Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Banda Black Rio

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.11.2022
1976
Grupo musical formado no Rio de Janeiro, em 1976. Sob liderança, do saxofonista Oberdan Magalhães (1945-1984), a formação original traz também: Barrosinho (c.1940-2009) no trompete, Cristovão Bastos (1946) no piano, Jamil Joanes no baixo, Luiz Carlos dos Santos (1946-2007) na bateria e percussão, Lúcio Silva no trombone e Cláudio Stevenson (1955...

Texto

Abrir módulo

Grupo musical formado no Rio de Janeiro, em 1976. Sob liderança, do saxofonista Oberdan Magalhães (1945-1984), a formação original traz também: Barrosinho (c.1940-2009) no trompete, Cristovão Bastos (1946) no piano, Jamil Joanes no baixo, Luiz Carlos dos Santos (1946-2007) na bateria e percussão, Lúcio Silva no trombone e Cláudio Stevenson (1955-1987) na guitarra. A banda constrói uma trajetória de pioneirismo na fusão de ritmos brasileiros com influência do soul e do jazz estadunidense, com elaborados arranjos de sopros e uma sonoridade apoiada na maioria das vezes em temas instrumentais e dançantes.

A formação do conjunto é motivada pelo interesse da gravadora Warner Music em acompanhar um fenômeno dos subúrbios do Rio de Janeiro batizado como Movimento Black Rio: festas que reúnem milhares de jovens para dançar ao som de artistas estrangeiros, como os cantores estadunidenses James Brown (1933-2006), Isaac Hayes (1942-2008) e a banda Kool and Gang. Dom Filó (1949), líder da equipe de som Soul Grand Prix, e o executivo André Midani (1932-2019) convoca Oberdan Magalhães para essa missão. O músico já havia trabalhado em discos com linguagem semelhante alguns anos antes, como Hot International (lançado por Raulzinho e Impacto 8, em 1968) e Som, Sangue Raça (de Dom Salvador & Abolição, de 1971).

O saxofonista chama antigos parceiros das bandas Impacto 8 e Abolição para se juntar a ele. Depois de vinte dias de ensaios, a Banda Black Rio cria uma de suas músicas mais emblemáticas, “Maria Fumaça”, feita sob encomenda para o tema de abertura da novela Locomotivas (1977), da Rede Globo. Parceria entre Oberdan e Luiz Carlos, a música, toda instrumental, anima Midani a gravar um disco inteiro com a banda. Antes da estreia fonográfica, no entanto, a maioria dos músicos da banda participa da gravação do álbum Maravilhas contemporâneas, de Luiz Melodia (1951-2017). Ao mesmo tempo que essa parceria contribui para aproximar o trabalho do músico carioca (sobretudo nas faixas “Congênito” e “Questão de posse”) do soul, as gravações servem de laboratório de ensaio para o desenvolvimento da sonoridade que a banda apresenta no primeiro LP.

Maria Fumaça é lançado em 1977 e, além de temas originais, traz releituras para clássicos de diversos gêneros da música brasileira em arranjos que remetem ao funk estadunidense: “Casa forte”, de Edu Lobo (1943); “Baião”, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979); “Na baixa do sapateiro”, de Ary Barroso (1903-1964); e “Urubu Malandro”, de João de Barro (1907-2006). Os arranjos de sopros se destacam no trabalho, com uma linguagem que equilibra elementos das bandas de gafieira (que formaram os músicos da banda) com a pontuação típica de bandas de funk estadunidenses, como Kool and Gang, e a influência do jazz de artistas como John Coltrane (1926-1967), Miles Davis (1926-1991) e Freddie Hubbard (1938-2008).

Em 1978, a Banda Black Rio participa da turnê de lançamento do disco Bicho, de Caetano Veloso (1942). O compositor baiano grava o LP após viagem à Nigéria, e o trabalho reflete de alguma forma os efeitos da experiência. Músicas como “Odara”, “Gente” e a versão para “Olha o menino”, de Jorge Ben (1939), apresentam uma acentuação funk, sobretudo nas dinâmicas estabelecidas entre baixo e bateria, e se encaixam perfeitamente na linguagem da Banda Black Rio. Além das faixas do recém-lançado disco e sucessos da carreira de Caetano, o show tem um momento em que o cantor sai do palco e a banda toca alguns dos temas instrumentais de "Maria Fumaça".

Nos discos seguintes, o repertório deixa de ser totalmente instrumental. Em Gafieira Universal, o baixista Valdecir Nei e o tecladista Jorjão Barreto (1952) entram na banda no lugar dos integrantes originais. O segundo, ao lado do baterista Luiz Carlos, assume os vocais nas faixas cantadas: “Rio de Fevereiro”, “Vidigal” e “Chega mais”. As letras tratam do cotidiano nos subúrbios cariocas. Há ainda sete temas instrumentais, cinco autorais e duas versões para “Cravo e canela”, de Milton Nascimento (1942) e Ronaldo Bastos (1948), e “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu (1880-1935). A receita ainda é baseada na fusão do soul e funk estadunidenses com a tradição rítmica do Brasil.

A formação da banda muda novamente em Saci Pererê. Carlos Darcy assume o trombone, Paulinho é o baterista, Bebeto toca percussão e Décio é o novo baixista. Além disso, Gerson e Abóbora assumem os vocais. A faixa título, composição de Gilberto Gil (1942), traz o reggae para a fórmula da Banda Black Rio. O repertório combina, mais uma vez, temas instrumentais e cantados, composições autorais e versões, com destaque a releitura samba-funk para “Profissionalismo é isso aí”, de João Bosco (1946) e Aldir Blanc (1946-2020).

Oberdan Magalhães morre em 1984, em um acidente automobilístico, e a banda encerra as atividades. Filho do saxofonista, o tecladista William Magalhães (1965) remonta a Banda Black Rio em 1999, com nova formação e apenas o trombonista Lúcio Silva entre os integrantes originais. O som incorpora influências contemporâneas da música pop e lança os discos Movimento (2001), Super nova samba funk (2011) e O som das Américas (2019).

A Banda Black Rio faz história em sua curta trajetória entre os anos 1970 e 1980, ao sintetizar em uma obra autoral um movimento que agita os subúrbios cariocas no período. Sua fusão de ritmos brasileiros com elementos do soul, do funk e do jazz inspira artistas internacionais da cena de acid jazz dos anos 1990 (como as bandas britânicas Incognito e Jamiroquai) e a base de “Casa Forte” é citada pelo rapper estadunidense Mos Def (1973) na música “Casa Bey”. Os três discos lançados pela formação original da banda são clássicos do soul brasileiro.

Obras 1

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • BAHIANA, Ana Maria. Enlatando Black Rio. Jornal da Música, Rio de Janeiro, fev. 1977.
  • MIDANI, André. Música, ídolos e poder: do vinil ao download. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
  • PEIXOTO, Luiz Felipe de Lima; SEBADELHE, Zé Octávio. 1976 – Movimento Black Rio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 284 p.
  • THAYER, Allen. Black Rio: Brazilian Soul and DJ Culture’s Lost Chapter. Wax Poetics, Nova York, n. 16, p. 88-106, abr.-maio 2006.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: