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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Monteiro Lobato

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.11.2024
18.04.1882 Brasil / São Paulo / Taubaté
04.07.1948 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução Fotográfica Horst Merkel<br> Brasiliana Itaú/Acervo Banco Itaú

O poço do Visconde, 1937
Monteiro Lobato, Belmonte

José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, São Paulo, 1882 – São Paulo, São Paulo, 1948). Contista, editor, romancista, jornalista, crítico literário. Conhecido como o “pai” da literatura infantil brasileira, tem trajetória de destaque na história editorial do país, não apenas como autor para um público amplo, mas também como editor.

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José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, São Paulo, 1882 – São Paulo, São Paulo, 1948). Contista, editor, romancista, jornalista, crítico literário. Conhecido como o “pai” da literatura infantil brasileira, tem trajetória de destaque na história editorial do país, não apenas como autor para um público amplo, mas também como editor.

Demonstra grande interesse pelas artes desde a infância, escrevendo pequenos contos para os jornais da escola e praticando técnicas como desenho e pintura. Começa a despontar como autor em 1918, quando publica O sacy-perêrê: resultado de um inquérito, pesquisa minuciosa das origens, características e manifestações culturais do personagem do folclore brasileiro. No mesmo ano, escreve para o jornal O Estado de S. Paulo o artigo intitulado A propósito da exposição Malfatti, que ficou mais conhecido como Paranoia ou mistificação?, criticando duramente a exposição das obras da pintora Anita Malfatti (1889-1964), influenciada pelas vanguardas europeias. Na década seguinte, mantém-se crítico em relação ao movimento modernista, polemizando com escritores como Oswald de Andrade (1890-1954), seu amigo pessoal.

Em 1918, compra a Revista do Brasil e publica seu primeiro livro, Urupês, envolvendo-se em polêmicas por causa de um dos personagens, Jeca Tatu, caboclo caipira da zona rural de São Paulo representado de maneira realista em oposição à visão idealizada do homem do campo na literatura da época. Jeca aparece, nas narrativas, como um sujeito preguiçoso e avesso à civilização, sendo identificado como um problema nacional em contraponto à imagem do sertanejo de um livro como Os sertões (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909). Entretanto, ao longo das décadas, a visão do próprio autor sobre seu personagem passa por diversas transformações, culminando na obra Zé Brasil, de 1947, em que Jeca se torna um boia fria oprimido pelo latifúndio. Um dos contos de Urupês, "Os faroleiros", serve de argumento para filme homônimo dos cineastas Antônio Leite e Miguel Milano (1885-1971), em 1920.

Em 1926, escreve seu único romance, O choque das raças ou o presidente negro: romance americano do ano de 2228, ficção científica que relata a eleição de um homem negro à presidência dos Estados Unidos no ano de 2228, contemporaneamente criticada por viés racista. Morando à época no país, onde trabalha como adido cultural, Lobato pretende traduzir seu romance para o inglês, mas não encontra nenhuma editora interessada em publicá-lo. Segundo seu próprio relato, os editores estrangeiros consideram sua obra "ofensiva à dignidade americana" por tratar de temas controversos.

Lança o primeiro livro infantil, A menina do narizinho arrebitado, em 1920, história inicialmente escrita para ser publicada no jornal, mas que, devido ao sucesso de público, é transformada em livro. Nos anos seguintes, o escritor continua obtendo êxito com suas criações para jovens e crianças: segue elaborando histórias com a menina Narizinho e outros personagens, como o menino Pedrinho e a boneca Emília, criando, assim, a saga do Sítio do Pica-Pau Amarelo. São 26 títulos, dentre os quais se destacam Reinações de Narizinho (1931), As caçadas de Pedrinho (1933), Memórias da Emília (1936), Histórias de Tia Nastácia (1937) e A chave do tamanho (1942).

No Sítio do Pica-Pau Amarelo, seres humanos (Dona Benta, avó de Narizinho e Pedrinho, e a empregada Tia Nastácia) convivem com seres mágicos – a boneca falante Emília e a espiga de milho Marquês de Sabugosa. Lobato se utiliza de muitas referências culturais na elaboração dos livros infantis: mitos gregos (Hércules e Minotauro), fábulas europeias (Pinóquio), lendas brasileiras (Saci) e mesmo personagens de desenhos americanos (Gato Félix e Popeye).

Traduz e adapta para crianças obras da literatura universal como Robinson Crusoé (1719), do romancista britânico Daniel Defoe (1660-1731). O Sítio do Pica-Pau é adaptado para televisão pela primeira vez em 1952, para a TV Tupi. A série recebe mais quatro adaptações para televisão – sem contar as peças de teatro, as revistas em quadrinhos etc. O próprio autor participa da montagem de uma opereta intitulada Narizinho arrebitado, para a qual elabora um libreto em 1947.

Após fundar, em 1920, a editora Monteiro Lobato & Cia., que vai à falência em 1925, cria a Companhia Editora Nacional em sociedade com o editor Octalles Marcondes. É obrigado a vender sua participação na empresa após a quebra da bolsa  de Nova York, em 1929. Em 1946, a convite de Caio Prado Júnior (1907-1990), torna-se sócio da Editora Brasiliense. Como capital para sociedade, Lobato leva o direito de publicação de sua obra completa, tendo seus 30 títulos lançados pela editora.

Acreditando que um dos maiores motivos para a falta de leitores no Brasil é a pouca atratividade dos livros, trata-os como objeto de consumo, inovando e propondo mudanças fundamentais na produção gráfica, com capas coloridas e ilustrações de artistas famosos, e realizando campanhas publicitárias. Na Companhia Editora Nacional, aposta em novos escritores e traduz obras polêmicas, como A luta pelo petróleo, do jornalista russo Essad Bey (1905-1942).

Em 1931, funda a Companhia de Petróleo do Brasil e se dedica, nos anos seguintes, à  campanha pelo petróleo. Em 1940, recusa o convite do presidente Getúlio Vargas (1883-1954) para dirigir o Ministério de Propaganda e, no ano seguinte, é preso durante três meses por suas críticas ao governo1.

Demonstrando amplitude de interesses e desejo de participar do debate sobre questões de seu tempo, Monteiro Lobato é pioneiro na criação de um imaginário infantil propriamente brasileiro e fomenta a modernização do mercado editorial no país. Apesar de seu envolvimento em diversas polêmicas, permanece como figura de relevo na história da literatura brasileira.

Nota
1.
Durante o período do Estado Novo (1937-1945), o presidente Getúlio Vargas promove o fechamento do Congresso Nacional e extingue os partidos políticos. A imprensa e as artes sofrem censura.

Obras 62

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Espetáculos 4

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Exposições 8

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Mídias (1)

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Monteiro Lobato: virgula, ponto e virgula - Encontros, 1996
Itaú Cultural

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