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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Maria Fumaça

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.03.2024
1977
Maria Fumaça (WEA, 1977) é o primeiro disco da banda Black Rio e o marco fonográfico de um fenômeno comportamental, o Movimento Black Rio. O repertório mescla composições originais (“Maria Fumaça”, “Mr. Funky Samba”, “Caminho da Roça”, “Metalúrgica”, “Leblon Via Vaz Lôbo”, “Junia”) com versões para músicas de compositores brasileiros. Dentre ela...

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Maria Fumaça (WEA, 1977) é o primeiro disco da banda Black Rio e o marco fonográfico de um fenômeno comportamental, o Movimento Black Rio. O repertório mescla composições originais (“Maria Fumaça”, “Mr. Funky Samba”, “Caminho da Roça”, “Metalúrgica”, “Leblon Via Vaz Lôbo”, “Junia”) com versões para músicas de compositores brasileiros. Dentre elas, estão “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso (1903-1964); “Baião”, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979); “Casa Forte”, de Edu Lobo (1943); “Urubu Malandro”, de Lourival de Carvalho [Louro (1894-1956)] e João de Barro [Braguinha (1907-2006)]. O álbum, todo instrumental, é uma das obras que melhor representam a fusão da influência dos gêneros norte-americanos funk e soul com os ritmos brasileiros.

A banda é formada por: Oberdan Magalhães (1945) no sax soprano, sax alto e sax tenor; Lucio J. da Silva, no trombone; José Carlos Barroso (1940-2009), no trompete; Jamil Joanes, no baixo; Claudio Stevenson (1955-1987), na guitarra; Cristovão Bastos (1946), nos teclados e Luiz Carlos Santos (1946-2007), na bateria. Essa formação reúne os músicos de sopro da banda Abolição com os quatro integrantes do grupo Senzala. A gravação conta, ainda, com uma sessão rítmica formada por quatro músicos de percussão: Nenê, Geraldo Sabino, Wilson Canegal e Luna. A produção do disco é assinada por Marco Mazzola (1950) e a direção de estúdio por Liminha (1951). O líder é o saxofonista Oberdan, autor de três entre as seis composições originais: “Maria Fumaça” (com Luiz Carlos), “Caminho da Roça” (com Barroso) e “Leblon Via Vaz Lôbo”.

Os arranjos de sopros são um dos destaques do disco. Todas as melodias são apresentadas por meio dos metais – influência direta da música de artistas e bandas dos Estados Unidos, como James Brown (1933-2006) e Earth, Wind & Fire. A primeira faixa do disco, “Maria Fumaça” (tema de abertura da novela Locomotivas, da TV Globo), equilibra elementos das músicas brasileira e norte-americana de forma original. A bateria combina movimentos do funk com o ritmo do samba, e a conversa entre cuíca e guitarra na segunda parte é uma das marcas do trabalho. “Mr. Funky Samba”, composição do baixista Jamil Joanes, é outro exemplo de como a Black Rio combina os dois gêneros, funk e samba: o fraseado de metais e a linha de baixo evoluem numa estrutura típica do funk, mas a bateria e os breques que pontuam o arranjo sugerem uma dinâmica comum ao samba.

Musicalmente, o álbum Maria Fumaça dá um passo adiante em relação aos caminhos que artistas como Toni Tornado (1930), Gerson King Combo (1943) e Tim Maia (1942-1998) traçam desde o começo dos anos 1970. Os dois primeiros reproduzem o soul e funk norte-americanos sem grandes misturas com elementos da música brasileira (a não ser pelo fato de as letras serem cantadas em língua portuguesa). Já o último foca suas fusões com gêneros nordestinos como o baião em músicas como “Coroné Antônio Bento”, “Padre Cícero” (ambas de 1970), “Salve Nossa Senhora”, “Festa de Santo Reis” (ambas de 1971) e “Canário do Reino” (1972). A Banda Black Rio acrescenta referências do jazz nessa mistura e expande-a para outros ritmos brasileiros, como o samba e o choro (como na versão para “Urubu Malandro”).

Essa originalidade deve muito ao entrosamento desenvolvido ao longo dos anos. Há três trabalhos em que se pode detectar algum indício do som que a Banda Black Rio desenvolve com identidade própria, alguns anos depois, em Maria Fumaça. Em 1971, Oberdan, Barroso, Luiz Carlos e Lucio J. da Silva participam da gravação do disco Som, Sangue e Raça, lançado por Dom Salvador e o grupo Abolição. Em 1972, Oberdan, Barroso e Luiz Carlos tocam no terceiro disco de Tim Maia e, em 1976, o saxofonista e o baterista, assim como o baixista Jamil Joanes, gravam Maravilhas Contemporâneas, de Luiz Melodia.

A criação da Banda Black Rio é uma reação do mercado fonográfico brasileiro ao movimento de mesmo nome, que chama a atenção da imprensa especializada. Um artigo da jornalista Lena Frias (1944-2004) no Jornal do Brasil, em julho de 1976, destaca o fenômeno que arrasta milhares de jovens negros aos bailes de subúrbios cariocas para dançar ao som do soul e do funk norte-americanos. Equipes de som dessas festas são contratadas por gravadoras como Top Tape, CBS, Phonogram e Continental para organizar coletâneas com os sucessos das pistas de dança. Já a WEA, recém-inaugurada pelo experiente executivo André Midani (1932), investe na formação de uma banda para criar um som que atenda a esse público. Assim surge a Banda Black Rio, que ensaia durante quatro meses para criar o repertório de Maria Fumaça. Sua primeira apresentação acontece em janeiro de 1977, em um baile no Clube Olaria, reduto dos negros no subúrbio carioca.

Ainda em 1977, a banda participa da turnê de Caetano Veloso (1942), Bicho Baile Show, e toca sete faixas de Maria Fumaça. No mesmo ano, seus integrantes participam da gravação de Pra Que Vou Recordar, o disco de estreia de outra aposta da WEA no soul brasileiro, o cantor Carlos Dafé (1947), que toca teclado em alguns discos do Tim Maia. Após Maria Fumaça, a banda grava outros dois discos, ambos com a formação modificada e músicas cantadas: Gafieira Universal (1978) e Saci Pererê (1980). A Banda Black Rio encerra as atividades com a morte de Oberdan Magalhães, em um acidente de carro, em 1984. Em 2000, William Magalhães (filho de Oberdan) organiza uma nova formação da Banda Black Rio com um único integrante original (o trombonista Lúcio J. da Silva).

Com o surgimento do acid jazz (mistura jazz, soul e hip hop) nos anos 1990, bandas britânicas como Incognito e Brand New Heavies apontam Maria Fumaça como uma de suas principais referências.

Fontes de pesquisa 4

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  • BAHIANA, Ana Maria. Enlatando Black Rio. Jornal da Música. Fevereiro de 1977.
  • BAHIANA, Ana Maria. Um ano, um show. Depois, um circuito de subúrbio. O Globo, Rio de Janeiro, 10 mar. 1978.
  • HALLACK, Giovana. Senhores tempo bom. Revista Showbizz, out.1998.
  • MIGUEL, Antonio Carlos. Discoteca básica. Revista Showbizz, São Paulo, maio 1997.

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