Performance
![Pelo bilro e pelo espinho, 2020 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2024/07/2845_641676.jpg)
Pelo Bilro e pelo Espinho, 2020
Jucelia Silva
Texto
Definição
Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, a performance liga-se ao happening (os dois termos aparecem em diversas ocasiões como sinônimos), sendo que neste o espectador participa da cena proposta pelo artista, enquanto na performance, de modo geral, não há participação do público. A performance deve ser compreendida a partir dos desenvolvimentos da arte pop, do minimalismo e da arte conceitual, que tomam a cena artística nas décadas de 1960 e 1970. A arte contemporânea, põe em cheque os enquadramentos sociais e artísticos do modernismo, abrindo-se a experiências culturais díspares. Nesse contexto, instalações, happenings e performances são amplamente realizados, sinalizando um certo espírito das novas orientações da arte: as tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo, à natureza e à realidade urbana. Cada vez mais as obras articulam diferentes modalidades de arte - dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. - desafiando as classificações habituais e colocando em questão a própria definição de arte. As relações entre arte e vida cotidiana, assim como o rompimento das barreiras entre arte e não-arte constituem preocupações centrais para a performance (e para parte considerável das vertentes contemporâneas, por exemplo arte ambiente, arte pública, arte processual, arte conceitual, land art, etc.), o que permite flagrar sua filiação às experiências realizadas pelos surrealistas e sobretudo pelos dadaístas.
As performances conhecem inflexões distintas no interior do grupo Fluxus. As exibições organizadas por Georges Maciunas (1931-1978), entre 1961 e 1963, dão uma projeção inédita a essa nova forma de arte. Os experimentos de Nam June Paik (1932-2006), assim como os de John Cage (1912-1992) - por exemplo, Theather Piece # 1, 1952 -, que associam performance, música, vídeo e televisão, estão comprometidos com a exploração de sons e ruídos tirados do cotidiano, desenhando claramente o projeto do Fluxus de romper as barreiras entre arte/não-arte. O nome de Joseph Beuys (1921-1986) liga-se também ao grupo e à realização de performances - nome que ele recusava, preferindo o termo "ação" - que se particularizam pelas conexões que estabelecem com um universo mitológico, mágico e espiritual.
Trabalhos muito diferentes entre si, realizados entre 1960 e 1970, aparecem descritos como performances, o que chama a atenção para as dificuldades de delimitar os contornos específicos dessa modalidade de arte. Por exemplo, em contexto anglo-saxão, Gilbert & George (Gilbert Proesch, 1943, e George Passmore, 1942) conferem novo caráter às performances utilizando-se do conceito de escultura viva e da fotografia que pretende rivalizar com a pintura. Uma ênfase maior no aspecto ritualístico da performance é o objetivo das intervenções do grupo de Viena, o Actionismus, que reúne Rudolf Schwarzkogler (1941-1969), Günther Brüs (1938), Herman Nitsch (1938) e outros. Um diálogo mais decidido entre performance e a body art pode ser observado em trabalhos de Bruce Nauman (1941), Schwarzkogler e Vito Acconci (1940-2017). As performances de Acconci são emblemáticas dessa junção: em Trappings (1971), por exemplo, o artista leva horas vestindo o seu pênis com roupas de bonecas e conversando com ele. Em Seedbed (1970), masturba-se ininterruptamente.
No Brasil, Flávio de Carvalho (1899-1973), foi um pioneiro nas performances a partir de meados dos anos de 1950 (por exemplo a relatada no livro Experiência nº 2). O Grupo Rex, criado em São Paulo por Wesley Duke Lee (1931-2010), Nelson Leirner (1932), Carlos Fajardo (1941), José Resende (1945), Frederico Nasser (1945), entre outros, realiza uma série de happenings, por exemplo, o concebido por Wesley Duke Lee, em 1963 no João Sebastião Bar (alguns críticos apontam parentescos entre o Grupo Rex e o movimento Fluxus). A produção de Hélio Oiticica (1937-1980) dos anos de 1960 - por exemplo os Parangolés - guardam relação com a performance, por sua ênfase na execução e no "comportamento-corpo", como define o artista. Nos anos 1970, chama a atenção as propostas de Hudinilson Jr. (1957-2013). Na década seguinte, devemos mencionar as Eletro performances, espetáculos multimídia concebidos por Guto Lacaz (1948).
Obras 5
Fontes de pesquisa 4
- ARCHER, Michael. Art since 1960. London, Thames and Hudson, 1997, 224 p.il. p&b. color.
- CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- SANDLER, Irving. Art of the postmodern era: from the late 1960's to the early 1990's. New York: Icon, 1996. 636 p., il. p&b.
- VETTESE, Angela. Capire l'Arte contemporanea, dal 1945 ad oggi. Torino: Umberto Allemandi & C., 1996, 327 p.il. p&b. color.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
PERFORMANCE.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo3646/performance. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7