que garantem uma atmosfera de suspense. O clima de mistério também se estende sobre a personalidade dos personagens, frequentemente explorados sob uma ambiguidade moral.

2. A história dos filmes do gênero road movie ou filme de estrada se passa durante uma viagem pela estrada. Os conflitos surgem e são resolvidos a medida que a viagem avança.

 

Obras 1

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Exposições 28

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Mídias (1)

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Walter Carvalho - Série Encontra - Arte 1 (2019)
O diretor de fotografia Walter Carvalho recebe Gisele Kato em sua casa e espaço de trabalho. Ele conta sobre suas experiências em trabalhos anteriores e comenta que sempre, ao trabalhar com atores, busca o que está escondido. Explica que a imagem não pode revelar tudo, já que a verdadeira poesia é a diferença entre o que é visto e o deduzido.

Também fala sobre o poder de sobrevivência do cinema ao longo dos anos, por meio de sua magia e seu poder de revelação em uma analogia com a "caverna de Platão".

A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: André Santos

Fontes de pesquisa 8

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