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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Jards Macalé

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.09.2024
03.03.1943 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Foto de André Seiti/Itaú Cultural

Jards Macalé, 2014

Jards Anet da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943). Compositor, cantor, violonista, arranjador, produtor musical e ator. Na infância, a mãe, pianista, e o pai, acordeonista, o levam frequentemente a concertos de música erudita. Nessas ocasiões assiste à Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por maestros como Villa-Lobos, Camargo Guarnie...

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Biografia
Jards Anet da Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943). Compositor, cantor, violonista, arranjador, produtor musical e ator. Na infância, a mãe, pianista, e o pai, acordeonista, o levam frequentemente a concertos de música erudita. Nessas ocasiões assiste à Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por maestros como Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Guerra-Peixe. O repertório que forma sua escuta é variado, inclui foxtrote, suingue, jazz, samba, marchinha carnavalesca, valsa e modinha, além do batuque dos morros e o rock'n'roll. Estuda orquestração com Guerra-Peixe, composição e violão com Jodacil Damasceno, violoncelo com Peter Daulsberg, análise musical com Esther Scliar e violão com Turíbio Santos, na Escola Pró-Arte. Na adolescência, transita pelas rádios cariocas, como a Rádio Nacional. Com Chiquinho Araújo, baterista e filho do maestro Severino Araújo, forma o conjunto musical Dois no Balanço. A proximidade com o maestro leva Macalé a trabalhar como copista da Orquestra Tabajara.

Tem sua primeira composição, Meu Mundo É Seu, em parceria com Roberto Nascimento, gravada por Elizeth Cardoso em 1964. Em 1965, é convidado pelo violonista Roberto Nascimento a substituí-lo na montagem paulistana do show Opinião. No ano seguinte, faz a direção musical do recital da cantora Maria Bethânia no Rio de Janeiro e Nara Leão grava Amo Tanto, no disco Pede Passagem. A partir de então, integra o movimento tropicalista, seja como compositor, instrumentista ou produtor, a exemplo de sua participação no disco Transa, de Caetano Veloso, gravado em Londres em 1971, com referências do reggae de Portobello Road,1 e em discos de Gal Costa, como Cultura e Civilização, no qual atua como violonista, e Legal. Na época, conhece o poeta baiano Waly Salomão, com quem compõe Vapor Barato, Anjo Eternidade, Volto pra Curtir, Revendo Amigos, Mal Secreto, Negra Melodia, um reggae precursor lançado em 1977, no momento em que o gênero ainda é pouco conhecido do público brasileiro, e Rua Real Grandeza, entre outras. Em sua obra, destaca-se a criação de trilhas sonoras para filmes de Nelson Pereira dos Santos (Amuleto de Ogum, 1973), de Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma, 1968), e de Glauber Rocha (Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, 1969), e peças como Tempo de Guerra e Arena Canta Bahia (1967).

Em 2010, o cineasta Marco Abujamra e o jornalista João Pimentel revisitam a trajetória de quatro décadas dessa personalidade controversa da música popular brasileira (MPB) com o documentário Jards Macalé, um Morcego na Porta Principal. A repercussão do filme inspira a produção do show Cine Macalé e o convite ao artista para participar da 29ª Bienal Internacional de São Paulo.

Análise
Na época dos grandes festivais de música, Jards Macalé é um dos artistas mais vaiados. Sua performance no 4º Festival Internacional da Canção da TV Globo, em outubro de 1969, interpretando Gotham City, em parceria com o poeta José Carlos Capinam, explicita a irreverência e a criatividade características de sua obra no decorrer de toda sua trajetória. A apresentação da música, uma espécie de happening alusivo ao homem morcego (Batman) das histórias em quadrinhos, provoca a audiência. Ele sobe ao palco vestido com uma bata preta estampada com grafismos psicodélicos e agressivamente canta o refrão "Cuidado, há um morcego na porta principal" - uma alegoria ao contexto de repressão política instituída pela ditadura militar na qual vive o Brasil. O arranjo do maestro Rogério Duprat, com experimentação e combinação sonoras, que funde elementos da música popular brasileira (MPB) e a erudita, bem como do pop internacional, é inovador e choca a audição mais conservadora. Assim o compositor estreia "desafiando o coro dos contentes". Gotham City, seja em relação à letra com referências à cultura pop ou à poética musical, que mistura o rock e a MPB, é um exemplo da estética tropicalista à qual ele se filia. Amigo do artista plástico Hélio Oiticica, criador da instalação Tropicália, de 1967, obra que inspira manifestações nos diversos campos da cultura, o estilo de Macalé aprofunda traços dessa poética para criar uma marca na narrativa da MPB.

Em toda sua carreira, não faz concessões ao mercado e se mantém fiel à estética tropicalista. Somam-se a isso os diversos vetos da censura impostos à sua obra pela ditadura militar nos anos 1970, a exemplo do disco Banquete dos Mendigos, de 1974. Recebe da crítica a legenda de "maldito", com a qual passa a ser identificado. Tal rótulo, segundo Macalé, revela a incompreensão de sua obra e ajuda a promover durante anos o boicote da indústria fonográfica e da mídia ao seu trabalho.

Com o primeiro disco, o compacto duplo Só Morto, gravado em 1969, ele passa a assinar nas décadas seguintes uma discografia pouco extensa, mas de muita originalidade. Suas composições evocam uma poética que se vale da experimentação e da irreverência. Sua voz sincretiza dicções do blues, da bossa nova e do samba do morro, configurando a marca singular de sua interpretação. Não menos singular é a maneira como executa o violão, às harmonias dissonantes somam-se levadas rítmicas que exploram possibilidades percussivas do instrumento. Em sua trajetória, destacam-se parcerias com Waly Salomão - com quem cria o movimento Morbeza Romântica -, Torquato Neto, Capinam, Duda, Xico Chaves, Vinicius de Moraes e Moreira da Silva, companheiro das incursões de Macalé pelo samba de breque. Entre seus intérpretes destaca-se Gal Costa com a gravação antológica de Vapor Barato, em 1971,no disco gravado ao vivo, Gal a Todo Vapor, parte da trilha sonora do filme Terra Estrangeira, 1995, de Walter Salles. Um ano depois, a canção chega às novas gerações do público na interpretação do grupo O Rappa. Nos anos 1980, sua música Gotham City é revisitada pelo pop rock nacional em gravação do grupo Camisa de Vênus.

Além dos trabalhos em disco, Macalé nos anos 1970, dedica-se à composição para o cinema, a exemplo de sua trilha para o filme Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, em 1974. Entre os efeitos dessa trilha, está a bricolagem sonora que utiliza a gravação de ruídos de um trem e sons percussivos gerados por uma bateria.

Nota
1 Caetano Veloso embarca para o exílio em Londres em meados de 1969 e convida Jards Macalé para fazer a produção de seu disco Transa. A cidade é centro da cultura pop da época, e o reggae que ecoa em Portobello Road, rua onde pulsa a cena musical e cultural, é notado por Caetano e Macalé. A faixa Nine Out of Ten faz referência direta ao reggae, sintetizado a ritmos brasileiros. Entretanto, o álbum, que segue a estética tropicalista, extrapola a experiência dessa faixa.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Exposições 2

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Mídias (1)

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Jards Macalé - Álbum Itaú Cultural - Série +70 (2013)
Itaú Cultural

Fontes de pesquisa 8

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  • ANTUNES, Alex. "Jards Macalé". In: Rolling Stone Brasil, Maio de 2010, n. 44, p.78.
  • CALADO, Carlos. Tropicália: a história de uma revolução musical. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2000.
  • CAMPOS, Augusto de. Balanço da Bossa e outras bossas. São Paulo, Perspectiva, 1993.
  • FAVARETTO, Celso. Jards Macalé. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). Música popular brasileira hoje. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002, pp. 127-129.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • PIMENTEL, João. Jards Macalé. Rio de Janeiro: Memória Visual : Folha Seca, 2007.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
  • VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997.

Como citar

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