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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Cláudio Santoro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.09.2024
23.11.1919 Brasil / Amazonas / Manaus
27.03.1989 Brasil / Distrito Federal / Brasília
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Cláudio Santoro, s.d.

Cláudio Franco de Sá Santoro (Manaus, Amazonas, 1919 - Brasília, Distrito Federal, 1989). Compositor, regente, violinista e professor. Em uma obra profícua e variada, experimenta diversos estilos e técnicas de composição. Sua carreira artística reflete os embates estéticos e políticos que marcam a música do século XX, opondo a vanguarda dita "bu...

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Cláudio Franco de Sá Santoro (Manaus, Amazonas, 1919 - Brasília, Distrito Federal, 1989). Compositor, regente, violinista e professor. Em uma obra profícua e variada, experimenta diversos estilos e técnicas de composição. Sua carreira artística reflete os embates estéticos e políticos que marcam a música do século XX, opondo a vanguarda dita "burguesa" ao realismo socialista e a técnica dodecafônica ao nacionalismo folclórico.

Inicia estudos de violino aos 11 anos, em sua cidade natal, Manaus. Em 1933, com uma bolsa de estudos do governo amazonense, ingressa no Conservatório de Música do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde estuda violino, harmonia e musicologia. Aos 17, já formado, torna-se professor de violino e de harmonia da instituição. Leciona por cinco anos, paralelamente à carreira de concertista e à atividade de compositor, iniciada em 1938.

Sem afiliar-se cegamente a nenhuma tendência, aproxima-se de várias delas no decorrer da vida, sempre mantendo um estilo próprio, caracterizado pela prevalência da linha melódica (atribuída pelos críticos a sua ascendência italiana e à formação violinística) e pela riqueza timbrística (fruto, segundo o próprio Santoro, de seu trabalho como orquestrador de rádio e cinema).

Em 1940, participa da fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), em que atua como primeiro violinista. No mesmo ano, passa a ter aulas com o compositor e professor alemão naturalizado brasileiro Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005), introdutor do dodecafonismo no Brasil. Esse sistema de composição influencia a música de Santoro entre os anos 1940 e 1942, época em que adere ao grupo Música Viva, formado por compositores vanguardistas, como César Guerra-Peixe (1914-1993), Edino Krieger (1928) e Eunice Katunda (1915-1990), liderados por Koellreutter. Adeptos do sistema dodecafônico, esses músicos combatem os nacionalistas seguidores das ideias de Mário de Andrade (1893-1945), cultores do folclore como matéria-prima e do contraponto como técnica de composição.

Embora os primeiros trabalhos de Santoro, já atonais, apresentem uma inclinação espontânea para o uso de séries, é somente a partir dos ensinamentos de Koellreutter que compõe segundo as regras da técnica dos 12 sons. Esta aparece na Sonata para Violino e Piano nº 1 (1940), uma de suas primeiras obras conhecidas pelo grande público. Ele não é, no entanto, um dodecafonista ortodoxo, pois mescla muitas vezes o método a uma expressividade bastante singular. Em 1941, conclui a Sinfonia nº 1, de caráter dodecafônico mais evidente.

Santoro inicia, em 1943,  a segunda fase de sua carreira, compondo música mais lírica e programática¹. Busca a simplicidade, de forma a se comunicar mais facilmente com os ouvintes, mas sem abandonar o dodecafonismo. A sinfonia Impressões de uma Usina de Aço (1943), primeiro sucesso de público, descreve o interior de uma siderúrgica, em homenagem ao desenvolvimento dessa atividade no Brasil. Também são dessa fase Quarteto nº 1 (1943), menção honrosa no concurso da Chamber Music Guild, de Washington, e a Sinfonia nº 2 (1945), uma das peças mais importantes do período. Nelas já aparecem os experimentos com timbres e a densidade contrapontística que marcam sua obra orquestral.

Com bolsa do governo francês, estuda composição e regência, em 1947, no Conservatório de Paris. Durante sua estada na Europa, participa como delegado brasileiro do Congresso dos Compositores Progressistas, ocorrido em Praga, em 1948. O evento, marcado pela polarização política da Guerra Fria, tem profundas consequências em sua obra. Seguindo à risca as determinações do Informe Jdanov², os congressistas condenam a música dodecafônica, considerada "burguesa e decadente" e propõem a utilização de técnicas simples de composição, de modo a aproximar a arte das massas. Isso afasta Santoro da vanguarda e o aproxima do nacionalismo – caminho seguido por outros compositores do Música Viva, como Guerra-Peixe e Eunice Katunda.

Mesmo que já se possa notar certo "sentimento nacional" em peças como Música para Cordas (1946), caracterizada por um "dodecafonismo nacionalista", e Sonata para Trompete e Orquestra (1946), que contém ritmos brasileiros, é a Sinfonia nº 3 (1948) que marca uma nova fase na carreira de Santoro (a fase nacionalista). As obras mais importantes dessa etapa não se baseiam diretamente no folclore nem nos recursos empregados pelos nacionalistas brasileiros: influenciado pela música soviética, o autor adota soluções próximas às de Prokofiev, mesclando o realismo socialista a colorações brasileiras. Apesar da qualidade formal de suas peças, em muitas delas o nacionalismo soa falso. Por isso, acusado de ter abandonado o folclore no período dodecafônico, é agora criticado pelo artificialismo de sua brasilidade.

De volta ao Brasil, em 1949, passa a compor para rádio e cinema, área em que se destaca e recebe diversos prêmios. Compõe para filmes como Agulha no Palheiro (1953), de Alex Viany (1918-1992), e O Saci (1953), de Rodolpho Nanni (1924). Em meados dos anos 1950, começa a atuar como regente na Europa, onde passa longas temporadas. Funda, em 1957, a Orquestra da Rádio MEC, da qual é nomeado maestro.

Em 1962, torna-se coordenador do Departamento de Música da recém-criada Universidade de Brasília (UnB). Afasta-se do cargo em 1965, por não concordar com a demissão de professores, praticada pelo governo militar. Em seguida, participa do programa artista residente em Baden-Baden, pela Casa de Brahms, e em Berlim Ocidental (1965-1967).

Ao longo dos anos 1960, retorna ao serialismo e à música de vanguarda, iniciando a quarta fase de sua carreira. A Sinfonia nº 8 (1963), obra experimental de execução bastante difícil, é um marco nesse processo. Na Alemanha, fundindo elementos da música eletrônica à pintura, ele cria os quadros Aleatórios, formados por uma parte auditiva, gravada em fita magnética, e outra visual, com pinturas de sua autoria. Com a aproximação do ouvinte, uma aparelhagem fotoelétrica gera 30 segundos de música eletroacústica. Dificuldades técnicas, contudo, impedem o prosseguimento desses experimentos. Santoro emprega recursos da música aleatória e da micropolifonia em suas composições, além de explorar contrastes de densidade e novos timbres, inclusive com o uso de clusters³. Em suas Mutações, série de peças escritas cada qual para um instrumento solista e dois gravadores, ele desmistifica os estúdios eletrônicos da Europa, provando que manipulações caseiras podem gerar efeitos sofisticados.

Na Alemanha, entre 1970 e 1978, obtém renome internacional. Leciona na Escola Superior de Música de Heildelberg e na Hochschule de Mannheim, cidade em que inicia pesquisas com música eletrônica e pintura. Novamente no Brasil, em 1978, retorna à UnB como chefe do Departamento de Artes. Em 1980, funda a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, que dirige até a morte. Compõe peças de grande envergadura, entre elas a Sinfonia nº 9. Feita em homenagem ao compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897), a obra resume todos os estilos do artista, desde o dodecafonismo até as experimentações aleatórias, passando pelo "realismo-socialista-nacionalista". Santoro ainda se aventura pela ópera, compondo Alma (1985), sobre textos de Oswald de Andrade (1890-1954).

Conhecido, sobretudo, pela escrita orquestral, com suas 14 sinfonias e inúmeras outras peças para formação orquestral, também compõe importante obra vocal, tendo escrito em várias línguas e em parceria com diversos poetas brasileiros, como Oneyda Alvarenga (1911-1984), Jorge Amado (1912-2001) e Vinicius de Moraes (1913-1980). Com Vinicius, aproxima-se da música popular.

Algumas de suas parcerias são reunidas, em 1989, no disco Tributo a Cláudio Santoro: Prelúdios e Canções de Amor, que conta com a participação do pianista Gilson Peranzzetta (1946) e dos grupos Boca Livre e Quarteto em Cy. A canção “Amor em Lágrimas” é gravada por Elizeth Cardoso (1920-1990) em 1967, pela portuguesa Eugénia Melo e Castro (1958), em 1994, e por Simone Santos, em 2003, num disco que também reúne “Luar de Meu Bem” e “Em Algum Lugar”, ambas de Santoro e Vinicius. Várias de suas composições instrumentais são arranjadas para a linguagem popular: “Ponteio” é gravada por Wagner Tiso (1945), em 1993, e por Jota Moraes (1948) e Mauro Senise (1950), em 2005, e a “Paulistana nº 1”, por Mário Adnet (1957) e Mônica Salmaso (1971), em 2006. Em parceria com Silvia Autuori, compõe músicas infantis, como “A Festa no Céu” e “A Galinha dos Ovos de Ouro”, lançadas numa série, em 78 rpm, entre 1950 e 1951.

Ao longo da carreira, recebe vários prêmios e condecorações nacionais e internacionais, entre eles o Lili Boulanger e o Berkshire Music Center, ambos em Boston, EUA. O Teatro Nacional de Brasília é batizado com seu nome, assim como o auditório da cidade de Campos do Jordão, São Paulo, em que ocorre anualmente o Festival de Inverno.

Notas

1. Chama-se programática a música que procura descrever imagens ou evocar ideias não musicais, inspirada por elementos exteriores à própria música, como textos, paisagens, obras de arte, eventos históricos. Nesse sentido, opõe-se à chamada música pura.

2. Redigido em 1948 pelo diretor do Comintern, o político soviético Andrei Jdanov, o documento define as orientações estéticas da produção cultural dos países socialistas, fundamentando-se no folclore e no jornalismo.

3. Bloco formado pela sobreposição de alturas sonoras vizinhas. No piano, esse efeito é obtido ao se tocar, com a mão espalmada ou mesmo com o braço, diversas teclas ao mesmo tempo.

 

Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • CACCIOATORE, Olga. Dicionário biográfico de música erudita brasileira. Rio: Forense Universitária, 2005. p. 384-386.
  • CLAUDIO SANTORO. Catálogo online das obras do compositor. Disponível em: <www.claudiosantoro.art.br>. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MARIZ, Vasco. Claudio Santoro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.
  • MARIZ, Vasco. Figuras da música brasileira contemporânea. Brasília: Ed. UnB, 1970. p. 69-78.

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