Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Jorge Mautner

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
17.01.1941 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Henrique George Mautner (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941). Compositor, cantor, instrumentista, escritor, poeta, romancista, ensaísta, tradutor. Antropofágico, tropicalista e transgressor, é um artista múltiplo, cuja obra se destaca por seu aspecto inventivo, irreverente e profundamente comprometido com a miscigenação cultural, de estilos e ...

Texto

Abrir módulo

Henrique George Mautner (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941). Compositor, cantor, instrumentista, escritor, poeta, romancista, ensaísta, tradutor. Antropofágico, tropicalista e transgressor, é um artista múltiplo, cuja obra se destaca por seu aspecto inventivo, irreverente e profundamente comprometido com a miscigenação cultural, de estilos e de linguagens.

É filho de refugiados da Segunda Guerra Mundial. Em razão dos traumas que sua mãe iugoslava, Anna Illich (ca. 1914-ca. 1990), carrega por causa da guerra e dos afazeres do pai austríaco, Paul Mautner (1894-1984), que atua no Brasil na resistência judaica, fica até os sete anos sob os cuidados de sua babá Lucia, mãe de santo (Ialorixá), e frequenta os terreiros de candomblé, em meio a cânticos e batuques.

Em 1948, a separação dos pais faz com que Mautner se mude para São Paulo. A mãe se casa com o violinista Henri Müller. O padrasto, primeira viola da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal1, ensina-o a tocar violino e o leva aos bastidores dos programas da Rádio Nacional da capital paulista. Na rádio, ele tem contato com Aracy de Almeida (1914-1988), Nelson Gonçalves (1919-1998), Blecaute (1919-1983), Inezita Barroso (1925-2015), dentre outros artistas.

Nos anos 1950, período em que estuda no Colégio Dante Alighieri, escreve seu primeiro livro, Deus da chuva e da morte, que publica em 1962 e pelo qual recebe o Prêmio Jabuti de Literatura, no mesmo ano. Nesse período também produz suas primeiras composições musicais: “Iluminação”, “Olhar bestial”, “O vampiro”. Caetano Veloso (1942) ressalta que a música “O vampiro”, bem antes do movimento tropicalista, já aponta para as inovações estéticas desse movimento em meados dos anos 1960. A canção explora imagens da cultura pop e do consumo e funde elementos do rock com a música brasileira. Ainda segundo Caetano, na autobiografia Verdade tropical (1997), a inventividade e as ideias de Mautner foram determinantes para os tropicalistas consolidarem sua oposição à esquerda nacionalista dominante na MPB da época.

Mautner lança o Partido do Kaos e, de 1963 até o golpe militar de 1964, publica coluna diária no jornal Última Hora intitulada “Bilhetes do Kaos”. Nela, comenta sua visão de mundo baseada na trilogia sexo, sangue e futebol. Em 1963, lança seu segundo livro, Kaos. Adere ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), convidado pelo crítico Mario Schenberg (1914-1990) para participar de uma célula cultural do Comitê Central com José Roberto Aguilar (1941). Em 1965, publica os livros Narciso em tarde cinza e O vigarista Jorge – que, apesar do título, não é autobiográfico –, encerrando a Trilogia do Kaos.

No ano seguinte, grava um compacto contendo as canções “Radioatividade” e “Não, não, não”. O conteúdo provocador de sua obra o leva a ser incluído na Lei de Segurança Nacional. Exila-se nos Estados Unidos e, em 1967, trabalha com o escritor americano Robert Lowell (1917-1977). Conhece Paul Goodman (1911-1972), teólogo da nova esquerda do anarquismo pacifista, de quem recebe influências sobre ecologia. Escreve músicas em parceria com a compositora e pianista Carla Bley (1936-2023), entre as quais “Olhos de gato”.

De volta ao Brasil, em 1968, trabalha no filme de Neville D’Almeida (1941), Jardim de guerra, escrevendo roteiro e argumento. O filme é censurado e filmado em Londres, em 1970, com participação de Caetano Veloso e Gilberto Gil (1942). Escreve no periódico O Pasquim e inicia longa parceria musical com Nelson Jacobina (1954-2012). Entre as músicas mais conhecidas dessa parceria está “Maracatu atômico”, gravada por Gilberto Gil, em 1974, e por Chico Science (1966-1997) e Nação Zumbi, em 1996.

Participa do espetáculo musical Pra Iluminar a Cidade, montado no Teatro Opinião, Rio de Janeiro, e lança disco homônimo, em 1972. O disco é boicotado pelos lojistas, assim como seu livro Fragmentos de sabonete (1973) e seus LPs Jorge Mautner (1974) e Mil e uma noites de Bagdá (1976). Nessa mesma década, participa do show e do disco idealizado e dirigido por Jards Macalé (1943), O banquete dos mendigos (1979), ao lado de Paulinho da Viola (1942), Chico Buarque (1944) e outros artistas. O show realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em 1973, comemora os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um ato de resistência à ditadura militar2 vigente no país.

Na década seguinte, grava os discos Bomba de estrelas (1981), em parceria e participação de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, dentre outros artistas, e Antimaldito (1985). Lança, em 1987, o movimento Figa Brasil3. O manifesto do movimento proclama: “Figa Brasil é o desejo de uma alquimia que faça encontrar os que estão separados. Que faça sambar os que só escrevem, que faça escrever os que só têm sambado!”. Ao propor a discussão sobre a cultura brasileira, o compositor convida as pessoas a se reunirem para refletir e dialogar. E anuncia: “Está na hora do Macunaíma elaborar seu caráter”.

Comemora sua trajetória musical com a coletânea O ser da tempestade: 40 anos de carreira (1999) e, em 2002, o seu disco Eu não peço desculpa, em parceria com Caetano Veloso, ganha o prêmio Grammy Latino. Aos 72 anos, tem sua vida narrada no documentário, O filho do holocausto (2012), dirigido por Pedro Bial (1958) e Heitor D’Alincourt. Baseado no livro autobiográfico homônimo, conta a história de Mautner do nascimento até os 17 anos.

Com mais de uma dezena de discos lançados e uma concepção artística que nunca descansa ou se acomoda, Jorge Mautner se torna um dos nomes mais provocadores, críticos e criativos da música nacional.

Notas

1. Na década de 1940, passa a se chamar Orquestra Sinfônica Municipal.

2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

3. O manifesto do movimento Figa Brasil foi publicado no Jornal da Tarde, em 13 de março de 1987, com o título “Um caráter para Macunaíma”.

Exposições 3

Abrir módulo

Mídias (1)

Abrir módulo
Jorge Mautner - Álbum Itaú Cultural - Série +70 (2014)
Itaú Cultural

Fontes de pesquisa 5

Abrir módulo
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • O FILHO do Holocausto. Direção de Pedro Bial e Heitor D'Alincourt. Rio de Janeiro: Canal Brasil, 2012.
  • ORQUESTRA Sinfônica Municipal. Theatro Municipal. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: https://theatromunicipal.org.br/pt-br/orquestrasinfonicamunicipal/. Acesso em: 14 ago. 2023.
  • PANFLETOS da Nova Era. Site oficial do artista. Disponível em: < http://www.panfletosdanovaera.com.br >.
  • VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: