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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Luiz Braga

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.05.2024
11.11.1956 Brasil / Pará / Belém
Reprodução fotográfica arquivo do artista

Menino e Rodinha, 1990
Luiz Braga
Pigmento impresso em papel fotográfico de algodão
70,00 cm x 105,00 cm

Luiz Otávio Salameh Braga (Belém, Pará, 1956). Fotógrafo. Conhecido como “fotógrafo amazônico” por sua vasta obra retratando cores, pessoas e paisagens da região, especialmente de sua cidade natal, destaca-se pela particularidade de sua obra e por sua inventividade na exploração dos diversos elementos que compõem a arte de fotografar: luz, câmer...

Texto

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Luiz Otávio Salameh Braga (Belém, Pará, 1956). Fotógrafo. Conhecido como “fotógrafo amazônico” por sua vasta obra retratando cores, pessoas e paisagens da região, especialmente de sua cidade natal, destaca-se pela particularidade de sua obra e por sua inventividade na exploração dos diversos elementos que compõem a arte de fotografar: luz, câmera e revelação. 

Autodidata, começa a fotografar aos 11 anos. Em 1975 inicia a trajetória profissional nas áreas de retrato, publicidade e arquitetura e ingressa na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde se forma em 1983. Colabora com o jornal O Estado do Pará, em 1978, e cria o tabloide Zeppelin, no qual exerce as funções de editor e fotógrafo até 1980. Em 1979 realiza sua primeira mostra individual, I Portifólio, com imagens em preto e branco de caráter documental, buscando, sobretudo, captar flagrantes do cotidiano: são retratos de cenas de rua e de trabalhadores ribeirinhos. Suas principais referências são nomes históricos ligados ao fotojornalismo nacional e internacional, como Henry Cartier-Bresson (1908-2004), Jean Manzon (1915-1990) e José Medeiros (1921-1990), além de profissionais que atuam na revista Realidade como Maureen Bisilliat (1931) e Walter Firmo (1937).

Mesmo enfatizando alguns aspectos formais, Braga continua interessado em produzir imagens com base na realidade que circunda a cidade de Belém, onde vive, a estética presente na cultura material, a paisagem e a população da Amazônia. Enfocando espaços urbanos e não a floresta, os resultados se afastam de estereótipos e revelam um olhar formado não apenas no fotojornalismo, mas também na história da arte (incluindo a história da fotografia) e na cultura visual popular amazônica.

Em 1982, integra o projeto Visualidade Popular na Amazônia, promovido pela Fundação Nacional de Arte (Funarte). Com base nessa experiência, a cor passa a ser o principal elemento constitutivo de sua poética. As primeiras experiências nesse sentido são composições geométricas feitas com base em detalhes de artefatos e objetos industriais: barco, carro, banco, cortina e suvenir, oferecidos nas feiras. Essas imagens são banhadas por uma luz chapada que ressalta a planaridade do suporte e evidencia a cor como uma qualidade dos materiais registrados. Como ressalta o crítico Tadeu Chiarelli (1956), essas fotografias que parecem abstrações, nas quais é possível adivinhar o referente, remetem a trabalhos de fotógrafos modernos ligados ao conceito de straight photography, como Paul Strand (1890-1976); reportam à tradição construtiva presente na arte brasileira a partir dos anos 1950 e às pinturas do artista paraense Emmanuel Nassar (1949), realizadas nos anos 19801.

Nessa época, Braga registra também a população ribeirinha ambientada em casas, bares, barcos e espaços públicos. E raramente mostra cenas de ação, ao contrário, a atitude das pessoas é de contemplação e espera, ou de serenidade ao saber que estão sendo observadas. As obras Carregador de Carne, Menino Papagaio e Tajás, todas de 1988, são exemplos desses retratos, carregados de cor e do olhar daquele que posa para a fotografia. Em Tajás, a presença das cores é mais marcante: a casa amarela contrasta com suas janelas azuis e a folhagem verde em frente a ela. Em preto e branco ou em cores, os retratos são feitos com o consentimento dos modelos e denotam a ideia de cumplicidade. Talvez por isso representem um tempo calmo e silencioso.

No fim da década de 1980, Braga começa a trabalhar misturando luzes naturais e artificiais. Quase sempre fotografando no horário do lusco-fusco e utilizando um tipo de filme apropriado para a luz do dia, as imagens ganham uma cor saturada e não naturalista. Apesar de partir da paisagem urbana e humana da Amazônia, nesses trabalhos não é o referente que chama a atenção, tampouco a cor pertence a eles. Por vezes, o interesse de Braga está voltado para a própria luz colorida, que por incidir sobre objetos, ambientes e pessoas acaba, como se fosse por contingência, revelando-os. Mesmo aludindo a cenas oníricas, essas fotos atualizam a ideia comum à tradição modernista de que a fotografia deve se tornar arte por seus próprios meios e materiais. Os enquadramentos lembram também o cinema. No entanto, o registro borrado de pessoas caminhando ou de galhos balançando ao vento dá às coisas uma consistência fantasmagórica que, assim como as tonalidades densas, potencializa a ambiguidade entre realidade e ficção que pode habitar o signo fotográfico. É o que se observa em Porto Pureza (1988). 

Em 1988, recebe o Prêmio Marc Ferrez, do Instituto Nacional de Fotografia da Funarte, com a série A Margem do Olhar, e, em 1991, o Leopold Godowsky Color Photography Award — Prêmio Fotografia Colorida Leopold Godowsky, da Universidade de Boston, Estados Unidos.

Nos anos 2000, com a popularização das câmeras fotográficas digitais, Luiz Braga passa a explorá-las. Utilizando recursos próprios da câmera digital, como o night shot,articulando ou não a exposição à luz natural ao mesmo tempo, o fotógrafo capta imagens noturnas, que compõem a série Nithgvisions (2006). O recurso, aliado à impressão em papel de algodão, traz uma nova materialidade ao trabalho de Braga e aprofunda o caráter onírico que algumas de suas obras anteriores já apresentavam. Fé em Deus (2006) e Caraparú (2010) representam esse momento. 

Com suas fotografias, Luiz Braga revela ao Brasil uma parte que o próprio país desconhece ou se esquece. Em constante exploração de suas ferramentas, subverte cores, luzes e materiais. Por tudo isso, é um nome importante para a fotografia brasileira.   

Nota

1. CHIARELLI, Tadeu. Luiz Braga e a fotografia opaca. In: BRAGA, Luiz. Retratos amazônicos. São Paulo: MAM, 2005.

Obras 21

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Banhista

Câmera hasselblad, objetiva 150mm
Reprodução fotográfica arquivo do artista

Barco em Santarém

Pigmento impresso em papel fotográfico de algodão

Exposições 175

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Mídias (1)

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Luiz Braga - Enciclopédia Itaú Cultural
Luiz Braga começa a fazer fotos aos 11 anos, quando ganha sua primeira câmera. O principal objeto de seu trabalho é a cidade onde nasceu, Belém, e o vizinho estado do Amazonas. “Na época, não existia essa febre de ecologia com relação à Amazônia e eu intuí que a região era riquíssima, não só do ponto de vista de minerais ou de extração de madeira, mas por seu caráter cultural”, explica o artista. Num primeiro momento, Braga se empenha em registrar a fauna, a flora, os índios, mas logo encontra seu caminho, que é a escolha da cor e o envolvimento com a geografia interior. Suas fotografias são esquematizadas como um desenho, graças à influência da inacabada faculdade de arquitetura e ao interesse pela arte. “Digo que pinto com a luz”, define. “Meu diálogo é muito mais intenso e forte com a pintura do que com a fotografia.”

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 14

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  • BRAGA, Luiz. Anos - luz: fotografias. São Paulo: Masp, 1992.
  • BRAGA, Luiz. Brinquedos de Miriti. São Paulo: São Paulo ImagemData, 1998. (Brasil das artes).
  • BRAGA, Luiz. Cerâmica de Apiaí. São Paulo: São Paulo ImagemData, 1998. (Brasil das artes).
  • BRAGA, Luiz. Retratos amazônicos. Curadoria Tadeu Chiarelli; versão em inglês Graham Howells, Izabel Murat Burbridge. São Paulo: MAM, 2005.
  • BRAGA, Luiz. À margem do olhar: fotografias de Luiz Braga. São Paulo: Galeria Fotóptica, 1987.
  • BRIL, Stefania. O mundo colorido, real e misterioso de Luiz Braga. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 set. 1984. p. 19.
  • CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 12. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 2003.
  • FERNANDES JUNIOR, Rubens. Luiz Braga. IrisFoto, São Paulo, n. 453, p. 34-39, abr. /maio 1992.
  • FERNANDES JÚNIOR, Rubens. Labirinto e identidades: panorama da fotografia no Brasil [1946-1998]. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
  • FOTO-GRAFISMO. Rio de Janeiro: Funarte: Instituto Nacional de Fotografia, 1985.
  • I Fotonorte. Rio de Janeiro: Funarte, 1987.
  • LOBACHEFF, Georgia e BOFFA, Marcelo (Coord.). Fotógrafos e fotoartistas na Coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo: fotografia contemporânea brasileira. Curadoria Georgia Lobacheff. São Paulo: Espaço Porto Seguro de Fotografia, 1999.
  • LUIZ BRAGA. Site do Artista. Belém, 2006. Disponível em: [http://www.luizbraga.fot.br]. Acesso em: jul. 2006.
  • PERSICHETTI, Simonetta. Imagens da fotografia brasileira 2. São Paulo: Estação Liberdade: Senac, 2000.

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