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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Fluxus

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.02.2015
"Fluxus não foi um momento na história ou um movimento artístico. É um modo de fazer coisas [...], uma forma de viver e morrer", com essas palavras o artista americano Dick Higgins (1938-1998) define o movimento, enfatizando seu principal traço. Menos que um estilo, um conjunto de procedimentos, um grupo específico ou uma coleção de objetos, o m...

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Definição
"Fluxus não foi um momento na história ou um movimento artístico. É um modo de fazer coisas [...], uma forma de viver e morrer", com essas palavras o artista americano Dick Higgins (1938-1998) define o movimento, enfatizando seu principal traço. Menos que um estilo, um conjunto de procedimentos, um grupo específico ou uma coleção de objetos, o movimento fluxus traduz uma atitude diante do mundo, do fazer artístico e da cultura que se manifesta nas mais diversas formas de arte: música, dança, teatro, artes visuais, poesia, vídeo, fotografia e outras. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, em 1962, e a George Maciunas (1931-1978), artista lituano radicado nos Estados Unidos, que batiza o movimento com uma palavra de origem latina, fluxu, que significa fluxo, movimento, escoamento. O termo, originalmente criado para dar título a uma publicação de arte de vanguarda, passa a caracterizar uma série de performances organizadas por Maciunas na Europa, entre 1961 e 1963. São elas que estão na raiz de festivais - os Festum Fluxorum - realizados em Copenhague, Paris, Düsseldorf, Amsterdã e Nice. De feitio internacional, interdisciplinar e plural do ponto de vista das artes, Fluxus mobiliza artistas na França - Ben Vautier (1935) e R. Filiou; Estados Unidos - Higgins, Robert Watts (1923-1988), George Brecht (1926), Yoko Ono (1933); Japão - Shigeko Kubota (1937), Takato Saito; países nórdicos - E. Andersen, Per Kirkeby (1938); e Alemanha - Wolf Vostell (1932-1998), Joseph Beuys (1912-1986), Nam June Paik (1932-2006).

As músicas de John Cage e Paik, comprometidas com a exploração de sons e ruídos tirados do cotidiano, têm lugar central na definição da atitude artística do Fluxus. Trata-se de romper as barreiras entre arte e não arte, dirigindo a criação artística às coisas do mundo, seja à natureza, seja à realidade urbana, seja ao mundo da tecnologia. Além da música experimental, as principais fontes do movimento podem ser encontradas num certo espírito anárquico de contestação que caracteriza o dadaísmo, nos ready-mades de Marcel Duchamp (1887-1968) e em sua crítica à institucionalização da arte, e na action painting de Jackson Pollock (1912-1956), com ênfase no processo de criação ancorado no gesto e na ação. As performances e os happenings, amplamente realizados pelos artistas ligados ao Fluxus, remetem a uma vigorosa tendência da arte norte-americana de fins dos anos 1950, por exemplo, aos trabalhos de Robert Rauschenberg (1925-2008) ligados ao teatro e à dança; às esculturas junk de David Smith e Richard Peter Stankiewicz (1922-1983), feitas da combinação de refugos e materiais descartáveis; e aos eventos de Allan Kaprow (1927), aluno de Cage em cursos em que o compositor combina idéias de Duchamp e Artaud com a filosofia zen-budista. As realizações do Fluxus justapõem não apenas objetos, mas também sons, movimentos e luzes num apelo simultâneo aos sentidos da visão, olfato, audição e tato. O espectador é convocado a participar dos espetáculos experimentais, em geral, descontínuos, sem foco definido, não-verbais e sem seqüência previamente estabelecida. Em 1957, Cage define a direção das novas produções artísticas: "Para onde vamos a partir de agora? Em direção ao teatro. Essa arte, mais que a música, liga-se à natureza. Temos olhos, assim como ouvidos, e é nossa tarefa utilizá-los".

As performances conhecem inflexões distintas, podendo adquirir tom minimalista ou acento mais teatral e provocador. Aquelas concebidas por Beuys na Alemanha se particularizam pelas conexões que estabelecem com um universo mitológico, mágico e espiritual. Nelas chamam atenção o uso freqüente de animais - por exemplo, as lebres em The Chief - Fluxus Chant, 1963, Copenhague -, a ênfase nas ações que conferem sentidos aos objetos e o uso de sons e ruídos de todos os tipos, num apelo às experiências anteriores à linguagem articulada e ao reino dos instintos que os animais representam.

No Brasil, alguns críticos apontam parentescos entre o Grupo Rex, criado em São Paulo por Wesley Duke Lee (1931-2010), Nelson Leirner (1932), Geraldo de Barros (1923- 1998), Carlos Fajardo (1941), José Resende (1945) e Frederico Nasser (1945), com o movimento fluxus. Integrantes do Fluxus estiveram presentes na 17ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1983, e têm uma ala dedicada à exposição de obras e documentos do grupo.

Fontes de pesquisa 7

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  • BALCON DE LAS ARTES, LAS LETRAS E IDEAS. Madrid: Balcon Internacional Editore, n. 4, verano 1989.
  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • FINEBERG, J. Art since 1940 - strategies of being. New York: Harry N. Abrams, Inc., Publishers, 1995.
  • FRIEDMAN, K. The Fluxus Reader. Wiley & Sons, Inc., 1998.
  • SALLES, Evandro (coord.). O Que é Fluxus? O que não é! O porquê. Curadoria John Hendricks; texto Arthur C. Danto. Brasília: CCBB, 2002.
  • SMITH, O. F. Fluxus, the history of an attitude. San Diego: San Diego University Press, 1998.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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