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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Theatro São Pedro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.10.2023
1968 Brasil / São Paulo / São Paulo
Numa parceria artística entre Maurício Segall e Beatriz Segall, ressurge o Theatro São Pedro, até 1968 uma casa de espetáculos, e, a partir de então, um centro de produções teatrais. Chama a atenção no início dos anos 1970, por ser um dos últimos grupos a surgir durante o período da ditadura militar.

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Numa parceria artística entre Maurício Segall e Beatriz Segall, ressurge o Theatro São Pedro, até 1968 uma casa de espetáculos, e, a partir de então, um centro de produções teatrais. Chama a atenção no início dos anos 1970, por ser um dos últimos grupos a surgir durante o período da ditadura militar.

De propriedade de um imigrante português, o Theatro São Pedro é inaugurado em 1917, construído no estilo neoclássico com leve inspiração art-nouveau. Caracteriza-se por uma programação eclética: espetáculos de variedades, operetas, dramas, comédias teatrais e concertos. Com a venda de ingressos das sessões de cinema, obtém recursos para financiar apresentações de companhias estrangeiras e mantém em cartaz peças de companhias nacionais encabeçadas por estrelas como Leopoldo Fróes, Dulcina de Moraes, Apolonia Pinto, Manuel Durões, Procópio Ferreira, Sadi Cabral, entre outros. Nos anos 1940 o teatro é desativado, passando a integrar exclusivamente o circuito comercial de cinemas Empresas Reunidas, Metro G.M. e Serrador e, na década de 1960, a platéia do teatro passa a servir de depósito de materiais e estacionamento.

Arrendado por Beatriz Segall e Maurício Segall, o Theatro São Pedro, em risco de demolição, sofre uma grande reforma em 1968, perdendo parte de suas linhas originais e iniciando uma programação voltada para música, que logo é substituída por teatro, abrindo a programação com a montagem de Os Fuzis da Sra. Carrar, de Bertolt Brecht, com direção de Flávio Império, pelo Teatro da Universidade de São Paulo - TUSP, em 1968. A partir de dezembro de 1968, passa a oferecer ao público espetáculos que buscam uma nova maneira de expressão teatral, frente ao ato institucional número 5, AI-5, que acirra a repressão e a censura no país. Seguem-se, então, Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo, dirigido por Fernando Torres; Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello, direção de Federico Pietrabruna, com Ziembinski no papel principal, e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, pela companhia de Paulo Autran, todos de 1969. Apesar de marcos significativos da cena teatral paulistana, trata-se de produções isoladas que alugam o teatro por temporada.

Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, com direção de Fernando Torres, em 1969, é a primeira produção da empresa São Pedro Produções Artísticas, liderada pelo casal Maurício e Beatriz Segall, em parceria com Fernando Torres. "A primeira resposta do São Pedro foi em setembro de 1969. Para os produtores, Ibsen era o tom mais apropriado para o Brasil pós-AI-5. A questão ética colocada em Um Inimigo do Povo, de um homem que não abandona as suas convicções mesmo quando todas as situações se voltam contra ele, era uma profissão de fé que a companhia estava disposta a carregar consigo".1

Antes da constituição da empresa de Maurício e Beatriz Segall, outros grupos estáveis, como o Teatro de Arena e o Teatro Oficina, enfrentam numerosos problemas com a polícia e a censura. Trata-se do anúncio da derrocada premente dos grupos que atuam como Teatro de Resistência ao regime militar. Neste sentido, o São Pedro Produções Artísticas nasce anacronicamente, num momento em que as companhias fixas estão prestes a desaparecer.

Uma segunda reforma ocorre em 1970, e o teatro ganha novas instalações e, além da sala já existente com platéia de 700 lugares, surge o Studio São Pedro, uma sala menor para apresentações, construída a partir do foyer e do terceiro balcão do teatro, com disponibilidade para 200 pessoas. Todas as peças da nova sala serão realizações da São Pedro Produções Artísticas. A inauguração dá-se com A Longa Noite de Cristal, direção de Celso Nunes e cenários de Tulio Costa. A realidade televisiva, que passa a dominar o Brasil no "milagre econômico", é o tema tratado na peça, e Oduvaldo Vianna Filho ganha com ela o Prêmio Molière de melhor autor. Ainda em 1970, sobe à cena, com tradução de Carlos Queiroz Telles e Tereza Linhares, outra direção de Celso Nunes, O Interrogatório, de Peter Weiss, que baseado nas atas do julgamento de Nuremberg, propicia uma conexão com a realidade dos violentos porões do regime militar, arrebatando oito prêmios importantes desta temporada.

Em 1971 é a vez de Cândido ou o Otimismo, de Voltaire, direção de Sylvio Zilber; e Assunta do 21, de Nery Gomide, encenação de Iacov Hillel. Nessa temporada, Fernando Torres desfaz a parceria com o casal Segall e segue para o Rio de Janeiro com Fernanda Montenegro.

1972 é um ano de muitas temporadas para o conjunto. Na sala grande, sucedem-se Fígaro, de Beaumarchais, com direção de Gianni Ratto, e Frei Caneca, de Carlos Queiroz Telles, dirigido por Fernando Peixoto. Na sala menor, Tambores na Noite, de Bertolt Brecht, em co-produção do São Pedro com o Teatro Núcleo que, remanescente do Núcleo 2 do Teatro de Arena, com o fechamento do teatro em 1971, passa a residir e colaborar com o São Pedro.

Maurício Segall pede a Carlos Queiroz Telles uma obra em homenagem ao Cinqüentenário da Semana de Arte Moderna. Dessa encomenda, resulta A Semana - Estes Intrépidos Rapazes e Sua Maravilhosa Semana de Arte Moderna, que é dirigida novamente por Fernando Peixoto, com cenários de Hélio Eichbauer e músicas de Chico Buarque e Toquinho, em co-produção com o Núcleo Independente, o espetáculo se torna o evento teatral oficial das comemorações em torno da Semana de 1922, pelo Conselho Estadual de Cultura. Ainda em 1972, o grupo tem fôlego para mais uma produção, A Grande Imprecação Diante dos Muros da Cidade, de Tankred Dorst, encenação de Gianni Ratto.

Em 1973, já com problemas financeiros, ainda conseguem encenar, na sala grande, Frank V, de Friedrich Dürrenmatt. Mesmo elogiada pela crítica, a temporada não é satisfatória em termos de público, e a grande sala é sublocada à Secretaria de Estado da Cultura como sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. É importante frisar que, além das produções da casa, o Theatro São Pedro recebe outras montagens em seu amplo palco, como o espetáculo underground Rito do Amor Selvagem, de José Agripino de Paula, uma produção do grupo Sonda, e Hair, de James Rado e Jerome Ragni, direção de Ademar Guerra, ambas em 1970.

No Studio São Pedro, os sócios persistem e continuam produzindo, alternando com locações para grupos ou produções avulsas. Ainda em 1973 realizam A Queda da Bastilha???, autoria coletiva, em parceria com Celso Frateschi e Denise Del Vecchio, casal à frente do Teatro Núcleo, montagem que insere o São Pedro como no contexto do Teatro de Grupo, tendência que vem substituir os grupos ideológicos. E, no mesmo ano, montam O Prodígio do Mundo Ocidental, de John Synge, com direção de José Antonio de Souza.

Em 1974, sobe à cena Os Pintores de Cano, de Heinrich Henkel, direção coletiva com coordenação de Beatriz Segall. O Teatro Núcleo sofre a ação da censura, sendo proibido de levar à cena Dois Homens na Mina, e deixa o São Pedro para dedicar-se exclusivamente à itinerância pela periferia, agora sob o nome de Núcleo Independente. E, em 1975, sobe ao palco do Studio São Pedro Os Executivos, de Mauro Chaves, direção de Silnei Siqueira, produção que encerra as atividades do São Pedro Produções Artísticas.

Ao analisar as primeiras temporadas da década de 1970, o crítico Sábato Magaldi assinala a representatividade do São Pedro: "Foi (...) um grande espetáculo Frank V, de Durrenmatt, na realização do grupo do Theatro São Pedro, dirigido por Fernando Peixoto. Com as montagens de A Semana, A Grande Imprecação Diante dos Muros da Cidade, de Tankred Dorst, Frei Caneca e depois Frank V, entre outros, a empresa de Mauricio Segall parecia assumir a liderança perdida pelo Arena e pelo Oficina. Mas os prejuízos financeiros e problemas internos do grupo levaram Maurício Segall a alugar a grande sala ao governo do Estado e a desistir, durante algum tempo, de fazer produções próprias no Studio São Pedro".2

Maurício Segall permanece na direção do teatro até 1981. A partir dessa data, o teatro é sublocado e ainda recebe algumas produções com Beatriz Segall encabeçando o elenco, como é o caso de À Margem da Vida, de Tennessee Williams; À Flor da Pele, de Consuelo de Castro, ambas de 1976; Maflor, texto e direção de Sérgio Viotti, 1977. Ou ainda espetáculos marcantes como Macunaíma, adaptação da obra de Mário de Andrade, direção de Antunes Filho, 1978; Ópera do Malandro, de Chico Buarque, direção de Luis Antônio Martinez Corrêa, 1979; e Calabar, novamente de Chico, agora em parceria com Ruy Guerra, 1980.

O teatro é tombado em 1984, embora a arquitetura original do prédio já tivesse sido alterada. A obra de restauro dá-se em 1997 e, no ano seguinte, é reinaugurado, agora sob os auspícios da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, com uma programação dedicada à música erudita.

Notas

1. GUERRA, Marco Antônio. Trecho da Tese de Doutoramento Teatro São Pedro SP na ECA/USP. In: SEGALL, Maurício. Seminário de Preservação da Memória do Teatro Brasileiro no Século XX (organização SATED). São Paulo, Instituto Itaú, 27/03/1993.

2. MAGALDI, Sábato; VARGAS, Maria Thereza. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo: SENAC, 2000, p. 397.

Espetáculos 20

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Fontes de pesquisa 5

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  • ANUÁRIO de Artes Cênicas. São Paulo, Centro Cultural São Paulo, CCSP, Divisão de Pesquisas, 1977.
  • GUERRA, Marco Antônio. Trecho da Tese de Doutoramento Teatro São Pedro SP na ECA/USP. In: SEGALL, Maurício. Seminário de Preservação da memória do teatro brasileiro no século XX (organização SATED). São Paulo, Instituto Itaú, 27/03/1993.
  • MAGALDI, Sábato; VARGAS, Maria Thereza. Cem anos de teatro em São Paulo (1875-1974). São Paulo: Senac, 2000.
  • MEDEIROS, Jotabê. São Pedro volta aos domínios de São Paulo. São Paulo, O Estado de São Paulo, 24 de março de 1998.
  • WALKER, José Roberto (coord.). Theatro São Pedro; Resistência e Preservação. São Paulo, Arquivo do Estado, Secretaria do estado da Cultura, 2000.

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