Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Nelson Ayres

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.11.2023
14.01.1947 Brasil / São Paulo / São Paulo
Nelson Luís Ayres de Almeida Freitas (São Paulo, São Paulo, 1947). Pianista, arranjador, compositor e regente. Em 1954, inicia seus estudos de acordeon e, aos 12 anos, estuda piano com Paul Urbach. Posteriormente é aluno de Luís Schiavo e Conrad Bernhard e tem aulas de regência com Diogo Pacheco (1925). Na década de 1960, atua como pianista da b...

Texto

Abrir módulo

Nelson Luís Ayres de Almeida Freitas (São Paulo, São Paulo, 1947). Pianista, arranjador, compositor e regente. Em 1954, inicia seus estudos de acordeon e, aos 12 anos, estuda piano com Paul Urbach. Posteriormente é aluno de Luís Schiavo e Conrad Bernhard e tem aulas de regência com Diogo Pacheco (1925). Na década de 1960, atua como pianista da banda São Paulo Dixieland Band. A partir de 1967, é arranjador em rádio, TV e discos. 

Além dos grupos dos quais faz parte, grava como pianista, desde 1964 1, com os estadunidenses Dizzy Gillespie (1917-1993), Benny Carter (1907-2003) e Ron Carter (1937). Também com os brasileiros Airto Moreira (1941), Flora Purim (1942), Dori Caymmi (1943) e Nana Caymmi (1941). É arranjador em dezenas de álbuns de artistas como Paulinho Nogueira (1927-2003), Marlui Miranda (1949), Milton Nascimento (1942), Frenéticas, Chico Buarque (1944), Simone (1949) e Arrigo Barnabé (1951)

Entre 1969 e 1972 torna-se, ao lado de Vitor Assis Brasil (1945-1981), o primeiro estudante brasileiro da Berklee School of Music (Boston, Estados Unidos), onde tem aulas de piano com Margareth Chaloff (1896-1977) e de composição com David Avram. Leciona, na JDS School of Music de 1971a 1972, Boston. De volta ao Brasil, organiza seminários sobre técnicas de orquestração, arranjo e interpretação que originam a Banda de Nelson Ayres (1972-1981). Segue o curso de composição na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) de 1978 a 1980. Em 1979, participa da comissão organizadora do 1o Festival de Jazz de São Paulo, e, no ano posterior, funda o grupo Pau Brasil, com o qual realiza turnês pela Europa e Japão até 1990. Em 1985, realiza o Projeto Prisma com o arranjador César Camargo Mariano (1943), um dos primeiros a utilizar a tecnologia eletrônica e computacional no país. Desse projeto, a faixa “Cidade Encantada” integra a trilha sonora da novela Ti ti ti, da TV Globo. 

Na década de 1990, torna-se diretor artístico e regente da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo (1990-1999), para a qual escreve mais de uma centena de arranjos. Retoma o piano com o Nelson Ayres Trio e com o grupo Pau Brasil. Também é regente convidado da Orquestra Jovem Tom Jobim, da Filarmônica de Israel e da Sinfônica de Jerusalém. Escreve música para teatro, como Chiclete com Banana (1968), de Augusto Boal (1931-2009); cinema, como O Xangô de Baker Street (2001) e O Menino da Porteira (2009); dança, como Cidadão Corpo (1996), de Ivaldo Bertazzo (1949), e ópera, como Ópera dos 500 (1992), dirigido por Naum Alves de Souza (1942-2016). Em sua discografia destacam-se Villa-Lobos Superstar (2011), melhor disco instrumental do 24o Prêmio da Música Brasileira, e participação no disco da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp): Francis HIME Concerto Para Violão e Orquestra - Nelson AYRES Concertino Para Percurssão e Orquestra (2010). 

De 1996 a 2001, coordena a área de música do Instituto Itaú Cultural e leciona no Departamento de Música do Instituto de Artes da Unicamp. A partir de 1998, preside o corpo de jurados do Prêmio Visa de Música Brasileira. Entre 2002 e 2005, apresenta o programa Jazz & Cia da TV Cultura. É membro do Conselho Artístico da Orquestra Jovem Tom Jobim e retoma a Banda de Nelson Ayres em 2015.

 

Análise 

A primeira influência de Nelson Ayres vem do nordeste por meio da figura de Luiz Gonzaga (1912-1989). Quando opta pelo estudo do piano, desvia-se desse impulso inicial. Seu professor, Paul Urbach, pianista húngaro, é defensor do jazz. Com ele, Ayres aprende a linguagem vinda das comunidades negras norte-americanas, e o músico estadunidense Bill Evans (1929-1980) e o pianista brasileiro Luiz Eça (1936-1992) passam a fazer parte de suas principais referências. 

Inicia sua carreira no jazz, na São Paulo Dixieland Band, experiência que marca também seu primeiro registro fonográfico em 1963. O domínio da técnica desse gênero leva-o a dedicar-se à música nacional, tocando bossa nova. Nos Estados Unidos, acentua a influência jazzísticas por meio de estudos de arranjo em Berklee e do contato profissional com jazzistas como Ron Carter, Airto Moreira e Flora Purim, com quem toca durante sua estada naquele país. O retorno ao Brasil também é pautado pelo jazz. A carência de centros especializados faz com que artistas como Héctor Costita (1934), Amilson Godoy (1946) e Roberto Sion (1946) o procurem, ávidos por informação. Surge, assim, uma série de seminários e funda-se um laboratório de experimentação: a Banda de Nelson Ayres, que permite testar composições (“Jeová”, “Augusta 18h”, “Samba-rock”), improvisações e arranjos escritos como “Como um Ladrão”, de Carlinhos Vergueiro (1952), 1º lugar no Festival Abertura (1975), da Rede Globo.

Essa mesma linguagem guia a criação do grupo Pau Brasil. No princípio, o repertório apresenta standards de jazz, em seguida, na década de 1980, vê-se uma mudança na linguagem do grupo. À época, a ebulição cultural da música popular paulistana desperta a necessidade de se criar uma identidade própria para música instrumental nacional. Além disso, a entrada do violonista e guitarrista Paulo Bellinati (1950), conhecedor de ritmos tradicionais como o maracatu, o frevo e o bumba-meu-boi, impulsiona as mudanças no grupo. Assim, Ayres torna-se, junto com esse conjunto, um dos agentes da criação de uma linguagem instrumental popular autenticamente nacional.

Contrariamente ao Fusion Jazz 2, a Música Popular Instrumental Brasileira (MPIB) propõe uma gramática musical original, cuja ideia é usar a raiz da música brasileira aliada à linguagem atual da música popular. O grupo também propõe, além da construção coletiva, a busca de uma expressão individual. Ali, como afirma Teco Cardoso (1960), saxofonista e flautista da banda, há liberdade “para que cada um traga suas experiências e bagagens. A proposta é a de dar espaço para que todos possam desenvolver, juntos, uma linguagem, e o mote é antropofágico: trazer, deglutir, digerir, transformar em outra coisa” 3. Desse tipo de experiência, emerge uma noção de individualidade coletiva 4, característica marcante no trabalho de Ayres. É sob essa ótica que distingue o músico bom do ótimo. Segundo ele, o primeiro sabe tocar, e o segundo, ouvir. Os grupos dos quais faz parte são formações em que todos têm voz,  ouvem-se, e a música é o resultado de um diálogo constante entre os envolvidos (Banda de Nelson Ayres, Nelson Ayres Trio, Trio 202, a parceria com Mônica Salmaso e Cardoso para o álbum Alma Lírica Brasileira). 

Outra particularidade de sua produção é o hibidrismo. A Jazz Sinfônica, por exemplo, é uma formação que traz traços de big band e de orquestra tradicional. Para ela, escreve seus principais arranjos e mistura a escrita da música erudita com a da música popular instrumental. Outros trabalhos, como Villa-Lobos Superstar – com transcrições e arranjos de obras desse compositor – ou o Concerto Antropofágico (Pau Brasil, Salmaso e OSESP, 2008). Dele, peças de sua autoria como “Fluctuando” e “Gloria Laus et Honor” explicitam essa mescla entre formações e tradições. No vídeo “Princípios da improvisação”, Ayres enuncia sua visão do fazer musical. Citando o compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971), resume sua a atitude frente à criação: “A composição é uma improvisação seletiva”. O arranjador é, para ele, um recriador, ou um recompositor, que insere nuances e gradações e aproxima os dois polos da tradição popular e erudita, da improvisação e da escrita. Sua inspiração vêm de ambos os mundos, como atestam canções como “Noite” (letra de Ayres) em que se ouve reminiscências de um Brasil de modinhas e lundus 5; “Mantiqueira” (letra de Ayres) e “Cidade Encantada” (letra de Milton Nascimento) – com desdobramentos da MPB. Vem ainda de obras sinfônicas como o Concertino para Percussão – próximo da retórica da música erudita tonal. Um traço, no entanto, une-as: o lirismo, preocupação que transparece quando Ayres evoca suas influências. Ao referir-se à Bill Evans, por exemplo, ressalta o fato do instrumentista trazer ao jazz um caráter introvertido e lírico, uma busca da beleza do toque, do refinamento da harmonia que, segundo o músico, o jazzista busca na música clássica para aproximar esse universo ao do jazz. Essa busca norteia as preocupações no campo da interpretação, sempre muito precisa, limpa e virtuosa, que traz ainda floreios melódicos na linhagem de Herbie Hancock. Seu trabalho como intérprete/ criador mostra uma obsessão com o burilamento das obras para torná-las únicas. Ao comentar “Noite”, canção de pouco mais de 3 minutos, afirma que 8 anos se escoam entre a escrita da música e da letra até o ponto no qual a peça é considerada finalizada 6. Além de inovador de linguagens e estilos, Ayres é um artista dedicado à perenidade dessa tradição musical, por sua atuação como pedagogo. Vários de seus alunos, entre eles Nailor A. “Proveta”, são iminentes arranjadores e intérpretes da MPIB, e muitos fazem parte de bandas renomadas, como a Mantiqueira e o Soundscape Big Band.

Nota

1. Seu primeiro álbum Jazz na Universidade (1964) é com seu grupo São Paulo Dixieland Band.

2. Corrente musical lançada na década de 1970 que se apropria de outras, como o rock, o funk, a bossa nova, o samba etc. e mistura-os com elementos do jazz. É o que se ouve em álbuns como Big Band Bossa Nova (1962), do produtor estadunidense Quincy Jones (1933), que toma temas brasileiros em roupagem de samba-jazz.

3. PALUMBO, Patrícia, et al. Pau Brasil – Entrevista. Instrumental SESC Brasil. Vídeo. São Paulo: Sesc, 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ursOkq_T-pE. Acesso em: 18 set. 2016.

4. Idem, ibidem.

5. Estilo musical do Brasil Colonial, em voga entre os séculos XVIII e XIX.

6. Isso não significa que ele não possa criar obras muito rapidamente, como se dá com Cidade Encantada, apenas denota a preocupação com o refinamento que pode levar Ayres a retrabalhar suas obras incansavelmente.

Obras 16

Abrir módulo

Espetáculos 4

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 14

Abrir módulo
  • AYRES, Nelson, et al. Pau Brasil [online]. Ensaio. Vídeo com entrevista para o programa Ensaio. São Paulo: Rádio e Televisão Cultura, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jyyeTf9f3n0. Acesso em: 18 set. 2016.
  • AYRES, Nelson. Aldeia. Texto de encarte de CD. Banda MANTIQUEIRA. São Paulo: Pau Brasil PB 003, 1996.
  • AYRES, Nelson. Princípios de improvisação. MPO Vídeo. Vídeo-aula. São Paulo, s/d.
  • CATANZARO, Tatiana; AYRES, Nelson. Entrevista telefônica com Nelson Ayres. São Paulo, setembro de 2016.
  • CIRINO, Giovanni. Narrativas musicais: performance e experiência na música popular instrumental brasileira. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
  • CLUBE DE JAZZ. Nelson Ayres. Biografia. Disponível em: http://www.clubedejazz.com.br/jazzb/jazzista_exibir.php?jazzista_id=304. Acesso em: 18 set. 2016.
  • CLUBE DE JAZZ. Nelson Ayres: um grande realizador. Entrevista. Disponível em: http://www.clubedejazz.com.br/noticias/noticia.php?noticia_id=478. Acesso em: 18 set. 2016.
  • DICIONÁRIO Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira. Coautor Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin. Rio de Janeiro: Editora Paracatu, 2006.
  • INSTITUTO Cravo Albin. Nelson Aires. In: DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro. Disponível em: http://dicionariompb.com.br/nelson-ayres. Acesso em: 18 set. 2016.
  • MÚSICOS do Brasil: uma enciclopédia instrumental. Nelson Ayres. Disponível em: musicosdobrasil.com.br/nelson-ayres. Acesso em: 26 ago. 2016.
  • PALUMBO, Patrícia, et al. Nelson Ayres Trio – Entrevista. Instrumental SESC Brasil. Vídeo. São Paulo: Sesc, 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BRoG3cqb_SY. Acesso em: 18 set. 2016.
  • PALUMBO, Patrícia, et al. Pau Brasil – Entrevista. Instrumental SESC Brasil. Vídeo. São Paulo: Sesc, 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ursOkq_T-pE. Acesso em: 18 set. 2016.
  • Programa do Espetáculo - Ciranda dos Homems ... Carnaval dos Animais - 1998. Não Catalogado
  • QUEIROZ, Flávio José Gomes de. Caminhos da música instrumental em salvador. Tese (Doutorado em Etnomusicologia) – Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: