1º Salão Arte Pará
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Arte Pará é um salão de arte contemporânea que ocorre anualmente na cidade de Belém, desde 1982. Dentre seus objetivos estão a reunião de artistas paraenses e o estabelecimento de relações entre a cena artística da região Norte e outras localidades do Brasil. É um importante encontro para difusão nacional de temas relativos às artes visuais, à educação e às questões interculturais, bem como para projeção de artistas emergentes.
A mostra inicia com a estrutura dos salões convencionais, contando com júri de seleção de obras, premiações e publicações de catálogos. Porém, ao longo de suas várias edições ininterruptas, torna-se a principal exposição competitiva do estado e apresenta novas ações para congregar artistas, curadores, críticos e outros públicos de diversas partes do país.
Seu surgimento na década de 1980 coincide com um contexto de iniciativas para inserção da região Norte nos circuitos artístico-culturais do país, especialmente no eixo Rio-São Paulo. Dentre essas iniciativas está o mapeamento da visualidade amazônica, pertencente ao projeto Visualidades Brasileiras, elaborado pelo Instituto Nacional de Artes Plásticas/Fundação Nacional de Artes (Inap/Funarte). Naquele momento, a cena artística local fervilha com a criação de grupos de artistas como Fotopará, Grupo Agir e Associação FotoAtiva.
O autor do projeto Arte Pará é o jornalista Romulo Maiorana (1922-1986), presidente do Grupo Liberal, conglomerado de empresas no ramo da comunicação atuante no Pará e proprietário, por exemplo, do jornal O Liberal, importante divulgador da mostra. A iniciativa da exposição se concretiza por meio da Fundação Romulo Maiorana, estruturada no início da década de 1980.
A mostra se apresenta inicialmente nas galerias do edifício de O Liberal e na residência de Romulo Maiorana. Posteriormente, ela se estabelece também no Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP). E, a partir dos anos 2000, expande-se para outros locais, dentro e fora da cidade de Belém, ocupando a cada ano um conjunto diferente de instituições, o que evidencia o caráter descentralizado do evento. Assim, a mostra tem passagem por diferentes instituições tais como o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, o Museu da Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Museu Paraense Emílio Goeldi.
Para participar da mostra, artistas se inscrevem na convocatória e são selecionados pelo júri, que se modifica a cada ano e é composto por artistas, curadores, críticos, entre outros especialistas. Artistas convidados também fazem parte da exposição. As duas primeiras edições do evento contam exclusivamente com a presença de artistas paraenses. Nas edições subsequentes, observa-se a participação de artistas de diferentes estados do Brasil e também de outros países, mas os paraenses ainda são maioria. Dentre alguns que passam por edições da mostra estão: Oswaldo Goeldi (1895-1961), com gravuras; Claudia Andujar (1931), Luiz Braga (1956) e Walda Marques (1962), com fotografias; Emmanuel Nassar (1949) e Alice Vinagre (1950), com pinturas; Berna Reale (1965) e Lúcia Gomes (1966), com intervenções e performances; e Yuri Firmeza (1982) e Keila Sankofa (1985), com produções multimídias. Ainda, participam grupos de artistas como o Corpos Informáticos, do Distrito Federal, que pesquisa relações entre arte e tecnologia, e o Coletivo Coletores, com produção em videoarte.
Quanto às linguagens artísticas, inicialmente, o salão apresenta maior recorrência de obras em suportes tradicionais, como pintura e desenho. Nos anos 2000, passa a expor outras linguagens, como performances, instalações, intervenções urbanas, videoarte. A fotografia integra a mostra desde a sua primeira edição. O curador Paulo Herkenhoff (1949) assume o cargo de diretor de artes plásticas da Fundação Romulo Maiorana no final da década de 1980 e, posteriormente, é nomeado curador geral do salão. A partir da década seguinte, observa-se a organização de um eixo curatorial na mostra, que passa a apresentar um recorte conceitual específico a cada nova edição. Claudio de La Rocque Leal (1956-2006) é assistente e curador da sala de fotografias da mostra no início da década de 1990 e assume a curadoria geral, entre 1998 e 1999, dando continuidade à estruturação curatorial do formato de salão competitivo, com abrangência nacional, iniciada com Herkenhoff. As edições da década de 2000 contam com a presença de curadores advindos de diferentes regiões do país. Entre eles estão o pernambucano Marcus de Lontra Costa (1954), o paraense Orlando Maneschy (1968), o mineiro Ricardo Resende (1962) e a carioca Marisa Mokarzel (1949).
Também nesse período, o modelo tradicional do salão é revisto e o evento assume o formato de festival de artes. Sua programação é ampliada com palestras, workshops, rodas de conversas com artistas, ações educativas junto a diversas instituições, entre outras atividades que propiciam maior contato entre os artistas, os críticos de arte e demais públicos visitantes. A educação é outro eixo importante do Arte Pará que, desde 2007, possui uma curadoria específica sob responsabilidade da professora Vânia Leal Machado (1962). O projeto educativo do salão é interdisciplinar e atua junto a parceiros em escolas e universidades, inclusive fora da cidade de Belém.
Arte Pará consolida a região Norte na cena artística nacional, promovendo trocas entre as várias localidades do país. Atualmente, seu site funciona também como plataforma de mapeamento de artistas e coletivos sem galeria, o que vai ao encontro do perfil da mostra de fomentar artistas a partir daquela região.
Ficha Técnica
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 14
- ARTE PARÁ, 1., 1982, Belém. 1º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Romulo Maiorana, 1982. 17 p. Catálogo de exposição.
- ARTE PARÁ, 10., 1991, Belém. 10º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Romulo Maiorana, 1991. 94 p. Catálogo de exposição.
- ARTE PARÁ, 21., 2002, Belém. 21º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Romulo Maiorana, 2002. 92 p. Catálogo de exposição.
- ARTE PARÁ, 28., 2009, Belém. 28º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Rômulo Maiorana, 2010. 140 p. Catálogo de exposição.
- ARTE PARÁ, 29., 2010, Belém. 29º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Romulo Maiorana, 2011. 69 p. Catálogo de Exposição.
- ARTE PARÁ, 8., 1989, Belém. 8º Salão Arte Pará. Belém: Fundação Rômulo Maiorana, 1989. 33 p. Catálogo de exposição.
- COELHO, Toky Popytek. O Salão Arte Pará: processos de construção e legitimação de uma agenda cultural. 2016. 166 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
- COSTA, Gil Vieira. Arte em Belém, do abstracionismo à visualidade amazônica (1957-1985): transições movediças e tensões globais. 2019. 631 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2019.
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- FLETCHER, John. Arte Pará: etnografia e interpretação em um salão de artes visuais na Amazônia. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 25, n. 53, p. 133-167, jan./abr. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/hLH5sxsBkhMp7dDXypwRHKx/?format=pdf&lang=pt.
- HERKENHOFF, P. (org.). As artes visuais na Amazônia: reflexões sobre uma visualidade regional. Belém: Funarte/Semec, 1985.
- LIMA, Bruna. Fundação Romulo Maiorana no incentivo de cultura e arte na Amazônia. O Liberal, Belém, 15 nov. 2022. Disponível em: https://www.oliberal.com/aniversario/fundacao-romulo-maiorana-no-incentivo-de-cultura-e-arte-na-amazonia-1.609983. Acesso em: 8 set. 2023.
- LIMA, Bruna. Volta da comissão julgadora do Arte Pará 2022. O Liberal, Belém, 14 jul. 2022. Disponível em: https://www.oliberal.com/cultura/a-volta-da-comissao-julgadora-do-arte-para-2022-1.561366. Acesso em: 8 set. 2023.
- MANESCHY, Orlando. Sequestros: imagem na arte contemporânea paraense. Belém: EDUFPA, 2007.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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1º Salão Arte Pará.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento83280/1-salao-arte-para. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7