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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Lúcia Gomes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.05.2023
1966 Brasil / Pará / Belém
Edna Lúcia Gomes e Silva (Belém, Pará, 1966). Artista plástica, performer. Destaca-se pela atuação política por meio de obras participativas e performances de denúncia dos abusos de poder. A participação do público é essencial em suas obras e os diálogos, brincadeiras e intervenções são utilizados como forma de diálogo sobre as questões sociais ...

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Edna Lúcia Gomes e Silva (Belém, Pará, 1966). Artista plástica, performer. Destaca-se pela atuação política por meio de obras participativas e performances de denúncia dos abusos de poder. A participação do público é essencial em suas obras e os diálogos, brincadeiras e intervenções são utilizados como forma de diálogo sobre as questões sociais observadas atentamente pela artista. 

Formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), sua relação com as artes começa na infância: já no ensino fundamental é questionada por sua professora de artes se é ela mesma quem produz seus desenhos, devido à qualidade técnica que lhes aplica, mesmo sem ter aprendido formalmente. Aos treze anos começa a militância contra a ditadura militar (1964-1985)1, se aproximando dos artistas gráficos em prol da (re)democratização.

Participa ainda jovem da oficina FotoAtiva, ministrada pelo fotógrafo Miguel Chikaoka (1950), em Belém, e de oficinas de xilogravura, reciclagem artística e fotografia na Fundação Curro Velho, mais tarde chamada de Fundação Cultural do Estado do Pará. Em 1996, é convidada a realizar sua primeira individual na Galeria João Pinto, em Belém, intitulada “Inflorescência”. Os trabalhos expostos mesclam aquarela, gravura e técnica mista. Desde então, fica conhecida por utilizar a arte para debater questões sociais da região, além de convidar o público a interagir e refletir sobre pautas contemporâneas e o papel da arte como veículo propulsor de tais debates.

Exemplo disso é a intervenção Olhar de Vivó (2003), realizada na Praça Miguel Ferreira Godim, em Colares, Pará. A artista utiliza como pano de fundo a lenda regional sobre uma entidade-cobra adormecida que vive embaixo da ilha e que, ao despertar e mirar a ilha, garante à população prosperidade ou destruição. A partir do conto, ela recolhe e corta inúmeros pedaços de madeira, resultados das queimadas, deixando-os expostos no centro da cidade, ao lado do cemitério. A exposição é realizada com o fomento da bolsa de pesquisa, experimentação e criação artística do Instituto de Artes do Pará (IAP).

No mesmo ano, realiza a intervenção Sanitário ou santuário? Salão das águas ou Pororoca. Nela, a artista transporta o barco pesqueiro denominado Belém do Pará/Boto Branco para o aterro sanitário Lixão de Aurá, em Belém, onde o barco fica entulhado em um morro de lixo. Ao mesmo tempo em que denuncia a miséria e pobreza em que milhares de pessoas vivem, ela faz refletir sobre a enorme quantidade de lixo que os seres humanos produzem. Ao anoitecer, em meio a tal cenário, um concerto musical ocorre com quatro músicos vestidos em trajes de gala e, ao final do espetáculo, é servido beiju – alimento feito com farinha de mandioca, uma das principais fontes alimentares da região – aos espectadores e trabalhadores. A intervenção se completa com a ação da artista repartindo tal alimento em pleno lixão, demonstrando o desperdício alimentar e, ao mesmo tempo, a falta de acesso à cultura para pessoas que trabalham em locais como esse.

Beijus são protagonistas também da intervenção Amai-vos (2004), na Galeria Municipal de Artes, em Belém, Pará. O título da ação é inscrito nas iguarias com tinta vermelha comestível, abordando a importância da partilha como valor da humanidade.

A participação do público é emblemática na intervenção Pipaz: a ação ocorre no município de Colares, Pará, e no 25º Salão Arte Pará, em Belém, em 2005 e 2006 respectivamente. A artista convida as pessoas a empinar pipas em manhãs ensolaradas. As pipas trazem a grafia das letras que formam a palavra “paz” e, articulando brincadeira com política, as pessoas se veem como agentes da intervenção. Algo visto como corriqueiro e juvenil é utilizado para dialogar sobre política e o papel da arte.

A artista retoma explicitamente a questão da ditadura em suas obras. A performance Pelo julgamento dos golpistas e torturadores de 64-85 (2019) é selecionada para o 38º Salão Arte Pará. A obra conta com fotografias e vídeos nos quais a artista utiliza as vestimentas da marujada, manifestação cultural que ocorre em Quatipuru, Pará. Na festividade, os participantes usam roupas brancas e vermelhas, celebrando, cantando e dançando em homenagem ao padroeiro São Benedito. Todavia, a artista produz um traje totalmente preto e sua performance é silenciosa a fim de representar a densidade, o terror e o silêncio de tal período histórico. A crítica recai sobre a impunidade propagada pelo Estado brasileiro e a absolvição de torturadores e militares pela Lei da Anistia (1979).

Em 2021, a artista realiza a mostra “Viva a democracia” ao inaugurar a galeria Direitos Humanos no pátio de sua casa, em Quatipuru, Pará, como resultado do Prêmio de Reconhecimento concedido pela Lei Aldir Blanc. O título completo em si já é uma performance: PAM barará pá TUM! PAM barará pá TUM! PAM barará! PAM barará! PAM barará pá TCHÍÍ! Bacalhau, presente! Cerveja, presente! Vinho, presente! Picanha, presente! Leite condensado, presente! Voltem para os quartéis! Viva a democracia!, um chamado cívico e pela cidadania. A exposição representa os anseios da artista em meio ao cenário político turbulento do Brasil.

Com uma carreira consolidada, Lúcia Gomes desloca as fronteiras dos significados da arte na contemporaneidade e, com um olhar sensível e profundamente crítico, convoca a relembrar que a arte não está deslocada das questões sociais, antes ela nos serve de lente e ação para construir um mundo mais democrático para todos. 

 

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

 

Exposições 14

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