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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

José Francisco Filho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
10.10.1947 Brasil / Pernambuco / Recife
José Francisco de Paula Cavalcanti Filho (Recife, Pernambuco, 1947). Diretor e professor. Desde 1970, realiza encenações de textos clássicos e contemporâneos. Tem se dedicado também ao teatro para a infância e a juventude. Sua versatilidade o faz transitar entre o trágico e o cômico com desenvoltura, mas são suas experimentações com a comicidade...

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Biografia

José Francisco de Paula Cavalcanti Filho (Recife, Pernambuco, 1947). Diretor e professor. Desde 1970, realiza encenações de textos clássicos e contemporâneos. Tem se dedicado também ao teatro para a infância e a juventude. Sua versatilidade o faz transitar entre o trágico e o cômico com desenvoltura, mas são suas experimentações com a comicidade que o notabilizam como encenador. 

Como aluno ouvinte, José Francisco Filho frequenta o Curso de Arte Dramática, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entre 1965 e 1967. Começa a trabalhar como diretor no grupo de teatro do Sindicato dos Bancários, para o qual encena o cordel O Homem que Comeu o Boi de Minas e o Tarado de Moreno, em 1968. A partir desse espetáculo, Benjamin Santos, um dos integrantes do Teatro Popular do Nordeste (TPN), convida-o a acompanhar os ensaios do grupo. Em 1970, no TPN, faz assistência de direção para José Pimentel (1934), no espetáculo Buuum, composto de duas peças: Auto do Salão do Automóvel, de Osman Lins (1924-1978), e Enquanto Não Arrebenta a Derradeira Explosão, de José Bezerra Filho.

Gradua-se em comunicação social, com habilitação em relações públicas, pela Escola Superior de Relações Públicas (Esurp), onde estuda entre 1967 e 1970. A partir de 1980 se torna professor da UFPE, em que coordena o Curso de Formação do Ator (CFA), de 1981 a 1985.

Em 1972, é convidado a assumir a direção do Teatro da Universidade Católica de Pernambuco (Tucap). Nesse grupo, seu primeiro espetáculo é Torturas de um Coração ou Em Boca Fechada Não Entra Mosquito, texto de Ariano Suassuna (1927-2014). Também em 1972, dirige A Revolta dos Brinquedos, de Pernambuco de Oliveira (1922-1983) e Pedro Veiga, voltado ao público infantil, para o qual o diretor realiza vários trabalhos em sua trajetória. Monta Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, em 1973; encena Os Escolhidos, de Hilda Hilst (1930 - 2004), para o Tucap, um ano depois; e A Barca d'Ajuda, de Benjamin Santos, em 1975.

José Francisco Filho passa a coordenar, em 1975, o Grupo Expressão, da Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire), ligada às Irmãs Dorotéias. O primeiro espetáculo é Como Revisar o Marido Oscar, de Oraci Gemba. Volta a dirigir uma tragédia, Hipólito, de Eurípides, em 1976. Nessa montagem, o encenador faz uma leitura política em vez de priorizar a questão do amor. Propõe uma metáfora de libertação de um jugo opressor por intermédio de uma rede de pescar tubarão que serve de prisão aos atores, instaurando um clima claustrofóbico. No ano seguinte, monta Putz, a Menina que Buscava o Sol, de Maria Helena Kühner (1933), e O Suplício de Frei Caneca, de Cláudio Aguiar. Esse personagem emblemático da história pernambucana sai "do puramente histórico, vai do dramático ao burlesco, do trágico ao cômico, do narrativo ao participante, numa trajetória que impõe uma personalidade cênica, sem perder a sua identidade com um todo criativo. As coisas funcionam em gêneros diferentes mas com uma harmonia de sequências felizes, numa demonstração clara e evidente de uma direção cênica segura e amadurecida, sobretudo consciente em todos os instantes"1, como assinala o crítico teatral Valdi Coutinho.

Dirige Cordel 3, coletânea de três folhetos de cordel, com produção do Teatro da Criança do Recife, de Paulo de Castro, para inaugurar a Sala Clênio Wanderley, na Casa da Cultura, em 1977. Em 1978, dirige João, Amor e Maria, de Hermínio Bello de Carvalho, para o Grupo Expressão da Fafire. Com esse espetáculo encerram-se as atividades do grupo.

A Viola do Diabo, de Ladjane Bandeira, é encenada por ele, em 1979, em uma coprodução do Teatro Experimental de Olinda com a Aquarius Produções Artísticas. Francisco Filho dirige, nesse mesmo ano, Cordélia Brasil, de Antônio Bivar (1939), para a estreia da Skene Produções Artísticas, tendo à frente a atriz-produtora Suzana Costa, e faz o espetáculo de dança-teatro Variações em Quatro, para o Grupo Trampolim, com textos de Clarice Lispector (1920-1977), Thiago de Mello (1926) e Pablo Neruda, e coreografias de Mônica Japiassu (1941). Funda sua companhia, a Circus Produções Artísticas, em 1980, estreando o espetáculo para crianças e adolescentes Vamos Jogar o Jogo do Jogo, de Antônio Fernando Bezerra. Encena Hoje a Banda Não Sai, de Severino M. Tavares, em 1981 e, no ano seguinte, monta a adaptação do cordel O Macaco Misterioso, ambos com o grupo Corpo & Cena, do Sindicato dos Bancários. É convidado, em 1982, a dirigir o Grupo Cênico da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), no Recife, que estreia com O Apocalipse ou o Capeta de Caruaru, de Aldomar Conrado (1936).

A convite do Grupo Oficial do Teatro Santa Roza, de João Pessoa, dirige A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca (1898-1936), em 1983. No mesmo ano, realiza Patética, de João Ribeiro Chaves Neto, com a Remo Produções, de Paula de Renor (1959). Para Valdi Coutinho, "Patética [...] é um espetáculo forte, denso, vigoroso, cheio de momentos expressivos, muito mais para pensar do que para chorar. Deve ser visto"2.

Com produção de Paulo de Castro e Jorge Jamel, dirige O Beijo da Mulher Aranha, de Manuel Puig, em 1985, e Há Vagas para Moças de Fino Trato, de Alcione Araújo (1945-2012), para o Grupo de Teatro da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Em setembro de 1986, estreia O Deus Nos Acuda, de Bráulio Pedroso (1931-1990), com realização da Remo Produções. A montagem é elogiada pela crítica, que a considera um besteirol benfeito: "O espetáculo flui suavemente, cheio de invenções curiosas, como o estúdio de som, com locutor e tudo; como o recanto da sonoplastia, à esquerda do proscênio; como a visão de camarins e banheiros. O próprio avesso da TV. Nisso tudo o diretor José Francisco Filho foi feliz, certamente com o auxílio da competência de Beto Diniz (1953-1989), que assinou cenários e figurinos, conseguindo transmitir à plateia o sentido exato de sua criação direcional"3.

Para a Aquarius Produções Artísticas, realiza Viva a Rainha do Rádio, de Bóris Trindade, em 1988. Sobre sua direção nesse espetáculo, Enéas Alvarez comenta que o diretor teve um enorme trabalho para polir o texto, cheio de arestas, até obter uma fluidez cinematográfica em que se destaca o tempo-ritmo imposto pela encenação. Apesar de considerar o besteirol um gênero menor, o crítico conclui que o espetáculo "resultou numa montagem interessante, cheia de bom humor, malícia e criatividade"4.

Ainda com a Remo Produções, José Francisco Filho apresenta um dos maiores sucessos do teatro pernambucano: a montagem de Salto Alto, de Mario Prata (1946), em 1990. Para Ivana Moura, do Diario de Pernambuco, o espetáculo é para divertir, sem medo do grotesco: "Pornofônico, engraçado, leve, sutil, escrachado, tragicômico. [...]. O inconformismo dos anos 1960 ganha o tom dos anos 1980, na busca de novos caminhos para o próprio teatro. A encenação francisquiana mistura técnicas da interpretação dos atores ao espetáculo como um todo. Chanchada, teatro de revista, show transformista. Salto Alto se torna uma brincadeira em que os atores, na sua seriedade profissional, buscam e conseguem atingir o riso do espectador".5

Em 1997, José Francisco Filho dirige Castro Alves do Brasil, roteiro de Rubem Rocha Filho (1939-2008), que se utiliza de poemas e outros textos do romântico baiano. A encenação, com cenários de João Denys (1957), privilegia a indignação e a luta do poeta pela libertação dos escravos e sua paixão por Eugênia Câmara, atriz portuguesa que conhece no Recife, quando vem estudar na Faculdade de Direito. A produção é da G.M. Entertainment, de George Meireles. Para essa mesma produtora, dirige, em 1998, um dos clássicos da dramaturgia mundial, a comédia O Avarento, de Molière, que tem cenários e figurinos assinados por Marcondes Lima.

Francisco Filho dirige dois espetáculos que ganham destaque na imprensa local em 2008: Anjos de Fogo e Gelo, texto de Moisés Neto, com base na vida e obra dos poetas Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, com produção da Rainbow Produções e Eventos; e Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde (1949), pela Trupe do Barulho, grupo especializado em comédias escrachadas. No 6º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, em 2009, apresenta uma nova versão de A Revolta dos Brinquedos.

Além de trabalhar como encenador, José Francisco Filho atua intensamente na formação de grupos de teatro e na consolidação de entidades de classe, a exemplo da Federação de Teatro Amador de Pernambuco (Feteape) e da Associação dos Produtores de Teatro de Pernambuco (Apatedepe).

Em entrevista à atriz e pesquisadora Lúcia Machado, o crítico Valdi Coutinho observa que "José Francisco é, sobretudo, um homem meticuloso, cuidadoso com os aspectos da cena, com as marcações. Os seus espetáculos são muito bem marcados, esquadrinhados, muito bem dirigidos".6

Notas

1 COUTINHO, Valdi. Frei Caneca: trabalho teatral de bom nível. Diario de Pernambuco, Recife, 1977. Viver, [s. p.]. [Arquivo pessoal de José Francisco Filho].

2 ___________. Patética: para pensar. Diario de Pernambuco, Recife, 19 nov. 1983. Viver, p. B-8.

3 ALVAREZ, Enéas. O Deus nos acuda/. Crítica. Jornal do Commercio, Recife, 28 out. 1986. Caderno C, p. 5.

4 MOURA, Ivana. Salto alto: para rir e lembrar os anos 60. Diario de Pernambuco, Recife, 29 out. 1990. Cidade, p. A-8.

5 ALVAREZ, Enéas. Viva a rainha do rádio/crítica. Jornal do Commercio, Recife, 3 jan. 1988. Caderno C, p. 4.

6 COUTINHO, Valdi. Entrevista concedida a Lúcia Machado. Recife, 9 out. 1986. In: MACHADO, Lúcia. A modernidade no teatro - ali e aqui - reflexos estilhaçados. vol. III. Monografia (Especialização em Artes Cênicas). Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística, Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1986. p. 391.

Espetáculos 44

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Fontes de pesquisa 12

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  • A PLATEIA vibrou, o júri riu muito - está cotado. Jornal de São Paulo, São Paulo, [s.d. /s. p.] [Arquivo pessoal de José Francisco Filho].
  • ALVAREZ, Enéas. O Deus nos Acuda - Crítica. Jornal do Commercio, Recife, 28 out. 1986. Caderno C, p.5.
  • COUTINHO, Valdi. Comédia refinada de Salto Alto - crítica. Diario de Pernambuco, Recife, 3 nov. 1990. Viver, p. A-6.
  • COUTINHO, Valdi. Frei Caneca: Trabalho teatral de bom nível. Diario de Pernambuco, Recife, [s. p.], 1977. [Arquivo pessoal de José Francisco Filho].
  • COUTINHO, Valdi. Hoje tem espetáculo: A Viola do Diabo, de Ladjane Bandeira. Diario de Pernambuco, Recife, 20 out. 1979. Viver, p. B-1.
  • COUTINHO, Valdi. Patética: para pensar. Diario de Pernambuco, Recife, 19 nov. 1983. Viver, p. B-8.
  • CUNHA, Inês. O besteirol em cena: Texto resgata a era de ouro do rádio brasileiro. Diario de Pernambuco, Recife, 7 dez. 1988. Viver, p. A-1.
  • D'OLIVEIRA, Fernanda. No palco, girando, o cômico, o belo e o audacioso: Roda Cor de Roda. Diario de Pernambuco, Recife, 6 nov. 1986. Viver, p. A-1.
  • MACHADO, Lúcia. A Modernidade no Teatro - Ali e Aqui - Reflexos Estilhaçados. Vol. III. Monografia (Especialização em Artes Cênicas) - Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística, Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1986, p. 237-406.
  • MARCONI, Celso. Torturas do Coração. Jornal do Commercio, Recife, [s. p.], 06 jul. 1972. [Arquivo pessoal de José Francisco Filho].
  • MOURA, Ivana. Salto Alto: para rir e lembrar os anos 60. Diario de Pernambuco, Recife, 29 out. 1990. Cidade, p. A-8.
  • MOÇAS de fino trato, carência e solidão. Jornal do Commercio, Recife, 6 out. 1985. Caderno C, p. 1.

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