Chiquinha Gonzaga

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga
Texto
Francisca Edwiges Neves Gonzaga (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1847 – idem, 1935). Compositora, pianista e regente. Primeira pianista de choro e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, o inovador trabalho de Chiquinha Gonzaga é marcado pela mediação entre a cultura popular e a erudita.
Sua mãe era filha de uma mulher negra escravizada e alforriada e seu pai um oficial do Exército brasileiro. Começa a compor aos 11 anos. A primeira fase da formação artística começa na infância, quando estuda piano com o maestro Elias Álvares Lobo (1834-1901). O momento é caracterizado pela rígida educação, pelo contato com a música erudita e pela submissão aos valores morais do Rio de Janeiro imperial, que destinam à mulher papéis atrelados ao casamento e à maternidade.
Em 1863, casa-se com um oficial da Marinha Mercante, de quem se separa seis anos depois, e é expulsa de casa pela família e proibida de levar consigo dois de seus três filhos. O fim do casamento representa o rompimento com a sociedade patriarcal e também é crucial para a configuração de uma nova fase de sua carreira, entre 1869 e 1880.
Chiquinha passa a lecionar piano, e se insere no efervescente cenário da música popular do Rio por intermédio do flautista Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), que a inclui em seu conjunto, Choro Carioca. Formado por flauta, cavaquinho e dois violões, o grupo inova ao contar com o piano de Chiquinha, que passa a ser reconhecida como “pianeira”. Nessa época, o choro ainda não representa um gênero musical, mas uma forma “chorosa” de interpretar obras europeias, como tangos, polcas e valsas.
Aos 30 anos, edita sua primeira música: a polca para piano "Atraente" (1877). Comercializada em edição de luxo, com retrato da artista na capa, a música lhe dá fama, para o desgosto da família, que considera humilhante ver o sobrenome vinculado à música de apelo popular. Responsável por impulsionar sua carreira, a composição tem 15 edições entre fevereiro e novembro do ano de lançamento. O êxito autoral segue com as polcas "Sultana" (1878) e "Camila" (1879).
Na década de 1880, Chiquinha usa dinheiro advindo da venda de composições para apoiar os movimentos abolicionista e republicano e a libertação de escravizados, como é o caso das partituras de "Caramuru" (1889), que rendem recursos para a compra da alforria do escravizado e músico Zé Flauta. A postura progressista interfere no trabalho da pianista: a opereta Viagem ao Parnaso (1883), libreto de Artur de Azevedo (1855-1908), por exemplo, não é encenada porque na época não se admite uma peça musicada por uma mulher.
Segundo a socióloga Edinha Diniz, a pianista é o elo entre a música europeia e a brasileira, pois, ao retrabalhar a rítmica, cria um gênero musical, abrasileirando a música tocada nos salões na segunda metade do século XIX e abrindo caminho para outros compositores. O êxito de suas composições lhe permite o ingresso no teatro musicado, espécie de ópera cômica ou opereta, também conhecido como teatro de revista. Chiquinha estreia nesse gênero em 1885 com A Corte na Roça, texto de Palhares Ribeiro, no então Teatro Imperial.
Promove, em 1886, reuniões de violonistas em diversos bairros cariocas para valorizar o violão, instrumento considerado símbolo da malandragem pelas elites burguesas. Compõe o choro "Sabiá na Mata" para o concerto que organiza para 100 violões no Teatro São Pedro (atual João Caetano). Compõe "Gaúcho" (1887), tango lançado na peça Zizinha Maxixe, e que passa a ser conhecido como Corta-Jaca – referência à dança de mesmo nome, espécie de maxixe. Com A Filha do Guedes (1888), rege pela primeira vez uma orquestra, junto com a companhia portuguesa Souza Bastos.
Na época da Revolta da Armada, compõe a cançoneta "Aperte o Botão" (1893). Considerada ofensiva pelo governo do marechal Floriano Peixoto (1839-1895), rende-lhe ordem de prisão e apreensão das partituras. Ainda na mesma década, compõe o hino carnavalesco "Ó Abre-Alas" (1899), para embalar o desfile do cordão Rosa de Ouro. É a primeira composição criada para o Carnaval carioca, que define um novo estilo musical (a marcha-rancho) e se cristaliza como símbolo da festa.
Entre 1902 e 1909, viaja a Portugal, onde se apresenta e escreve peças. Na década de 1910, grava com seu grupo (violão, cavaquinho, piano e flauta) 44 obras, a maior parte de sua autoria, pelas gravadoras Columbia e Odeon. Apresenta Forrobodó (1912), opereta dos jornalistas Luís Peixoto e Carlos Bittencourt, que inova ao levar ao palco a gíria carioca do início do século XX.
O repertório de Chiquinha abrange mais de 77 peças de teatro e 2 mil músicas, e é interpretado por nomes importantes do cenário cultural, como o compositor Pixinguinha (1897-1973). A artista é retratada no teatro na peça Ó Abre-Alas, de Maria Adelaide Amaral, (1983); na televisão, na minissérie Chiquinha Gonzaga, de Jayme Monjardim, da TV Globo, (1999); e em sambas-enredos das escolas Mangueira e Imperatriz Leopoldinense.
Chiquinha Gonzaga tem um papel crucial na mediação cultural entre as ruas e as salas de concerto, com composições que partem da influência tradicional europeia para criarem algo novo e nacional. A trajetória corajosa da artista antecipa bandeiras feministas da segunda metade do século XX, nos âmbitos pessoal e profissional.
Obras 1
Espetáculos 2
Exposições 1
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24/2/2021 - 18/7/2021
Mídias (5)
Com a curadoria das equipes do Itaú Cultural e de Juçara Marçal, a Ocupação Chiquinha Gonzaga fica em cartaz na sede do instituto de 24 de fevereiro a 23 de maio de 2021, com entrada gratuita.
Confira o verbete sobre a instrumentista na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira: http://bit.ly/2N3lluV
Inscreva-se no nosso canal! http://bit.ly/Inscreva-seIC
ITAÚ CULTURAL
Presidente: Alfredo Setubal
Diretor: Eduardo Saron
Gerente do Núcleo de Comunicação e Relacionamento: Ana de Fátima Sousa
Coordenador do Núcleo de Comunicação e Relacionamento: Carlos Costa
Entrevistas: Amanda Rigamonti, Milena Buarque e William Nunes de Santana
Gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Claudiney Ferreira
Coordenadora do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Paula Bertola e Roberta Roque
Captação: Vocs (terceirizada)
Edição: Richner Allan
Interpretação em Libras: FFomin Acessibilidade e Libras (terceirizada)
Trilha sonora vinheta: Debora Gurgel (arranjo)
Produção musical: Emygdio Costa
Voz: Juçara Marçal
Percussão: Si.Sa Medeiros
Trombone: Helô Alvino
Trompete: Vanessa Larissa
Título: “Ó abre alas”
O Itaú Cultural (IC), em 2019, passou a integrar a Fundação Itaú para Educação e Cultura, com o objetivo de garantir ainda mais perenidade às suas ações e o seu legado no mundo da cultura, ampliando e fortalecendo o seu propósito de inspirar o poder criativo para a transformação das pessoas.
Com a curadoria das equipes do Itaú Cultural e de Juçara Marçal, a Ocupação Chiquinha Gonzaga fica em cartaz na sede do instituto de 24 de fevereiro a 23 de maio de 2021, com entrada gratuita.
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Produção musical: Emygdio Costa
Voz: Juçara Marçal
Percussão: Si.Sa Medeiros
Trombone: Helô Alvino
Trompete: Vanessa Larissa
Título: “Ó abre alas”
O Itaú Cultural (IC), em 2019, passou a integrar a Fundação Itaú para Educação e Cultura, com o objetivo de garantir ainda mais perenidade às suas ações e o seu legado no mundo da cultura, ampliando e fortalecendo o seu propósito de inspirar o poder criativo para a transformação das pessoas.
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 9
- CHIQUINHA Gonzaga e Ernesto Nazareth. Encarte do LP integrante da série História da Música Popular Brasileira. Vol. 40. 1a edição. São Paulo: Ed. Abril, 1970.
- CHIQUINHA Gonzaga. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002-2021. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/chiquinha-gonzagar. Acesso em: 08 jun. 2011.
- CHIQUINHA Gonzaga. Site Oficial da Artista. Disponível em: http://www.chiquinhagonzaga.com. Acesso em: 08 jun. 2011.
- DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga: uma história de vida. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Rosa dos Tempos, 1999.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- MEMÓRIA MUSICAL. Site do Instituto Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://www.memoriamusical.com.br. Acesso em: 08 jun. 2011.
- O CASAMENTO do Pequeno Burguês. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1972]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- O FEMININO de maestro. Revista E, São Paulo, n. 128, jan. 2008. Disponível em: https://portal.sescsp.org.br/online/artigo/4617_O+FEMININO+DE+MAESTRO. Acesso em: 03 mar. 2011.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CHIQUINHA Gonzaga.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa21786/chiquinha-gonzaga. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7