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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Carlos Malta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.09.2024
25.02.1960 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Carlos Alberto Daltro Malta (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1960). Flautista, saxofonista, arranjador, compositor, professor de música. Aos doze anos recebe aulas de musicalização em sua escola, praticando canto orfeônico. Interessa-se na mesma época pela flauta doce, que passa a tocar como autodidata, ganhando em seguida um pífano do pai. Aos ...

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Carlos Alberto Daltro Malta (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1960). Flautista, saxofonista, arranjador, compositor, professor de música. Aos doze anos recebe aulas de musicalização em sua escola, praticando canto orfeônico. Interessa-se na mesma época pela flauta doce, que passa a tocar como autodidata, ganhando em seguida um pífano do pai. Aos 17 anos é aprovado na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estuda com Celso Woltzenlogel, primeiro flautista da Orquestra Sinfonica Nacional.

Passa a acompanhar artistas como Antonio Carlos & Jocafi, Maria Creuza (1944) e Johnny Alf (1929-2010), iniciando aos 17 anos sua carreira profissional. Em 1981 é convidado a integrar o grupo de Hermeto Pascoal (1936), no qual permanece até 1993. Com rotina intensa de ensaios e criação, participa dos álbuns Hermeto Pascoal & Grupo (1982), Lagoa da Canoa, Município de Arapiraca (1984), Brasil Universo (1986), Só não Toca Quem não Quiser (1987), Festa dos Deuses (1992), além de realizar shows e turnês por diversos países. Após a contribuição no conjunto de Hermeto, grava dois discos em duo: Rainbow, com o violoncelista suíço Daniel Pezzotti (1962-2017), indicado ao Prêmio Sharp, e Instrumental no CCBB, com o pianista Laércio de Freitas (1941), gravado ao vivo no Centro Cultural Banco do Brasil, ambos em 1993. Como instrumentista e arranjador, participa dos discos Olho de Peixe (1993), de Lenine (1959), Cheio de Dedos (1996) e Casa de Villa (2007), de Guinga (1950), Aquele Frevo Axé (1998), de Gal Costa (1945-2022), É Tudo Um Real (1999), de Pedro Luiz e a Parede. Acompanha cantores como Gilberto Gil (1942), Edu Lobo (1943), Ivan Lins (1945) e colabora também com instrumentistas como Zé Menezes (1921-2014) e Arturo Sandoval (1949). Em 1996, participa da faixa Jatobá, do disco de estreia do grupo pernambucano Mestre Ambrósio e, no ano seguinte, lança O Escultor do Vento, seu primeiro disco solo, realizado de forma independente, e com participação de Guinga (1950), Suzano, Lenine, Janet Duboc (1950).

Em 1999 grava o disco Carlos Malta e Pife Muderno, indicado ao Grammy Latino, que conta ainda com a participação de Andrea Ernst Dias nas flautas, Durval Pereira, Marcos Suzano e Oscar Bolão nas percussões. Também de forma independente lança em 2000 o disco Pixinguinha Alma e Corpo, no qual Carlos Malta interpreta e escreve arranjos como solista acompanhado de quarteto de cordas para composições de Pixinguinha. No mesmo ano lança Pimenta, em homenagem à cantora Elis Regina. De 2001 é Tudo Coreto, com a banda Coreto Urbano, e em 2005 lança Parú, acompanhado pelo Pife Muderno.

Em comemoração aos seus dez anos de carreira solo lança a coletânea Ponto de Bala, com faixas de diferentes momentos de sua criação. É convidado pela produtora Lu Araújo, em 2007, para realizar a direção musical do disco Bom todo, da pifanista Zabé da Loca. Como solista de orquestra, atua à frente da Orquestra Sinfônica de Brasília, Orquestra Sinfônica Petrobrás Pró-Música - RJ e Orquestra Jazz Sinfônica, além de registrar solos em discos de artistas como Caetano Veloso (Livro, Noites do Norte), Gal Costa (Aquele Frevo Axé) e Paralamas do Sucesso (Hey Na Na). Dedica-se ainda a ensinar o modo brasileiro de tocar sopros, tendo ministrado cursos e workshops em território nacional e internacional, incluindo escolas como a Berklee School of Music, Universidade de Nova Orleans, Universidade de Saint Denis e no Curso Internacional de Verão de Brasília (CIVEBRA). Lança ainda os discos Tudo Azul em 2010, de forma independente, e Prana em 2011, pela gravadora Delira Música.

Análise

Ao longo de sua obra, Carlos Malta interessa-se por desenvolver um modo brasileiro de tocar instrumentos de sopro, no qual se possa também reconhecer as tradições jazzística, erudita. Um "sotaque" brasileiro é colocado em harmonias complexas, e uma linguagem de música nacional é procurada em meio a técnicas de composição mais gerais. O contraponto1 ganha nova intensidade rítmica, e os saxofones podem soar como os instrumentos percussivos de uma escola de samba. Se na música erudita contemporânea as técnicas estendidas dos instrumentos desenvolvem-se em novos timbres, Carlos Malta procura estender as possibilidades timbrísticas através de uma orientação brasileira, permitindo-se fazer o conjunto de sopros soar como uma cuíca, um tamborim ou mesmo como toda a escola de samba.

A procura por uma linguagem brasileira que seja ao mesmo tempo universal já está na base de sua experiência com Hermeto Pascoal, compositor e instrumentista que torna-se grande referência para a música popular brasileira. Em 12 anos de trabalho integrando o grupo de Hermeto, Carlos Malta vive um aprendizado intenso ao lado do lendário músico, cujas pesquisas e experimentações exigiram algo como uma dedicação exclusiva e uma quase reclusão no bairro Jabour, onde o "bruxo" alagoano morava e ensaiava seu grupo. Trabalhando de modo intenso no desenvolvimento desse momento importante da música brasileira, Carlos Malta permanece, consequentemente, um pouco afastado da cena musical do Rio de Janeiro, trabalhando quase exclusivamente na proposta de Hermeto.

Seu primeiro disco O escultor do vento marca o início de sua carreira solo, sendo também uma reinserção no ambiente musical do Rio de Janeiro. Diversos convidados interpretam composições e arranjos seus, bastante pessoais e criativos, nos quais pode-se sentir a influência e o aprendizado junto a Hermeto Pascoal em uma ousadia que explora as múltiplas possibilidades da harmonia, do contraponto e mesmo dos próprios instrumentos. No arranjo para "Isso aqui o que é? Na cadência do samba" (Ari Barroso / Luiz Bandeira) gravado em seu disco de estreia, Malta marca o "sotaque" brasileiro formando a batucada do samba com seu conjunto de sopros: a flauta percutida com os dedos produz o som de um tamborim, o saxofone captado com um microfone próximo à campana faz a função de um surdo, e assim os sopros, sem serem soprados, vão construindo a batucada. Contraponto e harmonia não ficam atrás no quesito criatividade.

Esse disco já conta com um conjunto que batiza de "Coreto Urbano", no qual alia os instrumentos das bandas de retreta tradicionais a arranjos de concepção modernizante. Assim Carlos Malta se associa a um dos temas de maior tradição na composição musical no Brasil: a saber, a influência recíproca entre a modernidade musical cosmopolita e a música folclórica localista dos rincões tradicionais do país. Atuando dentro desse tema, já explorado no conjunto de Hermeto, Malta pode propor um resgate das bases étnicas que formam a música brasileira, combinando as sonoridades tradicionais das bandas de retreta dos coretos do interior do Brasil - responsáveis por uma parcela muito importante da formação de nossos músicos - com propostas mais arrojadas de arranjo e harmonia. Além de O escultor do vento, essa sonoridade pode ser ouvida principalmente em Tudo Coreto e em faixas de outros discos.

Atuando de diferentes modos nessa mesma proposta, Carlos Malta monta o conjunto "pife muderno", que se baseia na formação e sonoridade das bandas de pífano tradicionais para criar arranjos e composições que dialoguem também com outras linguagens. A banda de pífanos - outra formação bastante tradicional do Brasil - esta do Brasil mais pobre que constrói flautas de bambú e pvc - a banda de pífanos se vê aliada a novas ideias propostas pelo artista, que além dos pífanos tradicionais toca ainda sua coleção de flautas chinesas (Di-Zi), japonesas (Shakuhachi), indígenas, flautas baixo, contralto entre outras. Com essa formação lança os discos Carlos Malta e Pife Muderno e Parú.

No disco Prana Carlos Malta procura realizar um tipo de síntese das tendências que propôs. Composto em homenagem e memória de Ana Malta, o artista vale-se da grande espiritualidade e cerimonial da música indígena brasileira tocando as flautas Uruá, Di-Zi, Kuluta e Vetuiá. "Prana" é ao mesmo tempo um vocábulo que indica o princípio da vida para a teosofia, um estágio da libertação da alma para os iogues ou simplesmente, do sânscrito, "respiração", sendo também, nesse caso, um tipo de elisão de "pra Ana", criando um duplo sentido que é também a homenagem do artista àquela que fora sua esposa. Indo fundo em direção às raízes nacionais e ao mesmo tempo pessoais, o músico toma também uma direção cosmopolita e globalizante, utilizando-se de flautas de diferentes partes do mundo, ora tocadas de forma comum ora inusitadas, procurando novas sonoridades. A espiritualidade tradicional de um pajé em uma etnia brasileira pode aliar-se às mais avançadas técnicas composicionais da música contemporânea, e assim Carlos Malta cria uma arte sensível às questões de um brasileiro atento ao mundo.

Nota

1. Técnica de composição que lida com a superposição de melodias diferentes.

Obras 4

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