Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Anna Maria Kieffer

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.11.2023
28.07.1941 Brasil / São Paulo / São Paulo
Anna Maria Kieffer (São Paulo, São Paulo, 1941). Mezzo-soprano e pesquisadora. Inicia-se em piano aos sete anos na Escola de Música do Colégio Santa Marcelina com a Irmã Cecília Furtado e com Kita de Ulhoa Cintra e em canto com Magdalena Lébeis. No início dos anos 1960, na Pró-Arte - Seminários de Música, estuda com Hans-J. Koellreutter, Roberto...

Texto

Abrir módulo

Biografia

Anna Maria Kieffer (São Paulo, São Paulo, 1941). Mezzo-soprano e pesquisadora. Inicia-se em piano aos sete anos na Escola de Música do Colégio Santa Marcelina com a Irmã Cecília Furtado e com Kita de Ulhoa Cintra e em canto com Magdalena Lébeis. No início dos anos 1960, na Pró-Arte - Seminários de Música, estuda com Hans-J. Koellreutter, Roberto Schnorrenberg, Theodor Heuberger (prática de ópera) e participa dos Encontros Internacionais de Música, tendo aulas de interpretação de música medieval e renascentista com Andrea Von Ramm no Studio der Frühen  Musik1. Nesse período, segue ainda cursos com Osvaldo Lacerda (harmonia), Mario Ficarelli (repertório contemporâneo), Maria José de Carvalho (dicção e estilo), o pianista co-repetidor Erik Werba (interpretação mozartiana, Viena) e o fonoaudiólogo Raoul Husson (técnica vocal, Paris).

Aperfeiçoa-se em canto com Eladio P. Gonzalez, de 1968 a 1975, e Marcel Klass, de 1976 a 1979, e em ópera com Graziella Sciutti e Franco Iglesias. Em 1967 realiza turnês pela Europa apresentando repertório colonial brasileiro e latino americano com o Madrigal e Orquestra de Câmara de São Paulo sob a direção de George Olivier Toni. Em 1975, funda, com Thaís V. Borges, a Confraria-Conjunto de Música Antiga. Realiza o levantamento e a restauração de partituras, a busca de instrumentos originais e a divulgação das obras em publicações, palestras, concertos e discos, trabalhando tanto no Brasil quanto no exterior ao lado de instrumentistas como Edelton Gloeden (violão), Gisela Nogueira (viola de arame), Achille Picchi e Fábio Luz (piano).

Na música contemporânea, inicia a carreira como solista no Festival de Outono de Paris, com Ensaio 72 de Mário Ficarelli. De 1977 a 1981, participa dos Cursos Latino americanos de Música Contemporânea e integra o Núcleo Música Nova, sob a coordenação do compositor Conrado Silva. Desenvolve a partir daí trabalhos em colaboração com compositores, dentre os quais destacamos Cidade, Ópera Aberta, de Gilberto Mendes, além de peças de compositores como Jocy de Oliveira,  Leo Küpper, Daniel Teruggi, e realizar estreias brasileiras na presença de compositores como Dieter Schnebel e John Cage. Criar trilhas para cinema e vídeo, como em O Retorno de Rodolfo Nanni. Realizar pesquisas de repertório e compõe ambiências sonoras e trilhas para exposições e espaços culturais, como Brasil Barroco, no Petit Palais (Paris, 1999), O Brasil dos viajantes (MASP e Centro Cultural de Belém- Lisboa) e Niobe Xandó (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2007), além de curadorias, como as 18ª e 19ª edições da Bienal Internacional de São Paulo.

Participa de Festivais no Brasil e no exterior, entre os quais Nuova Consonanza (Roma, 1982), Ars Electronica (Linz, 1984), Outono de Varsóvia (1984), Centro Cultural Reyna Sofia (Madrí, 2007) e edições do Festival de Bourges. A partir da metade da década de 1990 seu trabalho é cada vez mais pautado pela concepção, direção e participação de espetáculos, gravação de CDs, além da organização de cursos, palestras, concertos e curadoria de eventos dirigidos à história da música brasileira. Sua discografia conta com mais de 20 títulos entre música antiga e contemporânea, uma grande parte gravada pelo selo Akron, que funda com Nanni em 1986. Em 1990, lança Viagem pelo Brasil, pelo selo Eldorado, com participação de Gisela Nogueira (viola de arame) e Edelton Gloeden (violão) com obras do Padre José Mauricio Nunes Garcia, Franco Manoel da Silva, Mussurunga, Candido Inácio da Silva e autores anônimos. Em 1999 grava Teatro do Descobrimento, com o violeiro Ivan Vielela e o Grupo Anima, e obras de João Zorro, Martin Codax, Padre José de Anchieta e Francisco Salinas, Gregório de Matos Guerra, antonio Madureira e Marcelo Varella.

Análise

A trajetória do trabalho de Anna Maria Kieffer se constrói pelo entrelaçamento de influências advindas da multiplicidade de experiências que vivencia e que agrega diferentes áreas do conhecimento. Se olharmos, por exemplo, sua formação como cantora, podemos constatar essa busca por eixos diferentes no desenvolvimento de seu ofício. Ela aprimora-se não apenas com cantores de formação, mas agrega outros pontos de vista vindos de pianistas co‑repetidores, regentes, fonoaudiólogos e mesmo atores e da pesquisa vocal ao lado de compositores.

Outro exemplo que demonstra claramente sua busca por transformações, rupturas, ou inovações, pode ser vista na sua participação no projeto Supermercado de Som e Imagem, de 1971, realizado no Teatro FAAP em colaboração com o diretor Rodolfo Nanni, do maestro Jamil Maluf e do compositor Rodolfo Coelho de Souza, e que a leva a ser co‑criadora de um dos primeiros espetáculos multimídia de São Paulo que abrange música, literatura, teatro, cinema e artes plásticas.

É essa liberdade tanto de referências quanto de meios de expressão que lhe permite trabalhar com áreas distintas, porém inter-relacionadas, como a improvisação musical, a colaboração e co-criação com compositores contemporâneos, a criação de trilha original para diversos meios artísticos como vídeo e cinema, a curadoria musical para exposições de arte e rádio, a direção de espetáculos musicais ou interdisciplinares, além da reconstituição histórica e artística de repertório e de instrumentos de época através do trabalho conjunto com construtores de instrumentos.

De toda essa multiplicidade, duas características permeiam todas as áreas de atuação às quais se dedica: a pesquisa histórica e a exploração criativa. A primeira se origina pelo contato com Curt Lange na Pró-Arte; a segunda, pela convivência com artistas como Maria José de Carvalho e o poeta Lindolf Bell, através dos quais é introduzida, ainda muito jovem, à comunidade artística de São Paulo (frequentada por artistas plásticos, poetas, atores.). Ali, as frequentes discussões a respeito da condição da arte contemporânea e da criação artística na atualidade vão influenciar a cantora, que transfere rapidamente para a área musical, levando-a a ser intérprete colaboradora de compositores. Na área da pesquisa, seu apreço pelo conhecimento histórico se desvela com a descoberta de 12 árias que compõe a obra Marilia de Dirceu de compositor anônimo do começo do século XIX escritas sobre poemas de Tomás Antonio Gonzaga e reproduzidas pelo musicólogo Mozart de Araújo em seu livro A Modinha e o lundu no século XVIII. Kieffer reencontra tais partituras ainda em seu período estudantil e as guarda consigo até a sua gravação, em 1985, ao lado de Edelton Gloeden e Gisela Nogueira, lançando o resultado em um disco compacto em 1994 pelo selo Akron.

Seu trabalho se torna, com o passar dos anos, cada vez mais meticuloso em termos da busca da fidelidade da interpretação da obra. Assim, durante os 9 anos no grupo Confraria, o trabalho, que no seu início não contava com instrumentos originais, acopla, com o tempo, as rabecas brasileiras. Kieffer interessa‑se igualmente pelos tratados de música de época e documentos iconográficos a fim de determinar não apenas a organologia da música antiga, como sua prática: como os instrumentos eram tocados, em qual situação social e tipo de ambiente, quais eram as técnicas instrumentais empregadas, as questões estéticas envolvidas.

Nos anos 1980, por exemplo, consegue, após encontrar e comprar uma viola de arame original do século XVIII na cidade de Tiradentes, construir uma duplicata do instrumento pelas mãos de Roberto Gomes. É a partir dessa pesquisa de luteraria e da leitura da cópia de um raro exemplar do livro Nova Arte da Viola, de Manuel da Paixão Ribeiro, adquirida por José Mindlin e cedida à instrumentista, que se desenvolve as pesquisas que desembocam, posteriormente, no álbum Marilia de Dirceu., lançado em 1989 pelo selo Eldorado.  A gravação torna-se parte de um projeto mais ambicioso concebido pela cantora e intitulado Memória Musical Brasileira: os 500 Anos, uma tentativa de interpretação do universo musical brasileiro profano e que conta com um conjunto de dez álbuns que tenta englobar manifestações musicais no Brasil entre os séculos XVI e XX e que tem, como diretriz, a reconstituição das origens do povo brasileiro através de sua música. Segundo a cantora: "Ao contrário da forma como é constantemente pensada e utilizada, a música não é apenas uma forma de entretenimento, mas sim parte construtora das culturas, veiculando e refletindo seus valores, sua visão de mundo e sua história. Daí seu valor incalculável como forma de conhecer o mundo e de estar nele. Conhecer as raízes de sua própria música é reencontrar-se diante de uma identidade nem sempre conhecida e mesmo suspeitada"2. Para tanto, realiza pesquisa não apenas baseada em fontes históricas, como atesta a utilização que faz dos cantos indígenas recolhidos por Jean de Léry, Hans Staden, José de Anchieta e Gregório de Matos, como também em campo, entrevistando pessoas ligadas a diversas colônias de imigrantes em São Paulo e apontando, assim, a riqueza do legado da tradição oral como vetor de transmissão de costumes e de práticas musicais pagãs dentro da comunidade brasileira.

Ao mesmo tempo, apesar de desenvolver uma pesquisa histórica, a cantora não é uma purista. Em seu trabalho com Küpper para a peça Ways of the voice, por exemplo, Kieffer utiliza-se do canto de rezas populares do Brasil de modo muito livre, numa experimentação vocal misturada à montagem eletroacústica.

Notas

1. Centro de Música Antiga
2. Texto de apresentação do curso Aspectos da Música Brasileira Dos Tupinambás a Eletrônica.

 

Obras 2

Abrir módulo

Espetáculos 1

Abrir módulo

Exposições 1

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: