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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Luiz Fernando Carvalho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
1960 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Luiz Fernando Carvalho de Almeida (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1960). Diretor, produtor, editor e roteirista. Inicia sua atividade no cinema como assistente de câmera de Dib Lufti (1936-2016) no filme Aguenta, Coração (1982), escrito por Reginaldo Faria (1937). A seguir, divide a direção com Maurício Farias (1960) no curta metragem A Espera:...

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Biografia

Luiz Fernando Carvalho de Almeida (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1960). Diretor, produtor, editor e roteirista. Inicia sua atividade no cinema como assistente de câmera de Dib Lufti (1936-2016) no filme Aguenta, Coração (1982), escrito por Reginaldo Faria (1937). A seguir, divide a direção com Maurício Farias (1960) no curta metragem A Espera: um Passatempo do Amor (1986), obra vencedora dos prêmios de Melhor Filme no Festival de San Sebastian e de Jovem Realizador no Festival de Therèse, Quebec, ambos recebidos em 1986.

Em 1987, começa a trabalhar na televisão com a telenovela Helena para a Rede Manchete, livre adaptação do romance homônimo de Machado de Assis (1839-1908). No mesmo ano dirige a novela Carmen, de autoria de Gloria Perez (1948).

Trabalha na Rede Globo em 1989 com a novela Vida Nova, escrita por Benedito Ruy Barbosa (1931). Seu trabalho na teledramaturgia prossegue nos anos seguintes com as obras: Gente Fina (1990), escrita por José Louzeiro (1932) e Pedra Sobre Pedra (1992) de Aguinaldo Silva (1943).

Realiza também uma versão de Os Irmãos Coragem (1995), novela escrita por Janete Clair (1925-1983) em 1970. Retoma a parceria com Ruy Barbosa nas novelas O Rei do Gado (1996), Renascer (1999) e Esperança (2002). Em 1999, dirige o documentário Que teus Olhos Sejam Atendidos para um canal de TV por assinatura.

A década de 2000 caracteriza-se pela realização de minisséries, formato experimentado por Carvalho em Riacho Doce (1990), transposição televisiva do romance de mesmo nome escrito por José Lins do Rego (1901-1957). Os trabalhos nessa área são: Os Maias (2001), baseada no romance de Eça de Queirós(1845-1900); Hoje é dia de Maria e Hoje é dia de Maria II, ambas de 2005 e inspiradas nas narrativas orais tradicionais do Brasil; A Pedra do Reino (2007), transposição da obra de Ariano Suassuna (1927-2014); Capitu (2008), adaptação de Dom Casmurro (1899) de Machado de Assis.

Em 2001, faz seu primeiro longa-metragem para o cinema: Lavoura Arcaica, película inspirada na obra de mesmo nome, escrita por Raduan Nassar (1935). O filme recebe, no mesmo ano, os prêmios de Melhor Contribuição Artística no Festival des Films du Monde de Montreal, Canadá, e de Melhor Filme no Festival de Brasília e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Em 2016, volta a teledramaturgia com a direção para a TV Globo da novela Velho Chico de Edmara Barbosa e Bruno Barbosa.

Análise

Lavoura Arcaica é um filme arrojado, que segundo o crítico Mario Sergio Conti (1954), ultrapassa os limites de seu enredo, em que vemos o embate entre André, o protagonista interpretado por Selton Mello (1972), e a rígida ordem imposta pelo pai, representado por Raul Cortez (1931-2006). O mérito da narrativa de Carvalho está no uso das cores, na oposição entre espaços fechados e abertos, entre sombra e luz e em seus enquadramentos elaborados. Isso sem mencionar a trilha sonora expressiva, composta por Marco Antônio Guimarães (1948)1.

O hábil jogo de opostos citado pelo crítico pode ser verificado logo na primeira cena do filme. Nela, André se masturba acompanhado pelo som cada vez mais intenso de um trem em movimento, cujo auge sonoro é simultâneo à ejaculação do personagem. Esses momentos de intensidade, em que as imagens estão distorcidas, são seguidos pelo silêncio que acompanha o relaxamento que segue o gozo do protagonista. Para Marcelo Coelho, este momento exemplifica a estratégia de aproximação realizada pelo diretor entre o filme e seu texto de origem:

As primeiras cenas, carregadas de sombras, distorções de perspectiva, ângulos inusitados, convidam o espectador a fazer quase um exercício de adivinhação: onde está o rosto do personagem? Até que finalmente o quadro faz sentido. O mesmo ocorre no primeiro capítulo do romance: só aos poucos percebemos que o autor está descrevendo uma cena de masturbação2.

O curta-metragem A Espera, um Passatempo do Amor tem como tema as muitas situações que podem ocorrer durante o ato de aguardar alguém e, ao mesmo tempo, reafirma o papel dos contadores de histórias das narrativas.

André é o protagonista que espera em um bar por Sílvia. A narradora da fita está entre os clientes e ela se diverte modificando a todo instante, graças a seus poderes mágicos, o destino dos dois personagens.

Estas alterações vão desde a chegada sem surpresas de Silvia ao encontro, passando por atrasos maiores, até chegar ao fato de ela não comparecer. Em cada uma dessas situações, o comportamento de André é submetido a sentimentos incontroláveis.

Em Que seus Olhos Sejam Atendidos, documentário realizado para a televisão, Carvalho, mais uma vez, está ao lado Raduan Nassar. Este acompanhou o diretor e sua equipe numa jornada ao Líbano, Síria e sul da Espanha num trabalho que registra a cultura dessas regiões de forma aberta, sem se subordinar a pontos de vista pré-estabelecidos.

Há um cartaz escrito em árabe no filme que diz: “Não separamos: este é muçulmano, este é judeu, este é cristão. Não separamos”. A cena seguinte nos leva para o interior de uma mesquita, e, logo depois, ao depoimento de um homem e descobrimos que são dele as palavras reproduzidas no cartaz.

Numa era marcada pela visão dos povos árabes como intolerantes, esta passagem reafirma uma de suas tradições mais antigas e valiosas: o respeito a outras formas de ver o mundo. Cabe ao espectador abrir seus olhos e ouvidos para superar pensamentos redutores. Neste documentário está presente um elemento que o cineasta havia identificado em Lavoura Arcaica: “É preciso tornar-se, liberar a vida onde ela é prisioneira, ou, pelo menos, abraçar esse combate incerto em busca das visões, refazendo caminhos, entrando na nossa paisagem e na dos outros”3.

Notas

1 CONTI, Mario Sergio. Luiz Fernando Carvalho faz obra de arte. Folha de S.Paulo, São Paulo, 09 nov. 2001. Ilustrada, p. E-3.

2 COELHO, Marcelo. ‘Lavoura’ e os indícios de uma obra prima. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 nov. 2001. Ilustrada, p. E-8.

3 CARVALHO, Luiz Fernando. Imaginar é um ato de liberdade e de cidadania. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 ago. 2001. Caderno 2, p. D-7.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 10

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  • ARAÚJO, Inácio. Longa é exceção exemplar no cinema do país. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 nov. 2001. Ilustrada. p. E-7
  • CARVALHO, Luiz Fernando. Imaginar é um ato de liberdade e cidadania. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 ago. 2001. Caderno 2. p. D-7
  • CARVALHO, Luiz Fernando. Sobre o filme Lavoura arcaica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
  • COELHO, Marcelo. ‘Lavoura’ e os indícios de uma obra-prima. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 nov. 2001. Ilustrada. p. E-8
  • COLI, Jorge. A pobreza criadora da folkmídia. Folha de S.Paulo, 23 jan. 2005. Caderno Mais. p.2
  • CONTI, Mario Sergio. A lavoura do artista. Folha de S.Paulo, São Paulo, 09 nov. 2001. Ilustrada. p. E-1
  • CONTI, Mario Sergio. Luiz Fernando Carvalho faz obra de arte. Folha de S.Paulo, São Paulo, 09 nov. 2001. Ilustrada. p. E-3
  • ORICCHIO, Luiz Zanin. Minissérie rima emoção com conteúdo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18 jan. 2005. Caderno 2. p. D-3
  • PIZA, Daniel. Uma derrota do populismo cultural. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23 jan. 2005. Caderno 2. p. D-3
  • XAVIER, Ismail. A trama das vozes em Lavoura arcaica: a dicção do conflito e a da elegia. In: FABRIS, M.; GARCIA, W; CATANI, A. M. (Org.). Estudos de cinema SOCINE: ano VI. São Paulo: Nojosa, 2005.

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