Paulinho Nogueira
Texto
Biografia
Paulo Arthur Mendes Pupo Nogueira (Campinas SP 1929 - São Paulo SP 2003). Compositor e violonista. Paulinho Nogueira nasce e cresce na cidade de Campinas. Seu contato com a música se inicia em casa. Aos 11 anos aprende a tocar violão com o pai e o irmão mais velho e logo em seguida começa a ter aulas com o concertista professor Alfredo Scupinari. Ainda menino, participa do conjunto vocal de seus irmãos, o grupo Cacique, em que toca violão. Já adolescente, participa do conjunto Príncipes Vocalistas, apresentando-se na região de Campinas. Interessa-se pela obra de Garoto, que escuta na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Ao concluir o ensino médio, em 1949, muda-se para São Paulo com o objetivo de trabalhar como artista gráfico, mas não é bem-sucedido. Em contrapartida é contratado como instrumentista na boate Itapuã. A carreira profissional segue nas emissoras de rádio Bandeirantes e Gazeta, além de permanecer tocando em boates e bares da capital paulista acompanhando artistas como Ângela Maria, Johnny Alf e Dorival Caymmi. Na época é convidado pelo jornalista Roberto Corte Real a gravar seu primeiro disco,Voz do Violão, em 1959. O interesse da indústria fonográfica é evidente, pois lança um disco por ano nas duas décadas seguintes, fato raro para um instrumentista. Sua primeira composição gravada é Menino, Desce Daí, de 1961, no disco Sambas de Ontem e de Hoje, pela RGE.
Na década de 1960 começa a dar aulas de violão e forma uma série de jovens violonistas, como Toquinho. Em 1964, organiza e publica um método de ensino de violão que é um dos mais utilizados no Brasil, no qual introduz as cifras harmônicas como referência de aprendizagem. Nos anos de 1965 e 1967, é o violonista do programa O Fino da Bossa, da TV Record, apresentado por Elis Regina. Nogueira compõe nesse período Bachianinha nº 1, que logo se torna repertório dos violonistas. Em 1969 inventa um instrumento de doze cordas em que procura combinar a sonoridade do cravo e da viola: a craviola, que motiva o disco Moda de Craviola, de 1975. O instrumento torna-se conhecido e é adotado por vários instrumentistas, entre eles Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin.
Sua composição Menina, de 1970, faz nesse ano muito sucesso, ganha interpretações de Jongo Trio, Milton Banana, Benito di Paula e integra a trilha sonora da novela Irmãos Coragem. Na década de 1980, Nogueira desenvolve o projeto do LP Tons e Semitons, que vem acompanhado da partitura das canções. Nos anos 1990 o projeto tem continuidade com a gravação dos vídeos de Violão em Harmonia. Participa de vários festivais, destacando-se o Carifesta, Festival Internacional de Países do Caribe, em Havana, em 1979; o Festival Internacional do Violão, Nápoles, Itália, em 1991, e o Guitars in Concert, em 1992, também na Itália, quando toca com Joe Pass e Jorge Morel. Lança Chico Buarque - Primeiras Composições, pela gravadora Trama, em 2002.
No ano seguinte, é produzido o disco em sua homenagem De Coração pra Coração, gravado ao vivo na casa de espetáculos Tom Brasil, em São Paulo, com participação de Toquinho, Nando Reis, Jair Rodrigues, Jane Duboc, Yvette, Jane Moraes, Lula Barbosa, Renato Braz, Badi Assad, Yamandu Costa, Ulisses Rocha, Eduardo Gudin, Théo de Barros, Natan Marques, Paulo Bellinati, Marco Pereira, Zezo Ribeiro, Arismar do Espírito Santo, Paulinho Grassmann, Stenio Mendes, Nelson Ayres, Amilson Godoy, Laércio de Freitas, Silvia Góes, Toninho Ferragutti, Teco Cardoso, Ivani Sabino, Maguinho, Pepa D'Elia, João Parahyba e Luca Bulgarini.
Análise
No século XIX, o violão alcança características especiais, vinculado sobretudo ao universo seresteiro, do lundu e do choro. Os solistas e instrumentistas constroem uma forma peculiar de tocar, que é ensinada e repassada de maneira informal. Os compositores criam obras para o instrumento, a tal ponto de estabelecer um repertório próprio. Desse modo, inicia-se um circuito virtuoso da prática da obra violonística no Brasil. Na segunda metade do século XX, a bossa nova apresenta outra forma de tocar violão que influencia os instrumentistas contemporâneos e alcança reconhecimento internacional.
A trajetória de Paulinho Nogueira deve ser compreendida nesse contexto e também na rara condição de compositor e instrumentista. Ele transita pelo universo da música popular e a erudita, reforçando certa tradição na cultura musical brasileira. E pode ser considerado um estilista do violão brasileiro. Sem ser um grande especialista nos vários territórios do instrumento (harmonização, virtuosismo, ritmo, rapidez, timbre), cria uma fusão dos diversos elementos, inventando um estilo próprio. Uma das características desse estilo é a pureza do som ao pulsar as cordas. Isso ocorre porque, diferente da maioria dos violonistas, ele toca sem utilizar as unhas para atacar as cordas. Além disso, preocupa-se em definir tecnicamente e apresentar claramente cada nota, sem ansiedade ou virtuosismo exagerado. Cria também uma pulsação que incorpora solo e contraponto.
Suas influências musicais são bem diversificadas, variando da música erudita ao choro, passando pelo samba e pela bossa nova. Composições que revelam essa intricada dinâmica são, por exemplo, o Prelúdio em Contracanto, baseado no Prelúdio nº 20 de Chopin, incorporado depois à trilha sonora da novela Apóstolos de Judas, da TV Tupi, em 1976; e as Bachianinhas nº 1 e 2, uma referência a Johann Sebastian Bach, tornando-se uma peça do repertório violonístico no Brasil e no exterior. Seu estilo inicial é fortemente influenciado por Garoto (Aníbal Augusto Sardinha). O próprio Nogueira reconhece essa influência e grava Gente Humilde, Choro Triste e Duas Contas, músicas de Garoto. Além desse repertório, grava dezenas de valsas, choros, sambas e sambas bossa-novistas. Ao samba dedica vários discos com composições suas e de outros autores, como Brasil, Violão e Sambalanço (1960), Sambas de Ontem e de Hoje (1961), Outros Sambas de Ontem e de Hoje (1962), Mais Sambas de Ontem e de Hoje (1963), Sambas e Marchas da Nova Geração (1966) e Paulinho Nogueira, Violão e Samba (1973). À bossa nova, os discos A Nova Bossa É Violão (1964), O Fino do Violão (1965) e Tom Jobim - Retrospectiva (1981). É um dos precursores da bossa nova e é evidente a influência que o gênero exerce sobre o compositor. Além dos encadeamentos harmônicos e da batida característica do violão, Nogueira começa a cantar influenciado por João Gilberto. Em 1970, mostra essa face no disco Paulinho Nogueira Canta Suas Composições, algumas de sucesso como Moça da Chuva, Menino Jogando Bola e Contracanto.
Suas composições e as recriações de outros compositores passam sempre pela leitura de quem tem interesse pela prática instrumental do violão solo. Sua prática violonística não se limita apenas às composições e se traduz também numa certa inquietação educacional. Nos anos 1960 passa a ministrar aulas de violão, formando uma série de jovens, entre os quais está Toquinho, com quem realiza parceria na canção Choro Chorado para Paulinho Nogueira (1975), com letra de Vinicius de Morais, em 1999, com o álbum Sempre Amigos: Toquinho e Paulinho Nogueira. A preocupação pedagógica se estende com a organização de um método próprio para violão, em 1964. Surgido da ansiedade em traduzir os diferentes encadeamentos harmônicos da bossa nova, ele introduz as cifras como forma de ensinamento, fato raro na época. Seu manual se torna referência, é amplamente utilizado e permanece em uso até hoje. Os projetos que desenvolve nas próximas duas décadas podem ser encarados também como desdobramentos pedagógicos. Nos anos 1980, grava Tons e Semitons, composto de dois LPs, com solos de violão acompanhados das respectivas partituras para exercício. Na década seguinte, elabora cinco vídeos para o projeto Violão em Harmonia, cujo objetivo é o ensino da prática violonística.
Como instrumentista, consegue o fato raro de lançar em média um disco por ano durante duas décadas subsequentes, somando quase três dezenas de discos, o último deles, Chico Buarque - Primeiras Composições, de 2002, é uma homenagem ao compositor Chico Buarque. Em 1969, Nogueira cria um instrumento, a craviola, que alcança reconhecimento internacional. A ela dedica uma canção Craviolíssima e o LP Moda de Craviola, de 1975.
Obras 2
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- CIRINO, Giovani, Narrativas musicais: performance e experiência na música popular instrumental brasileira, SP, Ed Annablume, 2009.
- DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Editora 34, 1999.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- TAUBKIN, Myriam (org.). Violões do Brasil. São Paulo: Senac, 2007.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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PAULINHO Nogueira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12931/paulinho-nogueira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7