Pernambuco de Oliveira
Texto
Biografia
Pernambuco Gago Sacadura de Oliveira (Olinda PE 1922 - Rio de Janeiro RJ 1983). Cenógrafo, figurinista, diretor e dramaturgo. Expoente da cenografia teatral nas primeiras décadas de modernidade na dramaturgia brasileira, é também reconhecido pelo pioneirismo de seus trabalhos para televisão. Funda, no Brasil, a primeira companhia profissional de teatro infantil, para a qual escreve A Revolta dos Brinquedos.
Ainda criança, Pernambuco de Oliveira muda-se para o Rio de Janeiro com a família. Começa a frequentar a Faculdade Nacional de Direito, mas abandona o curso para dedicar-se às belas artes. Estuda desenho com Oswaldo Teixeira e pintura com Carlos Chambelland. Seus desenhos são premiados no Salão Nacional de Belas Artes, evento produzido pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), em 1945. Passa a fazer ilustrações para revistas literárias, entre elas Dom Casmurro, dirigida por Brício de Abreu. Inicia-se na arte da cenografia teatral com Edward Löeffler, cenógrafo da ópera de Berlim refugiado no Brasil, que o toma como assistente e discípulo. Pernambuco faz seu primeiro trabalho individual como cenógrafo em 1947, no espetáculo de balé Valsa das Esquinas, da série Ballet para a Juventude, que estreia no Teatro Fênix. No mesmo ano, assina cenário e figurinos do espetáculo Vestir os Nus, de Pirandello, dirigido por Adacto Filho para a CENA cooperativa de espetáculos.
Em 1947, Pernambuco é apresentado a Paschoal Carlos Magno, que, encantado com seus desenhos, convida-o a integrar o Teatro do Estudante do Brasil - TEB, sediado no Teatro Fênix. Em janeiro de 1948, estréia no espetáculo Hamlet, como cenógrafo, figurinista e também como ator, fazendo o papel de Fortinbrás. Sobre os cenários da peça, o crítico Décio de Almeida Prado comenta: "A nosso ver, têm eles duas grandes qualidades: são econômicos e funcionais. Em tons neutros, sem chamar grandemente a atenção, permitem que a ação deslize quase ininterruptamente. O sistema de diversos planos [...] parece-nos dos mais felizes para enriquecer a movimentação e facilitar a troca dos cenários".¹ Logo em seguida, protagoniza o drama histórico Inês de Castro, de Antônio Ferreira, no papel do Infante D. Pedro. Desenha o cenário e os figurinos para Macbeth, espetáculo produzido pelo TEB para o Festival Shakespeare, em 1949.
Seus cenários chamam a atenção de Bibi Ferreira, que o convida a integrar sua companhia. Projeta assim cenário e figurinos para Senhora, de José de Alencar, produção de 1949, dirigida por Chianca de Garcia no Teatro Ginástico e a primeira de uma série que realiza no grupo de Bibi. Com a companhia, viaja pelo Brasil e desempenha também a função de diretor de cena. Um ano depois, faz os cenários para a revista musicada Escândalos 1950, no Teatro Carlos Gomes. Faz cenário e figurinos para os espetáculos A Herdeira, no Teatro Fênix, e Madame Bovary, no Teatro Dulcina, em 1952.
Funda no ano de 1949, com parceria de Pedro Veiga, a primeira companhia profissional brasileira dedicada exclusivamente ao teatro infantil, chamada Teatro da Carochinha. Inicialmente encenam adaptações da obra de Monteiro Lobato e depois montam texto de autoria própria: A Revolta dos Brinquedos, uma das primeiras peças infantis escritas no Brasil, encenada frequentemente até hoje. Consecutivamente, Pernambuco organiza duas outras companhias de teatro infantil, com as quais encena peças de Lúcia Benedetti.
Na década de 1950, produz cenários e figurinos para uma série de companhias de teatro no Rio de Janeiro, entre elas a Cia. de Comédias Aimée, a Cia. Procópio Ferreira, a Cia. Dercy Gonçalves, a Cia. Eva Todor, a Cia. Milton Carneiro, a Cia. Jaime Costa e o Teatro Duse de Paschoal Carlos Magno. Em 1952, recebe a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT), como cenógrafo do ano, e estreia na direção de espetáculos, com Lázaro, no Teatro Duse, peça do então inédito Francisco Pereira da Silva. Desenha cenário e figurinos para as peças A Cantora Careca e A Lição, ambas de Eugène Ionesco e interpretadas por Luís de Lima, e para o espetáculo Santa Marta Fabril S. A., montagem de Ziembinski para texto de Abílio Pereira de Almeida, apresentada no Teatro Cacilda Becker (TCB), em 1957. Convidado por Chianca de Garcia, em 1960, participa da inauguração da cidade de Brasília, com a encenação de Alegoria das Três Capitais, em que faz a direção dos atores.
Nesse ano, em parceria com Victor Berbara, cria o Studio A, companhia homônima ao teleteatro que ambos produzem para a TV Rio. Por dois anos revezam-se na direção de espetáculos, entre eles A Baronesa, de Josué Montello, e Conheça o Seu Homem, de Henrique Pongetti.
Participa do grupo que constrói o Teatro de Arena da Guanabara, no Largo da Carioca, em 1963. Com Pedro Veiga e Orlando Miranda, em 1964, funda o Teatro Princesa Isabel, em Copacabana, cuja inauguração se dá com o espetáculo A Guerra Mais ou Menos Santa, de Mário Brasini, com direção, cenário e figurinos de Pernambuco. No decorrer dos anos, participa dos projetos de construção e reforma de uma série de outros teatros brasileiros.
Ainda em 1964, desenha cenário e figurinos para A Moral do Adultério, peça de Luís Iglésias montada pela Cia. Eva Todor, com direção de Mário Brasini. Para o Teatro dos Sete, cria o cenário de Nunca É Tarde, de Sumner Arthur Long, dirigida por Fernando Torres. Recebe a medalha de ouro da ABCT como melhor cenógrafo de 1964. No ano seguinte, cria cenários para As Feiticeiras de Salém, de Arthur Miller, e Pais Abstratos, de Pedro Bloch, ambas dirigidas por João Bethencourt. Também colabora com companhias fora do Rio de Janeiro. Para a Associação Goiana de Teatro, desenha cenário e figurinos para Macbeth, em 1965, e Bodas de Sangue, de Garcia Lorca, em 1966, ambas dirigidas por Otávio Arantes. Assina o cenário da montagem da À Margem da Vida, do Teatro Moderno de Arte de Belo Horizonte, dirigida por Haydée Bittencourt, em 1966. No ano seguinte, produz cenário e figurinos para A Tragédia de Vila Rica no Tempo de Joaquim José, adaptação de texto de Cecília Meirelles, encenada no Teatro Municipal de Ouro Preto pela Cia. Maria Fernanda.
Em 1968, Amir Haddad dirige Inspetor, Venha Correndo, no Teatro Princesa Isabel, peça escrita por Pernambuco, ao lado de Pedro Veiga, sua única incursão como autor de comédias. No ano seguinte, produz A Mulher É um Diabo, texto de Prosper Mérimée, dirigido por Olavo Saldanha, espetáculo com o qual excursiona pelo país.
Na década de 1970, continua a escrever peças para crianças. Entre 1971 e 1973, é premiado seguidamente no concurso anual de peças infantis promovido pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT), com os textos Amanhã Eu Vou, Que-pê-co-poi-sa-pá, O Cágado e a Fruta e A Guerra do Chocolate. No Teatro Dulcina, em 1974, dirige a comédia musicada Chiquinha Gonzaga, de Elza Osborne, para a qual projeta o cenário.
Seu trabalho para a televisão começa em 1950, na TV Tupi. Atua como cenógrafo, figurinista, produtor e diretor. Desenha os cenários para uma série de programas apresentados ao vivo, entre eles os teleteatros Grande Teatro Tupi e Teatrinho Troll. Cria então o primeiro curso prático de cenografia para a televisão brasileira. É contratado como cenógrafo-chefe da TV Rio em 1955, e permanece na emissora até 1959. De 1965 a 1967, trabalha na TV Continental.
Em toda sua carreira, promove regularmente palestras e cursos sobre cenografia e iluminação cênica. A partir de 1966, dá aulas de iluminação nos cursos do Conservatório Nacional de Teatro. Torna-se chefe do Departamento de Cenografia em 1969, e diretor-geral da Escola de Teatro da Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara (Fefieg), em 1973. Em 1976, chega a decano do Centro de Artes dessa federação, transformada em Universidade do Rio de Janeiro (Unirio) em 1979.
Notas
1 PRADO, Décio de Almeida. Apresentação do Teatro Brasileiro Moderno: Crítica Teatral de 1947-1955. São Paulo: Perspectiva, Coleção Estudos, 2001.
Espetáculos 145
Fontes de pesquisa 5
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil). 792.092 G932n
- OLIVEIRA, Pernambuco de. Dossiê Personalidades Artes Cênicas. Rio de Janeiro: Cedoc/Funarte.
- PRADO, Décio de Almeida. Apresentação do teatro brasileiro moderno: crítica teatral de 1947-1955. São Paulo: Perspectiva, 2001. (Estudos; 172).
- Programa do Espetáculo - Tango - 1972. Não catalogado
Como citar
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PERNAMBUCO de Oliveira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa400698/pernambuco-de-oliveira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7