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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

José Medeiros

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.12.2022
1921 Brasil / Piauí / Teresina
1990 Itália / Abruzzo / L´Aquila

Primeiro Encontro Pacífico com a Tribo Kubenkrankein, 1957
José Medeiros
Matriz-negativo
Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Doação do autor

José Araújo de Medeiros (Teresina, Piauí, 1921 - L'Aquila, Itália, 1990). Fotógrafo. Começa a fotografar por volta de 1937 como amador, em sua cidade natal. Em 1939, transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde trabalha como funcionário público na Companhia de Correios e Telégrafos e no Departamento Nacional do Café. Paralelamente, ret...

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José Araújo de Medeiros (Teresina, Piauí, 1921 - L'Aquila, Itália, 1990). Fotógrafo. Começa a fotografar por volta de 1937 como amador, em sua cidade natal. Em 1939, transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, onde trabalha como funcionário público na Companhia de Correios e Telégrafos e no Departamento Nacional do Café. Paralelamente, retrata artistas em um estúdio montado em casa e atua como freelancer para as revistas Tabu e Rio. Em 1946, o fotógrafo francês Jean Manzon (1915-1990) o convida para integrar a equipe da revista O Cruzeiro, onde permanece até 1962. Publica, em 1957, o livro Candomblé, o primeiro a documentar a religião afro-brasileira. Com Flávio Damm (1928) mantém a agência fotográfica Imagem, de 1962 a 1965. Depois, passa a trabalhar como diretor de fotografia de cinema, além de dirigir curtas-metragens e o longa Parceiros da Aventura, 1979. Assina a direção de fotografia de obras clássicas do cinema nacional como A Falecida, 1965, de Leon Hirszman (1937-1987); Xica da Silva, 1976, de Carlos Diegues (1940); e Memórias do Cárcere, 1983, de Nelson Pereira dos Santos (1928). No fim da década de 1980, leciona fotografia na Escola Internacional de Cinema de San Antonio de Los Baños, em Havana, Cuba. Em 1986, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) realiza a mostra retrospectiva José Medeiros, 50 Anos de Fotografia, no Rio de Janeiro, e publica um livro homônimo.

Análise

José Medeiros integra a equipe de fotógrafos que, a partir de 1943, com orientação de Jean Manzon, promove a reforma editorial da revista O Cruzeiro. Tendo como parâmetro revistas internacionais como a norte-americana Life e a francesa Paris Match, o projeto introduz a fotorreportagem na imprensa brasileira. A renovação dá amplo destaque às imagens e promove a divulgação da estética da fotografia moderna no Brasil: closes, ângulos de visão então inusitados, sequências fotográficas, enquadramentos geometrizados etc.

O Cruzeiro privilegia temas de ideologia nacionalista que promovem a imagem do Brasil como um país que caminha no sentido da modernidade e do desenvolvimento. Segundo a pesquisadora Helouise Costa, as pautas mais recorrentes são: o perfil de personalidades políticas e artísticas, cenas de esporte e lazer (praia, futebol e carnaval), arte, ciência, natureza, aventuras, a cidade como emblema do progresso, o "grotesco" (deformações físicas e crimes espetaculares), o "exótico" (indígenas, religiões não católicas e festas populares) e a diversidade cultural do próprio país.1

Produzido nesse ambiente, o trabalho de Medeiros é diversificado e segue, em parte, a linha editorial da revista. Ele fotografa artistas e personalidades políticas da época, a praia e o carnaval do Rio de Janeiro, e fica conhecido principalmente pelos registros de indivíduos, comunidades e manifestações culturais marginalizadas, tais como a população negra, o candomblé, pacientes psiquiátricos, prostitutas e tribos indígenas. Visto fora do tratamento editorial recebido pela revista, seu enfoque confere dignidade aos excluídos.

Os repórteres da revista acompanham os irmãos Villas-Boas nas viagens da Expedição Roncador-Xingu, que, nos anos 1940 e 1950, contata pela primeira vez diversas populações indígenas do noroeste do Brasil. As matérias de O Cruzeiro são as primeiras a divulgar, em grande escala, imagens de índios brasileiros. No entanto, essas populações eram mostradas como bárbaras e incivilizadas, sendo sua imagem incompatível com a ideologia do progresso.2 Uma das fotos mais conhecidas de José Medeiros, realizada enquanto acompanha os irmãos Villas-Boas, em 1949, mostra um índio empurrando um avião. A foto posada torna-se um emblema do contraste entre o "moderno" e o "selvagem".

Assim como outros fotojornalistas de O Cruzeiro, José Medeiros conquista grande popularidade pela sua atuação no periódico. A publicação tem grande alcance nacional e promove a idéia do repórter fotográfico como um herói que enfrenta inúmeras dificuldades para revelar ao público as faces ainda desconhecidas do país.

O fotógrafo húngaro Robert Capa (1913-1954) costuma dizer que se uma foto não é boa é porque o operador da câmera não estava perto o suficiente da cena. As imagens de Medeiros parecem feitas sob essa orientação, pois mostram que ele não é um espectador distanciado das situações que registra. Medeiros opta pela discrição e, com isso, consegue se inserir nas cenas, fotografando as pessoas à vontade, muitas vezes em momentos íntimos. Ele é um dos primeiros repórteres a adotar a câmera alemã de 35mm Leica em O Cruzeiro, o que confere agilidade ao seu trabalho e, conseqüentemente, espontaneidade às fotos.

Medeiros privilegia a clareza da informação em relação às possibilidades formalistas de composição (pontos de vista angulosos e fotos que lembram abstrações, por exemplo). Em busca de imagens que denotem naturalidade, opta quase sempre pela luz ambiente e por tomadas feitas à altura dos olhos. Foca sua atenção nas pessoas, sejam elas famosas ou personagens anônimos das ruas. Medeiros se concentra em seus gestos, expressões e movimentos, raramente se preocupando em registrá-las junto de objetos ou de cenários que revelassem sua personalidade.

Assim como o fotógrafo alemão Erich Salomon (1986-1944) que, nos anos 1920, é conhecido por ser um dos primeiros a fotografar chefes de Estado em situações não posadas e não protocolares, Medeiros investe na desmistificação de personalidades públicas. É o que se percebe na seqüência feita em 1959, em que mostra o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) comendo manga em um almoço em Brasília.

Notas

1. COSTA, Helouise. Aprenda a ver as coisas. Fotojornalismo e modernidade na revista O Cruzeiro. Dissertação (Mestrado em Artes) - Universidade de São Paulo. São Paulo, 1992.

2. Idem.

Obras 12

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Exposições 52

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Fontes de pesquisa 11

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  • CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 3. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1993.
  • COSTA, Helouise. Aprenda a ver as coisas. Fotojornalismo e modernidade na revista O Cruzeiro. 1992. 191 f. Dissertação (Mestrado em Artes) - Universidade de São Paulo. São Paulo, 1992.
  • FERNANDES JUNIOR, Rubens. Um olhar moderno e instigante. IrisFoto, São Paulo, n. 440, p. 12, nov. /dez. 1990.
  • FERNANDES JÚNIOR, Rubens. Labirinto e identidades: panorama da fotografia no Brasil [1946-1998]. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
  • Ipeagro. Disponível em: [http://www.ipeafro.org.br/home/br/acoes/32/41/acervo-ipeafro-man/]. Acesso em: 19/09/2011.
  • MEDEIROS, José. 50 anos de fotografia. Rio de Janeiro: Funarte, 1986.
  • MEDEIROS, José. José Medeiros. Curadoria Rubens Fernandes Júnior. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1997.
  • PAIVA, Joaquim (org.). Visões e alumbramentos: fotografia brasileira contemporânea na coleção Joaquim Paiva. Versão em inglês Katica Szabó, Laura Ferrari. São Paulo: BrasilConnects Cultura & Ecologia, 2002.
  • PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução da fotorreportagem. Rio de Janeiro: Dazibao, 1991.
  • POESIA com luz brasileira. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 dez. 1986. Caderno 2, p. 7.
  • VASQUEZ, Pedro. Testemunha ocular: a morte de José Medeiros, pai do fotojornalismo brasileiro. IstoÉ Senhor, São Paulo, n. 1096, p. 86-87, 19 set. 1990.

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