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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Joel do Nascimento

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.03.2024
1937 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Joel do Nascimento (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937). Bandolinista, arranjador, compositor. Recebe as primeiras influências do padrinho de sua mãe, que toca violão, e de seu tio-avô, mestre de banda em Recife. Aos 11 anos, interessa-se por música erudita. Ainda jovem, aprende a tocar cavaquinho de maneira autodidata. Antes dos 15 anos, estu...

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Joel do Nascimento (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1937). Bandolinista, arranjador, compositor. Recebe as primeiras influências do padrinho de sua mãe, que toca violão, e de seu tio-avô, mestre de banda em Recife. Aos 11 anos, interessa-se por música erudita. Ainda jovem, aprende a tocar cavaquinho de maneira autodidata. Antes dos 15 anos, estuda teoria e piano e tem aulas de acordeom na Academia Mário Mascarenhas. Aos 18 anos, entra para o Conservatório Brasileiro de Música e estuda piano clássico com o professor Max de Menezes Gil. Nos anos seguintes, tem aulas com o multi-instrumentista húngaro Ian Guest (1940), mas abandona os estudos em 1959, após perder a audição do ouvido direito em decorrência de uma doença hereditária. 

Uma década depois, ganha um bandolim e passa a tocar de forma amadora. Na virada dos anos 1960, frequenta as rodas de choro do Bar Sovaco de Cobra, fundado por seu irmão, o violonista Joyr Nascimento. O ano de 1974 marca o início de sua carreira profissional: é convidado a tocar bandolim nos discos A Música de Donga, álbum em homenagem ao compositor Donga (1890-1974), e E Lá Vou Eu, de João Nogueira (1941-2000). Em 1976, grava seu primeiro álbum, Chorando Pelos Dedos. Das doze faixas do disco produzido por João Nogueira, assina apenas uma composição, "Ecos". As demais canções são de outros autores, como "Wave", de Tom Jobim (1927-1994); "Apelo", de Vinícius de Moraes (1913-1980) e Baden Powell (1937-2000), "Carolina", de Chico Buarque (1944), "Tempo à Beça", de João Nogueira; "Valsa de Realejo", de Guinga (1950) e Paulo César Pinheiro (1949). No mesmo ano, toca bandolim no choro "Meu Caro Amigo", de Chico Buarque e Francis Hime (1939), do álbum Meus Caros Amigos, de Chico.

Em 1978, lança o disco O Pássaro, assinando quatro composições: "Não Sei Por quê", "O Pássaro", "Sorriso de Cristina" e "Somente Saudade". No mesmo ano, lança Meu Sonho, escrevendo apenas o tema que batiza o disco.  Ainda em 1978, a pedido de Radamés Gnattali (1906-1988), transcreve “Suíte Retratos”, de autoria do pianista, para um conjunto regional de choro (violões, cavaquinho, bandolim e ritmo). A partir dessa formação, cria a Camerata Carioca. Ao lado de Rafael Rabello (1962-1995) e Luciana Rabello, Maurício Carrilho (1957), Celsinho do Pandeiro (1957), João Pedro Borges e Radamés Gnattali, o grupo lança o disco Tributo a Jacob do Bandolim (1979).

Lança os álbuns Chorando de Verdade (1987), Joel Nascimento e Sexteto Brasileiro Ao Vivo nos EUA (1997), Joel Nascimento Relendo Jacob do Bandolim (1998), Joel Nascimento: Suas Composições Para Piano – Seu Bandolim (2001) e Valsas Brasileiras [com a pianista Fernanda Canaud (1962), em 2008]. Seu lançamento mais recente é De Bandolim a Bandolim (2009), em duo com o também bandolinista Hamilton de Holanda (1976).

 

Análise

Para críticos e especialistas, um dos pontos que diferenciam Joel Nascimento dos demais bandolinistas do país é a formação em música clássica. Grande parte dos instrumentistas de choro, gênero no qual Joel se destaca, desenvolveu-se de maneira autodidata, interpretando os temas de ouvido. Historicamente, muitos choros instrumentais não contam com arranjos escritos pelo fato de muitos chorões não saberem ler partituras. Joel é representante de outra escola. Desde jovem, seus estudos de piano clássico fornecem-lhe embasamento teórico para executar peças de repertório erudito, escrever arranjos mais elaborados e trabalhar sobre improvisos e solos criativos. Por causa disso, no fim da década de 1970, Radamés Gnattali  incumbe-o de transcrever a complexa “Suíte Retratos” – escrita para bandolim e orquestra – para uma formação de conjunto regional.

A formação teórica clássica de Joel também lhe dá ferramentas para criar a Camerata Carioca, batizada por Hermínio Bello de Carvalho (1935). No registro dos três discos com o grupo, é evidente a transformação que Joel imprime à maneira de tocar choro, mostrando ser possível criar arranjos camerísticos para o gênero, combinando a influência europeia da polca e das valsas com as derivações brasileiras do maxixe e do samba. As gravações com a Camerata representam um marco na história do choro, consideradas referências por bandolinistas mais jovens como Hamilton de Holanda e Danilo Brito.

A maneira de tocar do compositor e bandolinista Jacob do Bandolim (1918-1969) exerce grande influência na formação da linguagem de Joel como instrumentista. Aliado às características populares absorvidas da obra do bandolinista de Jacarepaguá, evidencia-se no estilo de Joel o lirismo das melodias, adquirido pelo interesse por compositores clássicos, como o franco-polonês Frédéric Chopin (1810-1849), o italiano Antonio Vivaldi (1678-1741), o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), os alemães Ludwig van Beethoven (1770-1827) e Johann Sebastian Bach (1685-1750) e o brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959).

Essas influências aparecem ao longo da carreira de Joel no estilo de tocar e na escolha do repertório de seus discos. Em seu trabalho mais recente, o álbum De Bandolim a Bandolim, ele grava com Hamilton de Holanda composições populares, como os choros "Tu Passaste Por este Jardim", de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946) e Alfredo Dutra (c.1860-c.1920), e "O Bom Filho à Casa Torna", de Bonfiglio de Oliveira (1891-1940), mas não deixa de fora peças clássicas, como um trecho do segundo movimento do Concerto Para Bandolim e Orquestra (Radamés Gnattali), o segundo movimento do Concerto Para Dois Bandolins em Sol (Vivaldi) e Sonatina em Dó Menor (Beethoven). Outra evidência do gosto de Joel em equilibrar temas eruditos com populares aparece no título do disco De Vivaldi a Pixinguinha, gravado com a Camerata Carioca.

Em relação ao estilo, a trajetória de Joel não sofre grandes alterações. Desde o início da carreira profissional até seus registros recentes, sua assinatura musical permanece a mesma, combinando o respeito à forma tradicional de interpretar – com uma técnica que faz todas as notas soarem com nitidez, sem efeitos – e a criação de melodias e fraseados modernos, que escapam de clichês e do lugar comum.

Os discos da carreira solo apresentam sua versatilidade como instrumentista ao interpretar não apenas choros, ma também sambas ("Apelo e Doralice"), bossas ("A Felicidade e Wave") e valsas ("Valsa de Realejo"). Sua técnica lhe permite tocar composições de andamento acelerado – não com o exagero de velocidade característica de outro célebre bandolinista, Luperce Miranda (1904-1977) –, mas a prioridade é revelar a beleza dos temas em interpretações carregadas de sentimento.

Como compositor, Joel não alcança tanta projeção em comparação com sua carreira de instrumentista. Desde que começa a escrever músicas, menos de trinta composições são de sua autoria, algumas delas ainda inéditas. A de maior sucesso é "Ecos", gravada no primeiro disco da carreira, Chorando Pelos Dedos (1976). Boa parte das músicas de Joel surge do bandolim, mas a maioria é composta no piano, instrumento bastante presente em sua formação musical. "Ecos" é regravada um ano depois, no álbum Choro na Praça. A composição aparece no mesmo patamar de temas-ícones do choro, como "Naquele Tempo", "Proezas de Solon" e "Acerta o Passo" [Pixinguinha (1897-1973) e Benedito Lacerda (1903-1958)], "Apanhei-te Cavaquinho" [Ernesto Nazareth (1863-1934)], "Vê se Gostas" [Waldir Azevedo (1923-1980)] e "Eu Quero É Sossego" [K-Ximbinho (1917-1980)].

Como instrumentista, Joel destaca-se em participações em discos antológicos, tocando ao lado de nomes como Dorival Caymmi (1914-2008) (Caymmi, 1985), Elizeth Cardoso (1920-1990), Radamés Gnattali e Camerata Carioca (Uma Rosa Para Pixinguinha – Ao Vivo, 1983), Maria Creuza (1944) (Poético – Tributo a Vinicius de Moraes, 1982), Ademilde Fonseca (1921-2012) (A Rainha Ademilde e Seus Chorões Maravilhosos, 1977), Chico Buarque (Meus Caros Amigos, 1976) e Clara Nunes (1943-1983) (Guerreira, 1978).

Joel também acompanha cantoras como Beth Carvalho (1946), Nara Leão (1942-1989) e Zezé Gonzaga (1926-2008). A partir de 1988, contribui para a disseminação do choro e da música brasileira no exterior com apresentações ao lado de seu grupo Sexteto Brasileiro. Aliada à contribuição em discos e shows, Joel também é convidado a ministrar cursos e workshops em universidades, escolas e festivais do Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília. 

Em 1992, é inaugurado o Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba, idealizado por Joel Nascimento e Roberto Gnattali (sobrinho de Radamés).

Obras 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • BARBOSA, Valdinha; DEVOS, Anne Marie. Radamés Gnattali: o eterno experimentador. Rio de Janeiro: Editora Funarte, 1984.
  • CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
  • MARQUES, Mario. Guinga: Os mais belos acordes do subúrbio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
  • PUGLIESI, Maria Vicencia; PRATA, Sergio. Tributo a Jacob do Bandolim: discografia completa. Rio de Janeiro: Cecac, 2002.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).

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