Laércio de Freitas

Laércio de Freitas, 2023
Texto
Laércio de Freitas (Campinas, São Paulo, 1941 - São Paulo, São Paulo, 2024). Pianista, arranjador, maestro, compositor. Laércio de Freitas é um importante instrumentista na concepção de uma linguagem contemporânea do choro. Com o álbum São Paulo no Balanço do Choro, de 1980, o músico contribui decisivamente para uma adequação do gênero à sonoridade do piano e dá continuidade às experiências no mesmo campo iniciadas por um de seus mestres, Radamés Gnattali (1906-1988).
A mãe é violinista e o pai toca bandolim. A mãe o alfabetiza ao mesmo tempo que o ensina a ler e escrever música. Com cinco anos, apresenta vocação. Aos oito anos, entra para o Conservatório Carlos Gomes para estudar piano e se forma aos 16. Desde pequeno, apresenta-se no programa Clube Papai Noel, da Rádio Tupi, dedicado às crianças. Nos bastidores da emissora, conhece dois de seus maiores incentivadores: o multi-instrumentista Esmeraldino Salles (1916-1979) e o maestro Erlon Chaves (1933-1974).
Erlon Chaves o convida para integrar a orquestra da rádio e formar um trio para acompanhar os cantores que se apresentam na emissora. Esmeraldino torna-se integrante do trio e, ao longo dessa convivência, Laércio aguça seu interesse e conhecimento pela linguagem do choro.
Nos anos 1960, começa a participar de gravações em álbuns de intérpretes importantes da música brasileira. Grava em seis faixas, por exemplo, no álbum Alaíde Costa, de Alaíde Costa (1935), lançado em 1965; também está presente no disco Mustang Cor de Sangue (1969), de Marcos Valle (1943).
Em 1969, integra o grupo Tamba 4, substituindo Luiz Eça (1936-1992) indicado por Dom Salvador (1938). Viaja ao México para excursionar com o quarteto, formado pelo baterista e percussionista Hélcio Milito (1931-2014), o flautista e saxofonista Bebeto Castilho (1939-2023) e o baixista Dório Ferreira. Grava o terceiro álbum do grupo, Tamba 4, lançado em 1970.
Durante o período no México, Laércio compõe “Capim Gordura”, motivado pela saudade do país natal. De volta ao Brasil em 1970, integra o grupo de Luiz Carlos Vinhas (1940-2001) e a música faz parte do repertório das apresentações. Vinhas grava a composição em 1971, e a canção, com influência da musicalidade do interior de São Paulo, se torna um sucesso. A repercussão da gravação abre as portas para Laércio de Freitas gravar seu primeiro disco solo.
Lançado em 1972, O Som Roceiro tem produção de Durval Ferreira (1935–2007) e reúne sete composições originais do autor. O trabalho segue a linha das referências interioranas em algumas faixas, mas expande a sonoridade para a música pop na versão para “Mummy Blue”, do francês Ricky Shayne (1944), e para a MPB, com a regravação de “Chuva, Suor e Cerveja”, de Caetano Veloso (1942).
Durante essa década, Laércio se torna um músico de estúdio extremamente ativo e participa como instrumentista e arranjador de centenas de álbuns da música brasileira. Assina arranjos para Clara Nunes (1942-1983), Emílio Santiago (1946-2013), Erasmo Carlos (1941-2022), Ivan Lins (1945), João Donato (1934-2023) e Tim Maia (1942-1998). Um dos principais destaques é o álbum homônimo de Elza Soares (1930-2022) de 1973.para o qual o pianista assina os arranjos de todas as faixas.
Na mesma década, Laércio integra os grupos de Radamés Gnattali e Severino Araújo (1917-2012) e se aprofunda na linguagem do choro. O saxofonista e arranjador J.T. Meirelles (1940-2008) o convida para participar do disco Severino Araújo e a Orquestra Tabajara de 1975. O pianista segue com o grupo do compositor e clarinetista e participa também das gravações do álbum seguinte, A Tabajara de Severino Araújo, lançado em 1977. Também a convite de Meirelles, participa do álbum Depoimentos Vol. 2, que Gnatalli grava com seu sexteto em 1975. Laércio torna-se integrante do grupo.
A convivência com ambos, dois dos principais compositores e arranjadores do choro, instiga o pianista a se aprofundar na linguagem do gênero e lança o álbum São Paulo no Balanço do Choro em 1980. A obra é considerada um divisor de águas para o choro, com uma abordagem inovadora para o piano na concepção instrumental e influência do jazz estadunidense.
A imersão no gênero guia também os álbuns seguintes: Terna Saudade (1988); Laércio de Freitas e Carlos Malta (1993), em parceria com o flautista e saxofonista Carlos Malta (1960); e Laércio de Freitas homenageia Jacob do Bandolim (2007), em parceria com o violonista Alessandro Penezzi (1974) e com repertório de Jacob do Bandolim (1918–1969).
Nos anos 2000, a convite do saxofonista, clarinetista e arranjador Proveta (1961), assina arranjos para três álbuns lançados pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) com a Banda Mantiqueira, entre 2003 e 2007. Em 2022, é lançado o álbum Moderno e Inédito, em que sete pianistas, entre eles Amilton Godoy (1941) e Cristovão Bastos (1946), interpretam composições de Laércio.
Laércio de Freitas tem a qualidade de circular pelos mais diferentes gêneros musicais ao longo da carreira. Se por um lado é referência como compositor e arranjador de choro, por outro é um instrumentista requisitado em centenas de álbuns da MPB e do samba, além de se tornar referência na fusão de música popular e erudita, principalmente pelo trabalho com a Osesp e a Banda Mantiqueira. Essa versatilidade garante ao artista um lugar de destaque na música brasileira como instrumentista, compositor e arranjador.
Obras 2
Espetáculos 11
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23/10/2003 - 2/11/2003
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23/10/2003 - 2/11/2003
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23/10/2003 - 2/11/2003
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8/11/2003 - 9/11/2003
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12/11/2003 - 12/11/2003
Fontes de pesquisa 5
- DINIZ, Augusto. Laércio de Freitas: a música brasileira precisa mostrar sua grandeza. Carta Capital, 26 nov. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/cultura/laercio-de-freitas-a-musica-brasileira-precisar-mostrar-sua-grandeza/. Acesso em: 6 nov. 2023.
- FERREIRA, Mauro. Pianista Laércio de Freitas tem obra documentada em álbum de inéditas e livro com partituras. G1, 15 out. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/10/15/pianista-laercio-de-freitas-tem-obra-documentada-em-album-de-ineditas-e-livro-com-partituras.ghtml. Acesso em: 6 nov. 2023.
- FREITAS, Laércio. Laércio Freitas. [entrevista concedida a] Ramiro Zwetsch. Itaú Cultural, nov. 2023.
- MARIA, Julio. Obra do gigante Laércio de Freitas é dignificada em projeto ambicioso. O Estado de São Paulo, 22 out. 2022. Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/musica/obra-do-gigante-laercio-de-freitas-e-dignificada-em-projeto-ambicioso/ . Acesso em: 6 nov. 2023.
- Morre o maestro e pianista Laércio de Freitas, aos 83 anos, em São Paulo. G1. São Paulo, 05 jul. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/07/05/morre-pianista-laercio-de-freitas-aos-83-anos-em-sp.ghtml. Acesso em: 05 jul. 2024.
Como citar
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LAÉRCIO de Freitas.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa243455/laercio-de-freitas. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7