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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Léa Freire

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
26.02.1957 Brasil / São Paulo / São Paulo
Léa Silvia de Carvalho Freire (São Paulo, São Paulo, 1957). Flautista, compositora, arranjadora, empresária. Inicia os estudos de piano aos 7 anos. Aos 16 anos, ingressa no Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), fundado pelos integrantes do grupo Zimbo Trio. Estuda piano, violão e flauta. Conhece diversos músicos, como Nico Assumpção (1954...

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Biografia

Léa Silvia de Carvalho Freire (São Paulo, São Paulo, 1957). Flautista, compositora, arranjadora, empresária. Inicia os estudos de piano aos 7 anos. Aos 16 anos, ingressa no Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), fundado pelos integrantes do grupo Zimbo Trio. Estuda piano, violão e flauta. Conhece diversos músicos, como Nico Assumpção (1954-2001), Cláudio Celso (1955), Filó Machado (1951), Arismar do Espirito Santo, Caito Marcondes (1954) e Bocato (1960), com quem convive e a toca. 


Grava seu primeiro disco autoral, Ninhal (1997), em parceria com a cantora e violonista Joyce (1948). Juntas compõem “Samba de Mulher”, “Vatapá” e “Oásis”. O disco também conta com participação da Banda Mantiqueira, liderada pelo músico Nailor Proveta. Em 1998, integra o grupo do saxofonista e flautista Teco Cardoso (1960) e viaja em turnê pelos Estados Unidos, apresentando-se no Blue Note, Nova York. Dessa turnê, surge o disco Quinteto (1999).


Em 1997, Léa funda o selo Maritaca, dedicado à produção de música instrumental brasileira. Entre os artistas do catálogo, estão Alessandro Penezzi (1974), Arismar do Espirito Santo, Benedito Lacerda (1903-1958), Bocato, Caito Marcondes, Filó Machado, Laércio de Freitas (1941), Mozar Terra (1950), Nailor Proveta, Silvia Goes (1947), Theo de Barros (1943), Vinícius Dorin (1962-2016), Zeli, Banda Mantiqueira, Trio Corrente.


Em 2005, grava com o trombonista Bocato dois volumes dedicados ao repertório brasileiro, Antologia da Canção Brasileira, arranjados pela flautista. No disco participam, Djalma Lima na guitarra, Edu Ribeiro (1975) na bateria, Michel Freidenson no piano e Sizão Machado no baixo.


Em 2006, excursiona pela Europa e pelo Brasil com o pianista dinamarquês Thomas Clausen (1949). O resultado da parceria é o disco Waterbikes (2007), com composições da dupla.

Com a ideia de unir música erudita e popular e criar uma sonoridade sofisticada e brasileira, lança o disco Cartas Brasileiras (2007). Com composições próprias, o álbum tem a participação de músicos da Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp) e da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo (USP), sob regência do maestro Gil Jardim (1958), e participações de Paulo Braga (1963), Paulo Bellinati (1950), André Mehmari (1977), Nailor Proveta, Mônica Salmaso (1971), entre outros. A obra celebra 50 anos da artista e dez anos do selo Maritaca.

No disco Vento em Madeira (2010), colaboram o saxofonista e flautista Teco Cardoso, o pianista Tiago Costa, o baixista Fernando Demarco e o baterista Edu Ribeiro (1975), com participação da cantora Mônica Salmaso.


Além da carreira artística, Léa ministra oficinas de música por todo o país. Toca e grava com vários artistas, entre eles, Rosa Passos (1952), Arrigo Barnabé (1951), Nelson Ayres (1947), Ivan Lins (1945) e Hermeto Pascoal (1936). Em 2002, participa do álbum Jobim Sinfônico, vencedor do prêmio Grammy Latino de 2004, como melhor álbum de música. clássica. 

Análise

A flauta brasileira tem tradição, desde seu uso pelos índios, passando pelos pífanos do nordeste, crescendo e maturando-se no choro urbano. Léa Freire dá continuidade a uma linha evolutiva que tem nomes como Benedito Lacerda, Zequinha de Abreu (1880-1935), João Dias Carrasqueira (1908-2000), Altamiro Carrilho (1924-2012), Pixinguinha (1897-1973) e Hermeto Pascoal. Do fraseado do choro e da melodia amarrada no contexto harmônico, surge terreno fértil para a inventividade e a brincadeira improvisada.


Por toda sua obra, ouve-se a influência da formação de sopro, como suas aberturas de vozes e comportamentos rítmicos. Em Ninhal, as músicas “Fererê”, “Frevo” e “Vatapá” apresentam a sonoridade dos conjuntos de flautas, saxofones e trombones tão presente na música brasileira, sobretudo em Pixinguinha, o maior colaborador e responsável pela compreensão desse som como reflexo de Brasil. 


Mesmo em outras formações, como as de quinteto, Léa tem o fraseado adquirido na prática exclusiva de um instrumento melódico. É no entendimento da frase melódica que estrutura a harmonia e o ritmo. As parcerias com Joyce mostram sua liberdade melódica, como na canção “Oásis”, com saltos melódicos e caminhos harmônicos sofisticados, seguidos de repousos sem pressa de continuar.


Os discos possuem um caráter de estudo da formação instrumental e de repertório. É o caso de Antologia da Canção Brasileira, trabalho produzido em dois volumes, dedicados à interpretação de baladas do cancioneiro nacional. A proposta faz com que o trombone de Bocato adapte-se à sutileza da flauta de Léa. O duo desenha com gentileza a melodia, como em “Folha Morta”, de Ary Barroso (1903-1964), e “Blue Note”, de Filó Machado. Em entrevista, Bocato revela que inspira-se nas interpretações do músico estadunidense Chet Baker (1929-1988) para baladas do saxofonista John Coltrane (1926-1967). O resultado do projeto brasileiro está em 20 canções bem arranjadas e interpretações inspiradas, como em “Pra Dizer Adeus”, de Edu Lobo (1943) e Torquato Neto (1944-1972).


Outra parceria constante, mas distinta do trabalho com Bocato, é com o saxofonista e flautista Teco Cardoso. Com ele, grava Quinteto, Waterbikes, Cartas Brasileiras e Vento em Madeira. Nesses trabalhos, Léa destaca-se como flautista e compositora. Quinteto passeia ora por composições apoiadas mais na fluidez harmônica e na condução de bateria solta – como “Oxaguiã”, “Risco” e “Fé” –, ora em bases rítmicas e suingue – como “Sorriso do Gordo” e “Vatapá”. 

Waterbikes traz o diálogo das composições de Léa com o pianista dinamarquês Thomas Clausen. Trata-se de um trabalho moderno, apoiado no groove, sobretudo nas composições do pianista, em contraste com as composições melodiosas de Léa, enfatizadas pelas dobras de sax soprano de Teco Cardoso, como em “Rabisco”.
 

Cartas Brasileiras é o trabalho mais audacioso, pela quantidade de pessoas envolvidas, complexidade das músicas e beleza dos arranjos. Ora sinfônico, ora com formação exclusiva de sopros, ora em banda, o álbum reúne as músicas de Léa em sua melhor performance. “Vento em Madeira”, primeira faixa do disco, oscila o tema na flauta e nas cordas e possui momentos de agilidade nos sopros, em diálogo com intervenções de piano. Ouro destaque é “Choro na Chuva”, na qual Léa aventura-se na escrita para orquestra e compõe um choro com sensação de valsa e uma segunda parte em compasso 17/16. “Bis a Bis” é executada com o grupo Sujeito a Guincho. Irreverente e bem-humorada, a música traduz sonoramente conversa pela janela das duas avós de Léa. A inspiração do disco é o vasto leque da música popular, que recebe tratamento erudito e consegue a grandiosidade sinfônica, sem perder a singeleza da música de conjuntos de rua. Em “Caminho das Pedras”, Léa expande a sonoridade dos regionais de choro, com bandolim e violão de sete cordas e clarinete. A feminilidade, o lirismo e o misticismo são sensações propostas em “Isabella”, “Nove Luas” (com o tema no sax alto de Nailor Proveta), “Maré” (com o sofisticado violão de Paulo Bellinati, em contraponto à orquestra e sustentando o diálogo entre clarinete e clarone) e “Espiral” (com o piano da própria Léa amarrado pelo canto afinado e claro de Mônica Salmaso).

A partir de Cartas Brasileiras, surge o grupo Vento em Madeira, com os músicos Teco Cardoso, Tiago Costa, Fernando Demarco, Edu Ribeiro, e participação de Mônica Salmaso. A preocupação em unir música popular e erudita é preservada, mas realizada com uma formação menor. As músicas abrem também a possibilidade de improvisação sobre os temas. O quinteto consegue preencher, por meio de arranjos bem cuidados, a sonoridade sinfônica e complexa presentes na escrita de Léa.

Além da carreira musical, ela é responsável pelo selo Maritaca, dedicado à música brasileira de qualidade. Fundado em 1997, o selo tem em seu casting nomes importantes da música instrumental produzida no Brasil. Maritaca é uma forma encontrada pela flautista de unir forças em cima do palc e fora dele.

Obras 73

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Exposições 1

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