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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

André Mehmari

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.11.2021
22.04.1977 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
André Ricardo Mehmari (Niterói, Rio de Janeiro, 1977). Pianista, arranjador, compositor e multi-instrumentista. Aos 8 anos, ingressa em um conservatório de Ribeirão Preto, São Paulo. Inicia a carreira profissional aos 11, tocando em bailes locais. Em 1990, integra pequenas formações instrumentais e toca em casas especializadas de jazz. Com 15 an...

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André Ricardo Mehmari (Niterói, Rio de Janeiro, 1977). Pianista, arranjador, compositor e multi-instrumentista. Aos 8 anos, ingressa em um conservatório de Ribeirão Preto, São Paulo. Inicia a carreira profissional aos 11, tocando em bailes locais. Em 1990, integra pequenas formações instrumentais e toca em casas especializadas de jazz. Com 15 anos, já possui cerca de 200 peças em seu catálogo de obras. Participa como bolsista do Festival de Inverno de Campos do Jordão, em 1993, integrando a big band do festival dirigida por Roberto Sion e, em 1994, a classe de arranjo de Moacir Santos. Inicia estudos universitários de piano com Amílcar Zani na Universidade de São Paulo (USP), em 1995. Realiza seu primeiro concerto como compositor no Festival Internacional de Música Nova, em Ribeirão Preto.

Ganha duas vezes o Prêmio Nascente, da USP/Editora Abril, nas categorias composição popular, em 1995, e composição erudita, em 1997. Em 1998, conquista o primeiro lugar no Prêmio Visa de MPB Instrumental. Participa como instrumentista de festivais no Brasil (Chivas Jazz Festival e Tim Festival) e no exterior (Spoleto Jazz USA e Umbria Jazz), além de realizar turnês com Ná Ozzetti, Joyce, Ivan Lins e atuar como solista na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), na Jazz Sinfônica e na Banda Sinfônica do Estado de São Paulo (Bsesp). Como intérprete ou arranjador, trabalha com músicos como Dori Caymmi, Tutty Moreno, Toninho Ferragutti, Mônica Salmaso, Hamilton de Holanda, Gabriele Mirabassi, Dimos Goudaroulis, Nailor "'Proveta", participando do registro de cerca de 30 CDs, dos quais se podem destacar Forças D'Alma (de Tutty Moreno) e Africo (de Sérgio Santos).

Grava álbuns misturando arranjos e composições próprias em diversas formações: solo, como multi-instrumentista (Canto e De Árvores e Valsas); em duos (entre os quais os álbuns Contínua Amizade e Gismontipascoal, com Hamilton de Holanda, que recebem o Prêmio Rival/Petrobras e o 22º Prêmio da Música Brasileira, respectivamente); em trio, em grupos (Lacrhimæ e Nonada, este indicado ao Latin Grammy Award em 2008). Como arranjador e compositor popular, escreve, entre outras, para a Osesp (arranjo de Eu Te Amo, de Chico Buarque) e Bsesp (em que se torna compositor residente na temporada de 2007).

Mehmari compõe quatro trilhas sonoras para balé, e peças camerísticas e orquestrais estreadas por grupos de câmara e orquestras do Brasil, como Sujeito a Guincho, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Quinteto Villa-Lobos, Osesp, Bsesp e Orquestra Sinfônica Brasileira), das quais se destacam a Sinfonia Elegíaca (detentora do Prêmio Sinfonia para Mário Covas), a Suíte de Danças Reais e Imaginárias, encomendada pela Osesp para o Concurso Internacional de Regência, e Cidade do Sol, escrita para a Sinfônica Heliópolis, por encomenda da TV alemã Deutsche Welle. Recebe o Prêmio Carlos Gomes na categoria revelação do ano, em 2007. Em 2011, assina contrato para gravar cinco discos pelo selo italiano Egea.

Análise

Como intérprete, André Mehmari se destaca pela atuação na área da improvisação, evidenciado na gravação das peças Atlântico (do disco Improvisos, em parceria com Célio Barros e Sérgio Reze) e Choro da Contínua Amizade (do disco Miramari, em parceria com Gabriele Mirabassi). A mesma desenvoltura musical pode ser percebida na área dos arranjos, dos quais podem ser citados Luz do Sol, de Caetano Veloso, e Cais, de Milton Nascimento. Para Mehmari, a composição e o arranjo compartilham do mesmo pensamento musical, no sentido em que, em seus arranjos, ele se apropria do material e o reveste com o próprio discurso, segundo suas referências pessoais. Nesse âmbito, aparece como um arranjador que concilia a música popular e a erudita em uma idiossincrática linguagem neotonal que, por um lado, continua a estética neoclássica stravinskiana e, por outro, absorve e reflete a tradição do jazz americano e da música popular brasileira.

Essa característica de intercambiação de linguagens e referenciais populares e eruditos provém, em parte, da preocupação do compositor com o alcance comunicativo de sua obra. Em suas próprias palavras: "Eu lanço mão de diversas linguagens e estilos musicais para passar a minha mensagem, e já no meu primeiro disco há o indício de vários elementos que marcam meu trabalho hoje, como, por exemplo, o cruzamento de estilos".1

A transição operada entre as linguagens, todavia, se dá de maneira bastante peculiar. Para o compositor, tanto a atividade do arranjo quanto a da composição lidam com dados cognitivos similares de criação que os aproxima. Como exemplos estão a sua interpretação de Because, dos Beatles, em que insere o início do primeiro movimento da Sonata ao Luar, de Beethoven, na introdução da canção. Citações advindas do imaginário da música popular, como em Norwegian Wood, em que cita a peça Tristezas do Jeca, de Angelino de Oliveira. Em Lachrimæ, faz alusão à obra homônima do alaudista e compositor inglês John Dowland (1563 - 1626).2

Em termos estruturais, sua escrita popular revela um pensamento melódico lírico, sobre o qual aplica vários tipos de deslocamento métrico e de acento, tirando partido de recursos rítmicos como síncopes e hemiólias3 (que desestabilizam o equilíbrio da métrica sem destruí-la). Formalmente, trabalha recorrendo a contracantos e técnicas contrapontísticas4 num estilo reminiscente da escrita barroca e sobretudo da bachiana,5 o que transforma o piano em seus arranjos num instrumento central (seguindo a tradição de Luiz Eça e Egberto Gismonti), que tem como objetivo reforçar os afetos da linha principal (numa concepção também barroca do termo). Um exemplo tanto de suas estratégias estruturais quanto formais pode ser encontrado em Nasce um Anjo: Uma Ária Neobarroca.

Na área da música erudita, Mehmari mostra-se mais austero. No que tange à questão da referencialidade, apenas uma de suas composições, Cidade do Sol, peça que tem o objetivo de ligar as culturas brasileira e alemã, traz referências da música popular. Nela, o compositor baseia-se nos Lieder Heliopolis, de Franz Schubert, citando tanto o compositor alemão quanto as peças brasileiras Apanhei-Te Cavaquinho, de Ernesto Nazareth, e Rosa, de Pixinguinha. Mas mesmo aí os ritmos populares não contaminam sua escrita erudita, fato que se deve, segundo o compositor, à problemática "de ter de 'traduzir' a linguagem do chorão 'popular' para o músico orquestral, que possui uma postura muito diferente diante da música escrita".6 De fato, sua técnica de escrita nesse campo segue a linhagem europeia clássico-romântica, obedecendo a esquemas formais que remetem a essas estéticas. A harmonia e a orquestração, no entanto, mostram-se mais permeáveis à influência de outras correntes. Assim, nessa mesma peça citada, podem-se ouvir sonoridades orquestrais que lembram as bernsteinianas de West Side Story.

Em termos de formação estilística, é difícil estabelecer as referências que influenciam o compositor, por serem muitas. Mesmo assim, pode-se encontrar uma forte filiação do Mehmari intérprete em Luiz Eça, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Keith Jarrett e do Mehmari criador em Johann Sebastian Bach, na fase neoclássica de Igor Stravinsky, Leonard Bernstein, nos movimentos brasileiros do choro, Clube da Esquina, bossa nova, MPB em geral e no jazz, que acabam transparecendo de momento a outro em sua obra.

Notas

1. BARNABÉ, Arrigo; MEHMARI, André. Entrevista com André Mehmari em composição. Difundido originalmente pelo programa Supertônica da Rádio Cultura, 29 jan. 2010. Disponível em: . Acesso em: 19 ago. 2011.

2. John Dowland (1563 - 1626): compositor e alaudista inglês do período renascentista, contemporâneo de Shakespeare. Lachrimae intitula um conjunto de sete pavanas que compôs para viola e alaúde em 1604.

3. Do termo grego hémiolos ou hémiolios (hémi, "metade", et holos, "inteiro"), designa uma proporção de um e meio para um. Em música, é originalmente utilizada como a inserção de uma estrutura rítmica binária (2) em um compasso ternário (3) ou vice-versa. Adquire posteriormente um sentido mais geral significando simplesmente a proporção de duas grandezas em que uma contém a outra uma vez e meia.

4. Técnica de escrita musical na qual ocorre uma sobreposição organizada de linhas melódicas distintas. O termo "contraponto" provém originalmente do latim contrapunctum, que significa ponto contra ponto, ou nota contra nota.

5. Relativo à escrita musical de Johann Sebastian Bach (1685 - 1750): um dos compositores mais importantes do período barroco.

6. CATANZARO, Tatiana; MEHMARI, André. Entrevista com o compositor. Paris/São Paulo, 2011.

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Fontes de pesquisa 6

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  • ARAGÃO, Helena; MEHMARI, André. André Mehmari, o menino do dedo verde. Disponível em: <<http://www.andremehmari.com.br/new/Imprensa/overmundo.pdf>>. Acesso em 21/08/2011.
  • BARNABÉ, Arrigo; MEHMARI, André. "Entrevista com André Mehmari em composição". Difundido originalmente pelo programa Supertônica da Rádio Cultura, em 29/01/2010. Disponível em: <<http://www.culturabrasil.com.br/programas/supertonica/arquivo-11/andre-mehmari-em-composicao-3>>. Acesso em: 19/08/2011.
  • CATANZARO, Tatiana; MEHMARI, André. "Entrevista com o compositor". Paris/São Paulo, 2011.
  • PALUMBO, Patricia, "André Mehmari", in: Instrumental SESC Brasil, Show-entrevista realizado no dia 07/10/2008. Disponível em: <<http://instrumentalsescbrasil.org.br/>>. Acesso em: 20/08/2011.
  • PERPÉTUO, Irineu Franco. "Beethoven com Beatles". Revista Bravo!, agosto de 2005, pp. 73 75.
  • PERPÉTUO, Irineu Franco. "Sobre a obra", in: Lachrimæ: Encarte do CD. São Paulo: Cavi Records/SACD, 2003.

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