Aldir Blanc
Texto
Aldir Blanc Mendes (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1946 – idem, 2020). Letrista, poeta e escritor. Com erudição e trânsito pela cultura popular, Aldir Blanc tem uma extensa obra que perpassa diversos ritmos e elabora temas como a crônica urbana, a crítica política e a experiência humana.
Vive a maior parte da infância no Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Mais tarde, reside em Vila Isabel e no Largo da Segunda-Feira e, finalmente, muda-se para o Bairro da Tijuca. O compositor atribui sua versatilidade em termos de ritmos e temas ao fato de ter frequentado terreiros de candomblé desde pequeno e aprendido a tocar bateria aos 18 anos. A prática no instrumento lhe rende bagagem rítmica e noções sobre gêneros e divisões de compassos.
Em 1966, ingressa na faculdade de medicina. Ainda universitário e ao lado de outros compositores, como Ivan Lins (1945) e Gonzaguinha (1945-1991), funda o Movimento Artístico Universitário (MAU). Especializa-se em psiquiatria, mas abandona a profissão médica em 1973.
Em 1968, inicia parceria com o cantor e compositor Sílvio da Silva Júnior (1947). Dois anos mais tarde, a primeira composição da dupla, “Amigo É pra Essas Coisas”, é gravada pelo conjunto MPB-4. Nessa canção, com 63 versos sem repetições, está presente uma característica de destaque do estilo de Blanc: o extenso vocabulário, que lhe dá subsídios para escrever sobre melodias longas, que muitas vezes podem chegar a 70 versos.
Blanc tem um longo percurso em parcerias com artistas de estilos diferentes e consegue trabalhar a métrica com perfeição e encaixar versos em melodias sinuosas e complexas. Letrista mais gravado pela cantora Elis Regina (1945-1982), a parceria começa em 1971 com o disco Ela, composto com César Costa Filho (1944). No ano seguinte, a cantora grava “Bala com Bala”, parceria de Blanc com João Bosco (1946), e a canção “Agnus Sei”, lançada no Disco de Bolso, compacto que acompanha o jornal O Pasquim. Em 1979, ainda com a dupla Blanc e Bosco, Elis grava “O Bêbado e a Equilibrista”, uma paródia com a estrutura de samba-enredo e com metáforas para falar do período de forte repressão da ditadura militar. A canção é adotada como o hino da anistia aos presos políticos.
Traço marcante do compositor é o tom jocoso e escrachado para descrever situações corriqueiras, com notória capacidade de criar letras imagéticas, descrevendo de forma cinematográfica cenas do cotidiano, das mais insólitas às mais banais. O estilo de cronista urbano pode ser notado em canções como “Incompatibilidade de Gênios” (1976) e “Kid Cavaquinho” (1977), parcerias com João Bosco. Ao longo da década de 1970, os dois têm algumas canções na trilha de abertura de novelas e séries, como “Doces Olheiras” (1975), da novela Gabriela, da TV Globo, dirigida por Gonzaga Blota (1928-2017) e Walter Avancini (1935-2001); e “Visconde de Sabugosa” (1977), para o seriado O Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Outro aspecto de sua obra é a pluralidade de recursos linguísticos. Desde jovem, tem o hábito de ler autores de diferentes estilos da literatura, entre clássicos, contemporâneos e até mesmo livros técnicos de medicina. O tratamento refinado e o conhecimento de um vocabulário vasto não são utilizados apenas nas letras das melodias. No decorrer de sua carreira, além de escrever para jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, Blanc publica livros em prosa e poesia, como a compilação de crônicas Rua dos Artistas e Arredores (1978) e Porta de Tinturaria (1981).
É um dos fundadores da Sociedade Musical Brasileira (Sombras) em 1980 – responsável pela arrecadação de direitos autorais –, da Sociedade de Artistas e Compositores Independentes (Saci) e da Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes (Amar). Outros destaques em termos musicais do letrista se dão ao lado dos compositores Maurício Tapajós (1942-1995), como em “Querelas do Brasil” (1978) e “Colcha de Retalhos” (1984); e Moacyr Luz (1958), em “Aquário” (1988) e “Anjo da Velha-Guarda” (1998).
Blanc tem facilidade de compor canções cuja melodia, harmonia e ritmo sugerem ideias, climas e atmosferas completamente diferentes entre si, bem como transita entre o rebuscamento e o coloquial. Nessa linha, um dos exemplos mais clássicos é “Catavento e Girassol” (1996), parceria com o compositor Guinga (1950), em que ele cita na mesma canção versos como “entre o escancaro e o contido / eu te pedi sustenido e você riu bemol” e “é fuck you, bate bronha / e ninguém mete o bedelho”. A temática sentimental é outra face conhecida de suas letras, destacando as canções “Neblinas e Flâmulas” (1996) e “Resposta ao Tempo” (1998). Grava em 1996 o disco Aldir Blanc – 50 Anos, com participação de Edu Lobo (1943), Nana Caymmi (1941), Danilo Caymmi (1948), Leila Pinheiro (1960) e Paulinho da Viola (1942).
Em 2006, adiciona novos textos ao livro Rua dos Artistas e Arredores e lança Rua dos Artistas e Transversais. Em 2010, é convidado pelo jornalista e escritor Ruy Castro (1948) para compor, ao lado de Carlos Lyra (1939), a trilha do musical Era no Tempo do Rei, com direção geral de João Fonseca (1964) e direção musical de Délia Fischer (1964).
Aldir Blanc é considerado um dos melhores letristas do Brasil. Com cerca de 500 temas compostos, seu legado passa por variados gêneros musicais e é marcado pela fusão da sofisticação com a irreverência para abordar tanto temas prosaicos do cotidiano quanto densos e políticos.
Obras 9
Espetáculos 1
Fontes de pesquisa 7
- ALDIR Blanc, compositor e escritor, morre no Rio; artista estava internado com Covid-19. G1, Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/04/aldir-blanc-compositor-e-escritor-morre-no-rio.ghtml. Acesso em: 04 maio 2020.
- ECHEVERRIA, Regina. Furacão Elis. Rio de Janeiro: Editora Nórdica. 1985.
- Entrevistas com Aldir Blanc, João Bosco e Guinga, para o Caderno2, do jornal O Estado de S. Paulo (Feitas por Lucas Nobile).
- MARQUES, Mario. Guinga - Os mais belos acordes do subúrbio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
- NESTROVSKI, Arthur (Org.). Música popular brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ALDIR Blanc.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa5973/aldir-blanc. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7