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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Rodolpho Nanni

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.01.2024
29.11.1924 Brasil / São Paulo / São Paulo
Rodolfo Nanni (São Paulo, São Paulo, 1924). Cineasta, produtor, roteirista, montador e encenador teatral. Filho de Teresa e Henrique Nanni e primo do escultor Victor Brecheret (1894-1955), passa a infância no bairro paulistano de Pinheiros. As fitas da atriz americana Shirley Temple (1928-2014) estão entre os primeiros filmes a que o jovem Nanni...

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Biografia

Rodolfo Nanni (São Paulo, São Paulo, 1924). Cineasta, produtor, roteirista, montador e encenador teatral. Filho de Teresa e Henrique Nanni e primo do escultor Victor Brecheret (1894-1955), passa a infância no bairro paulistano de Pinheiros. As fitas da atriz americana Shirley Temple (1928-2014) estão entre os primeiros filmes a que o jovem Nanni assiste.

Começa a ter aulas de desenho com a pintora Anita Malfatti (1889-1964) em 1943. No mesmo ano, é um dos atores, ao lado de Abílio Pereira de Almeida (1906-1977) e Carlos Vergueiro (1920-1998), do Grupo de Teatro Experimental (GTE) de Alfredo Mesquita (1907-1986) que apresenta, no Teatro Municipal de São Paulo, a peça As Flores do Mal, do dramaturgo francês Henri René Lenormand (1882-1951).

Em 1948, vai para Paris estudar no Institut des Hautes Études Cinématographiques (Idhec) durante dois anos. Entre seus professores está o historiador Georges Sadoul (1904-1967). Durante o curso, escreve seu primeiro roteiro, baseado no romance Capitães de Areia (1937), de Jorge Amado (1912-2001).

De volta ao Brasil em 1950, estreia no cinema nacional fazendo a montagem do filme Aglaia, dirigido por Ruy Santos (1916-1989). O filme não chega a ser concluído e, tempos depois, Nanni é convidado por Arthur Neves, sócio do historiador Caio Prado Júnior (1907-1990) na Editora Brasiliense, para realizar O Saci (1953), fita baseada nas histórias infantis de Monteiro Lobato (1882-1948).

Após um intervalo de seis anos, Nanni retorna ao cinema com um conjunto de três documentários. O primeiro é O Drama das Secas (1958), sobre a seca na região do Nordeste brasileiro. O segundo é Realidade de um Plano (1961), produção institucional sobre o governo Carvalho Pinto (1910-1987). Os Vencedores (1968) é o último da série e nele estão retratados os diretores de filmes brasileiros que foram premiados em festivais internacionais.

Em 1971, faz para a TV Cultura de São Paulo Supermercados de Som e Imagem, uma série de programas sobre a história da música. Nesse mesmo ano, retorna ao cinema de ficção, dirigindo Cordélia, Cordélia. Leva para os palcos, em 1972, uma montagem com o mesmo título do trabalho dirigido para a TV Cultura. A peça é um espetáculo teatral multimídia que une diferentes manifestações estéticas como cinema, teatro, dança e artes plásticas.

Nos anos 1990, realiza alguns documentários em vídeo, entre os quais citamos: Acervo Artístico do Palácio Bandeirantes (1993/1994), Percurso da Arte Moderna Brasileira (1993/1994) e Tarsila (1993/1994). Volta para o sertão do Nordeste, tema de seu filme de 1959, e documenta as mudanças ocorridas na região nos últimos 50 anos no filme O Retorno (2008).

Análise

O Saci, além de ser a primeira adaptação fílmica de um texto de Monteiro Lobato, inaugura o gênero do cinema infantil nacional. A fita leva dois anos para ser produzida e chega às telas em 1953. Ruy Santos, Alex Viany (1918-1992) e Nelson Pereira dos Santos (1928) fazem parte da equipe de realização do filme.

Na cena de abertura, a música leve de Cláudio Santoro (1919-1989) acompanha a câmera que se aproxima lentamente de uma cerca branca de madeira. Ao mesmo tempo, uma voz em off trata de identificar o local, O sítio do Pica-pau Amarelo, e os personagens: Dona Benta (a vovó mais feliz do mundo por morar com seus dois netos), Lúcia (a menina do narizinho arrebitado), e Pedrinho (o menino que não tem medo de nada). Além dessas figuras há Tia Anastácia (fazedora de doces e bolinhos gostosos) e Emília (a boneca de pano que fala pelos cotovelos).

O contador da estória afirma que todos no sítio vivem felizes e em paz. Para comprovar sua afirmação, ele convida o espectador a acompanhar os acontecimentos que começam a se desenvolver diante dele. O objetivo de Nanni, nesta abertura, é semelhante ao efeito produzido pela frase inicial dos contos de fada: “Era uma vez...”. Esta expressão é a chave que indica ao leitor/ espectador que este entra agora no universo das narrativas mágicas e que é preciso aceitar o fantástico em sua totalidade para deixar-se envolver pela ação e seus personagens.

Segundo Afrânio Mendes Catani, por meio da literatura de Lobato, o filme mostra o modo de vida das fazendas e sítios brasileiros1. Nelson Pereira dos Santos, assistente de direção nesta obra, afirma que uma das qualidades de O Saci é a proximidade com a vida cotidiana e o universo popular nacional2.

Cordélia, Cordélia, baseia-se na peça No Começo é Sempre Difícil, Cordélia Brasil, Vamos Tentar Outra Vez (1968), de Antônio Bivar (1939). No filme, Rodolfo Nanni lança um olhar sobre as transformações da cidade de São Paulo no início da década de 1970. Segundo ele, a capital paulista passa, na época, por uma dinâmica desenfreada que pode levar ao caos. “Cada um de nós contribui para isso, como se estivéssemos inebriados ou mesmo embriagados”, afirma Nanni3.

Cordélia, personagem interpretada por Lilian Lemmertz (1937-1986), é uma mulher que luta contra o “torvelinho e a antropofagia de uma grande cidade e da inconsciência com que, apesar de todos os seus esforços, essa anti-heroína caminha para a própria autodestruição”4.

Meio século depois de retratar a vida dos habitantes do nordeste brasileiro em O Drama da Seca, Nanni retorna à região para descobrir o que mudou nesse espaço de tempo. Este é o tema de O Retorno.

Para os camponeses da região nada muda. Eles continuam dependendo das chuvas, que raramente caem, para sobreviver. Para José Geraldo Couto (1957), o filme se serve de sua elaborada estrutura estética, com a bela fotografia de Roberto Santos Filho (1960) e trilha sonora delicada composta por Ana Maria Kieffer (1941). Com isso, realiza uma abordagem sociológica das condições de vida dos homens pobres do sertão.

O trabalho de Kieffer mescla elementos eletroacústicos com a tradição musical nordestina. A originalidade da trilha está na escolha da água, como tema principal, para dialogar com as imagens da seca na região: “Ele [Nanni] mostra o cemitério, Ana Maria celebra a água. Se o filme retoma o problema ainda não resolvido das secas, a trilha parte de antigas cantigas de fonte, gênero de matrizes ibéricas nas quais a água funciona como metáfora da vida”5.

Notas

1 CATANI, Afrânio Mendes. A aventura industrial e o cinema paulista (1930-1955). In: Ramos, Fernão (Org.). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. p. 277.
2 SANTOS, Nelson Pereira dos. In: Ramos, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. p. 303.
3 "Cordélia", algo de todos nós. O Estado de São Paulo, 29 de agosto de 1971, p. 24.
4 BIÁFORA, Rubem. Deuses, Iemanjá, Cordélia e fita de Hawks. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 nov. 1971. p. 26.
5 MERTEN, Luiz Carlos. Reencontro com dilemas do Nordeste. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 ago. 2008. Caderno 2, p. D-13.

Obras 1

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 6

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  • BARBOSA, Neusa. Rodolfo Nanni: um realizador persistente. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004.
  • BIÁFORA, Rubem. Deuses, Iemanjá, Cordélia e fita de Hawks. O Estado de S. Paulo, São Paulo. 28 nov. 1971. p. 26.
  • CATANI, Afrânio Mendes. A aventura industrial e o cinema paulista (1930 – 1955). In: RAMOS, Fernão (Org.). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990. p. 189-297.
  • MERTEN, Luiz Carlos. Reencontro com dilemas do Nordeste. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 ago. 2008. Caderno 2, p. D-13.
  • RAMOS, Fernão. Os novos rumos do cinema brasileiro (1955-1970). In: RAMOS, Fernão. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1990.
  • SAMPAIO, João Luiz. Pesquisa propõe diálogo entre épocas. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 ago. 2008. Caderno 2, p. D - 13.

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