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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Joyce Moreno

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
31.01.1948 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Joyce Silveira Moreno (Rio de Janeiro RJ 1948). Cantora, compositora e violonista. Nascida e criada em Copacabana, Joyce começa a aprender violão de maneira autodidata aos 14 anos, por influência do irmão Newton, guitarrista, bancário e advogado recém-formado amigo de músicos como Roberto Menescal (1937) e Eumir Deodato. Em 1964, a convite de Me...

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Joyce Silveira Moreno (Rio de Janeiro RJ 1948). Cantora, compositora e violonista. Nascida e criada em Copacabana, Joyce começa a aprender violão de maneira autodidata aos 14 anos, por influência do irmão Newton, guitarrista, bancário e advogado recém-formado amigo de músicos como Roberto Menescal (1937) e Eumir Deodato. Em 1964, a convite de Menescal, participa pela primeira vez de uma gravação de estúdio, num disco do grupo vocal Sambacana. Na mesma época, começa a compor.

Em 1967, ingressa na faculdade de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e atua como estagiária do Jornal do Brasil. Paralelamente, intensifica seus estudos musicais com os professores Jodacil Damasceno (violão clássico e técnica) e Wilma Graça (teoria e solfejo). No mesmo ano, classifica Me disseram (de sua autoria), no III Festival Internacional da Canção (FIC).

Seu primeiro álbum, Joyce, é lançado em 1968, com arranjos de Lindolpho Gaya e Dori Caymmi (1943). Gradua-se em jornalismo em 1970, época em que integra os grupos Sagrada Família  e A Tribo. 

Em 1975,  após uma pausa, retoma a carreira acompanhando Vinicius de Moraes (1913-1980) em turnê pela América Latina. Em 1976, viaja com o poeta para shows na Europa. Na Itália, grava seu primeiro disco solo internacional, Passarinho urbano, produzido por Sérgio Bardotti. No ano seguinte, durante temporada em Nova York, onde grava o LP Natureza, em parceria com o músico Maurício Maestro (1949).

Intérpretes como Elis Regina (1935-1982), Maria Bethânia (1946), Ney Matogrosso (1941), Milton Nascimento (1942) passam a gravar sua obra. Em 1980, classifica Clareana no Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Globo. O sucesso da canção incentiva a gravadora EMI-Odeon a lançar Feminina, álbum que dá maior projeção nacional à cantora e compositora.

Joyce mantém uma intensa carreira internacional, com shows e gravações especialmente por Europa e Estados Unidos. Desde 1991, realiza turnês regulares no Japão. 

Após publicar a coletânea de crônicas autobiográficas Fotografei você na minha Rolleyflex (1997), é convidada a atuar como colunista do jornal O Dia entre 1998 e 2000. Paralelamente, também comanda o programa Cantos do Rio, na TVE (1999-2000) e na TV Bandeirantes (2002). Em 2010, idealiza e apresenta No compasso da história (Multirio), série de documentários que contam a história do Brasil pela música popular.

Embora seja herdeira da bossa nova e contemporânea da Tropicália e do Clube da Esquina, é impossível classificar a obra de Joyce Moreno dentro de um único movimento ou gênero. A cantora de emissão limpa faz uma música que tem como base harmonias bem desenhadas em um violão sincopado, com forte influência do samba carioca da década de 1930 e, ao mesmo tempo, muita abertura para a improvisação vocal e instrumental. 

O que se ouve em seus primeiros três álbuns, no entanto, é uma artista ainda em formação, em busca de uma própria identidade. Nesses trabalhos, sua interpretação e a voz um pouco impostada remetem às divas da Era do Rádio. Já os arranjos das canções ora soam tradicionais – como em Bloco do eu sozinho [Marcos Valle (1943)/ Ruy Guerra (1931)], com a presença de orquestra de cordas –, ora têm um tom psicodélico, a exemplo de Asa branca [Luiz Gonzaga (1912-1989)/ Humberto Teixeira(1915-1079)], numa versão dançante municiada com guitarra e órgão Hammond.

Joyce é uma autora reconhecida por letras que tratam de temas femininos na primeira pessoa. Desde o início de sua carreira como compositora, ela se destaca por um repertório relacionado ao universo da mulher, inclusive causando rebuliço no III Festival Internacional da Canção (FIC), ao defender Me disseram (de sua autoria). O Brasil de 1967, comandado por uma ditadura militar que defendia valores morais rígidos, não estava acostumado a ouvir uma jovem de 19 anos cantar de maneira tão direta o seu amor: "Já me disseram/ que meu homem não me ama/ me contaram que tem fama/ de fazer mulher chorar (...)/ Só eu sei/ Que ele gosta de carinho/ Que não quer ficar sozinho/ Que tem medo de se dar". 

As personagens das canções de Joyce se impõem, seja no ambiente familiar ou profissional – não para reivindicar mais direitos na sociedade mas para exercê-los efetivamente. Isso se dá de maneira pacífica, natural. Em vez do conflito entre gêneros, há uma busca pelo equilíbrio. Meio a meio, por exemplo, é um convite para uma espécie de socialização da relação conjugal, com uma divisão das tarefas domésticas. A mulher se dirige a seu pretendente encorajando-o a se envolver com alguém que trabalha e garante o pão de cada dia “tão bem quanto você”. E pede que ele esqueça as convenções sociais: “Não fuja mais de mim/ esqueça a tradição/ não tenha vergonha”.

Essa temática também domina canções assinadas em parceiras femininas, como é o caso de Essa mulher (com Ana Terra) e Samba de mulher [com Léa Freire (1957)]. Sob esse olhar, os homens são contemplados tanto de maneira irônica quanto carinhosa e singela. Se Nacional kid (“Mulher minha não mexe com essas coisas, não”) escancara o machismo brasileiro, a sensual Da cor brasileira ("De quem falo, me acha direita/ Se casa comigo/ Se rola e se deita/ Me namora quando não devia") equilibra o jogo dos sexos, numa espécie de diálogo musical com Da cor do pecado (Bororó).

Determinadas canções são claramente autobiográficas. Em Moreno, Joyce celebra sem pudores “a pulsação do corpo” de seu parceiro Tutti Moreno, algo que o crítico Tárik de Souza (1946) definiu como “a mais escancarada declaração de amor com nome e sobrenome desde que a mulher começou a compor, no início do século, pelos dedos atrevidos da maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935).” Já a valsa Clareana é dedicada às filhas, e a gravação original conta com as participações das próprias, dividindo vocais com a mãe. 

Não à toa, o álbum que alavanca definitivamente a carreira da artista chama-se Feminina, título também de um samba em que ela dá a receita: “Ô, mãe/ Me explica, me ensina/ Me diz, o que é feminina?/ Não é no cabelo, ou no dengo, ou no olhar/ É ser menina por todo lugar”).

A compositora também envereda por canções filosóficas e espiritualistas, como O povo das estrelas (“Gente de outro planeta, igual a mim/ Com a cabeça na mesma direção/ Gente que também quer, também tá a fim/ De ver gente de outra constelação”), Monsieur Binot (“O que dá maior satisfação/ É a cabeça da gente/ A plenitude da mente/ A claridade da razão”) e Mistérios (parceria com Maurício Maestro), na qual o romantismo é invadido pelas forças da natureza: “A vida passou pra me carregar/ Preciso aprender os mistérios do mundo/ Pra te ensinar”.

O samba de Joyce flerta com outros ritmos e gêneros: com o bolero em Havana-me [parceria com Paulo César Pinheiro (1949)]; com o blues em Stone washed; e, constantemente, com o jazz. Também há o diálogo com músicas e artistas do passado: Pega leve remete a Estatutos da gafieira [Billy Blanco (1924-2011)] e, em 1985, a cantora divide com o cantor Roberto Silva (1920-2012) o álbum O samba foi sua glória, dedicado ao repertório do compositor Wilson Batista (1913-1968).

Sua ascendência bossanovista se revela mais evidente em suas composições a partir da década de 1980. É o caso de Tardes cariocas, Prossiga [parceria com João Donato (1934)] e Tema para Jobim (com Gerry Mulligan), esta última trilha sonora do filme O jogador (1992), de Robert Altman. Como intérprete, ela homenageia os pioneiros do gênero em três álbuns: Tom Jobim – Os anos 60 (1987), Vinicius de Moraes – Negro demais no coração (1988) e Celebrating Jobim (2009), com a WDR Band.

Outra característica marcante da obra de Joyce Moreno é força rítmica de suas composições, muitas delas de intenção dançante (vide o repertório do  álbum Gafeira moderna (2001), o que contribui para a projeção internacional da artista. “Nas emissoras de rádio/ Esse som brasileiro já não se ouve mais/ Vou pros Estados Unidos ouvir o meu samba/ Brasil, até jazz”, ela anuncia em Até jazz (parceria com Paulo César Pinheiro). Além de ser escutada nos clubes e festivais de jazz no exterior, sua música também está presente nas pistas de dança, a exemplo de “Aldeia de Ogum”, e lançada em coletânea pelo DJ londrino Gilles Peterson.

Obras 14

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Espetáculos 2

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 7

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  • FIORAVANTE, Celso. Joyce prova que não vive só de "Clareana". Folha de S. Paulo, 26 abr. 1996. Ilustrada. p. 7.
  • GARCIA, Lauro Lisboa. Joyce, essa mulher. O Estado de S.Paulo. 04 abr. 2008. Caderno 02, p. 43.
  • GRUPO CONTADORES DE ESTÓRIAS. Site oficial do grupo. Disponivel em < http://www.ecparaty.org.br >. Acessado em: 28 abr. 2011. Espetáculo: O Menino, O Velho e o Burro - 1982. não catalogado
  • JOYCE MORENO. Fotografei você na minha rolleyflex. Rio de Janeiro: Multiletra, 1997.
  • JOYCE MORENO. Site oficial da artista. Disponível em: http://www.joycemoreno.com. Acesso em: 17 mar. 2014
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
  • SOUZA, Tárik de. O som nosso de cada dia. Porto Alegre: L&PM, 1983.

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